Capítulo I

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Já haviam se passado algumas horas desde que chegaram ao Apartamentos Addison, seu novo lar. Bom, ao menos era o que deveria ser, mas Sal Fisher não chamaria aquilo nem de espelunca.

O prédio era velho, bem velho, com pichações e janelas quebradas, principalmente o último andar. As paredes tinham leves rachaduras à mostra, o que denunciava a idade já avançada do edifício ou, na pior das hipóteses, uma péssima fiscalização estrutural.

O garoto de madeixas azuis levou um tempo para sair do carro, esperou seu pai sair e observou os dois grandes homens da companhia de mudanças levar alguns móveis para dentro do prédio. O garoto respirou fundo, colocou sua prótese, pegou a gaiola de Gizmo e saiu do carro em direção ao prédio. Evitou todas as pessoas possíveis, o que não foi difícil já que o lugar estava deserto a não ser pelos dois homens, seu pai, e um pequeno homem de boné com uma prancheta, que conversava com Henry Fisher.

Sal adentrou no novo apartamento quieto, não era nada demais, tirando o fato do papel de parede ser cafona e estar descolando nos cantos era até confortável, se você olhasse bem rápido.

— Ei, filho. — Ouviu seu pai lhe chamar do cômodo que seria a cozinha. — Este é o Senhor  Addison, ele é o proprietário dos Apartamentos Addison. — Henry diz apontando para um pequeno senhor de talvez uns 30 anos de idade, segurando uma prancheta com papéis que Sal não conseguiu identificar e um boné verde. O homem exalava simpatia.

— Olá Sal, seu pai estava me falando sobre você.

— Estava? — O garoto perguntou confuso.

— Sim, ele disse que você tem uma guitarra, certo? — O mais novo acenou a cabeça afirmando. — Que ótimo, eu adoro música! Mas sabe o que eu não adoro? Reclamações. Não toque tarde da noite e muito menos toque alto e não teremos problemas, certo garoto Fisher?

O homem perguntou sem pausas entre as frases, era claramente calmo mas, aparentemente, muito sério no que diz respeito ao seu prédio. O garoto apenas concordou com a cabeça e olhou de relance para a gaiola de Gizmo em suas mãos.

— A certo, você também tem um bichinho de estimação, não é? — Em um piscar de olhos o homenzinho se abaixou para espiar o animal dentro da gaiola. Era realmente ágil. — Ah, um gatinho. Fofo. Gosto de animais, não o deixe sair sozinho pelos corredores ou que entre no apartamento dos vizinhos e, claro, limpe suas... supresinhas, certo? Não gosto de mal cheiro.

O Senhor Addison pronunciava o seu monólogo de exigências ao garoto, que achou um tanto quanto irônico o comentário do proprietário. Ele, por acaso, já viu a quantidade de sacos de lixos que estão acumulado ao lado da entrada do seu precioso prédio?

— Então — Henry dirige a palavra para o Senhor Addison novamente. — Tudo certo com a papelada? O Senhor  recebeu o meu pagamento que enviei pelo correio semana passada?

— Ah sim, três meses muito bem pagos Senhor Fisher. — Henry sorriu orgulhoso, e Sal sorriu de canto por baixo da prótese. Essa era uma das coisas que mais admirava em seu pai; sua administração impecável com o dinheiro. Nunca passaram necessidade e nem deveram nada a ninguém, não porquê eram ricos, longe disso, mas sim porque seu pai dava duro no trabalho e investia cada centavo a mais que ganhava. — Sobre o seu apartamento, Senhor Fisher, acho que está tudo em ordem. Sim. Janelas trocadas, paredes repintadas. — Repintadas? Sal desconfiava sobre a data das anotações que o homem lia em sua prancheta. — É. Tudo em ordem, exceto pela pia da cozinha. — O homem tirou os olhos do papel e apontou sua caneta para a pia acoplada nos armários embutidos na parede da cozinha. — Ela anda vazando, essa danada, mas não se preocupe, vou ligar agora para a Srta Jonhson e ela dá um jeito nisso rapidinho. Como eu não vi isso antes? Francamente Addison...

O homem se afastou tirando um pequeno celular do bolso, discando algum número enquanto resmungava sozinho.

— Ei, Sally. — Henry praticamente cochicha, chamando a atenção do azulado mais novo. Eu pedi para os caras da mudança trazerem as coisas do seu quarto primeiro, acho que montaram sua cama. Você pode descansar um pouco se quiser.

— O Senhor não quer ajuda com as coisas, pai?

— Foi uma longa viagem, eu sei que você cansado. Além do mais, seu velho dá conta de algumas caixas. — O mais velho sorriu exibindo os músculos já não tão definidos por conta do tempo. Sal não conteve sua risada. Este era o seu pai, se esforçava até mesmo para animar os outros. — Leva o Gizmo pra lá. Ele deve estar com um ódio mortal dessa gaiola já.

— Isso com com certeza. Obrigado pai, sabe, eu acho que

— Garoto Fisher! — O mais novo dos Fisher's foi cortado no meio de sua fala, o que pareceu não incomodar Addison,  aliás talvez nem tenha percebido sua interrupção.  — A Srta Jonhson não está atendendo minhas ligações, poderia, por favor, ir chamá-la? Iria eu mesmo mas preciso me certificar de que esses brutamontes não vão danificar minha propriedade. — O homem apontou sua caneta por cima dos ombros sem olhar para trás, onde os homens carregavam o armário de Henry de uma forma nada sútil. Se arranhões na madeira incomodassem seu pai ele teria que trocar de armário.

— Eu posso ir.

— Ah, agradeço a gentileza, Senhor Fisher, mas ainda não terminei de te passar as informações sobre os horários do prédio. Ou dos correios, manutenção, reuniões, hora de tirar o lixo, vizinhos

— Eu vou. Onde essa Srta Jonhson mora? — Sal interrompeu o homem. Quantas xícaras de café ele havia bebido essa manhã?

Ótimo, ótimo. Aqui, vai precisar desse cartão de acesso, os Jonhson's moram no subsolo. Seja breve, sim?

Sal pegou o pequeno cartão de acesso, apressou-se em direção ao seu quarto onde deixou seu gato. Fechou a porta e saiu, não antes sem pedir para seu pai deixar água e comida para Gizmo. Entrou no elevador e passou o cartão de acesso, sentindo o chão descer sob os seus pés.

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