Carrego em mim os meus bisavôs-vós
A resistência da fome
O garotinho que aos 7 trabalhou na agricultura, na seca, e falou pra mim em tom de graça que bebeu o próprio xixi para passar a sede
Tenho em mim a resistência de um povo baixo
Adaptável
Filhos da fome
Que desconheço, porque o sistema não quer que eu saiba de nada
Ele quer que eu seja um corpo nos padrões que ele exige pra que isso seja vendido-válido
Ironia não?
Sou bisneta de Repentista, vivia de arte, que trocou os próprios filhos por uma moça, em uma época onde isso era normalizado. Penso que foi pelo bem, ele não teria conseguido alimentar 27 crianças
Crianças que nasciam para trabalhar
Lutar contra a fome
Passando muita fome
Para enriquecer poucos
Ou nenhumO meu povo quer liberdade
O nós que existe em mim pulsa ódioEu resisti
Todos eles resistiram, para que eu chegasse até esse momentoEu pude escrever
Aprendi a ler
E estou chorando porque sou o mínimo que posso ser
Pareço a versão falsa de uma ketelley verdadeira que existe em algum lugar
KETELLEY
Escrito assim
Assim sou, falsa
E tomei como profissão a arte de fingir"Sempre fui boa nisso"
Fingir que não sinto, fingir que aquela piada teve graça, fingir que gosteiE se eu falasse a verdade, ainda com pouca idade, seria julgada e fui
Porque o mundo é daqueles que mentem
Eu envelheci muito rápido
"Como desenvelhecer?" pesquisar
Sou um ramster cercado por pinshers, buscando a liberdade, eles vão brincar e me matar sem perceber, não só porque quiseram, também é o cérebro primitivo...
Tenho que proteger
Foi assim que meus eu's
Todos meus ancentrais, que estão dentro de mim,
sobreviveram até aquiPROTEÇÃO
Eles se protegem para sobreviver, lutam contra qualquer um que ousa trazer o malEstou de luto
O luto é eterno
Porque enquanto a dor existir dentro de mim
Dentro deles
Eu irei lutar.