Prólogo

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Desesperado. Se houvesse uma palavra para definir como Sal Fisher se sentia no exato momento, esta seria a mesma.

Estava habituado com mudanças, mas não esperava por uma tão absurda assim. Sair de New Jersey e ir morar em Nockfell?

Se sentia com medo, inseguro e, dentro daquele antigo carro, sufocado.

Viajavam sem parar à algumas horas e a monotonia de ver veículos indo e vindo nas pistas asfaltadas estava lhe causando ânsia.

— Tudo okay aí atrás, Sal? — Perguntou Henry Fisher, pai de Sal.

Era óbvio que nada estava "okay" com seu filho, e Henry sabia disto, mas o que mais poderia dizer? Nunca fora bom com as palavras, tão pouco quando deveria usá-las para expressar seus sentimentos. Ainda estava aprendendo a ser um pai quando tudo ocorreu e, assumir essa responsabilidade sozinho e de forma tão abrupta não foi o melhor cenário para isso.

Derrepente, Henry tinha a tarefa de trabalhar, gerenciar uma casa e as tarefas domésticas que isso exigia, cuidar do filho pequeno e pagar por todo o acompanhamento psicológico de que o pequeno Sal precisava, tudo isso enquanto superava a perda precoce de sua amada esposa.

Não foi fácil. Não foi nem um pouco fácil. Teve de aumentar sua carga horária no trabalho para conseguir dinheiro o suficiente para a restauração de sua antiga casa, fora os remédios e sessões de seu filho que não eram nem um pouco baratas. Não que Henry se arrependesse, não, não se arrependia disto. Porém se punia mentalmente todos os dias pelo abismo de distância que isso criou entre si e seu filho. Se punia por nunca ter estado presente no cotidiano de Sal, por se acovardar e escolher pagar uma bela quantia a vários profissionais diferentes para conversar sobre o acidente com seu filho, quando na verdade ele deveria tê-lo feito, por ter que tirar seu filho do estado em que nasceu somente porque não suportava caminhar pelas ruas de New Jersey e lembrar de quando caminhava nas mesmas ruas com sua esposa.

Lhe soava estúpida a idéia de que, para cuidar de seu filho, Henry se afastou dele.

A verdade era que Henry Fisher também estava desesperado. Desesperado por mudanças.

— Posso abrir a gaiola do Gizmo?  — Perguntou o Fisher mais novo ignorando a pergunta do mais velho. — Ele está incomodando de novo.

Enquanto falava um pequeno, porém gordo, felino miava baixinho de forma quase cronometrada, manifestando o seu descontentamento por passar muito tempo preso em uma pequena gaiola de transporte para gatos.

— Eu sei que o Gizmo odeia viagens longas mas não temos um lugar  para encostarmos o carro por perto, e você sabe como ele fica agitado solto enquanto o carro anda. — Olhava o menor pelo retrovisor que encarava a gaiola azul-marinho em seu colo, perdido em seus pensamentos. estamos perto da entrada de Nockfell, Sal. Chegaremos aos apartamentos em menos de uma hora, o Gizmo é forte, ele vai aguentar, certo?

— É. — Embora ele não o dissesse, Sal sabia que seu pai não falava do gato. — Acho que sim.

Inclinou-se para baixo, deixando suas madeixas azuladas cobrirem sua face enquanto, gentilmente, abraçava a pequena gaiola que repousava em seu colo, num ato de ternura e lamento.

Não é como se o garoto fosse sentir falta da sua, agora, antiga realidade. Mas ao menos antes Sal sabia o que acontecia, mesmo quando seu terapeuta era trocado, mesmo quando sua medicação era aumentada ou diminuída, mesmo quando os familiares de sua mãe os visitavam sem avisar, mesmo quando algum professor o visitava para saber se pretendia voltar ao colégio ou se queria que algum aluno lhe entregasse as atividades. Não importava a situação ou a pessoa.

Sal sabia o que responder, sabia como agir para que os demais ficassem satisfeitos e fossem embora. Essa era a sua realidade à muitos anos e estava, não satisfeito, mas habituado com ela.

Agora teria que morar em uma cidade que não conhecia, em um apartamento que nunca ouvira falar antes, com vizinhos desconhecidos, terapeutas desconhecidos e o pior; voltaria ao colégio para terminar o ensino médio, já que de acordo com um de seus terapeutas de New Jersey, Sal estava, não somente pronto, mas precisava voltar a estudar com outros jovens de forma presencial.

Sal tinha um certo controle sobre si, agora não conseguia controlar nem a quantidade de vezes que suspirava de forma melancólica naquele carro desde que saíram da casa de sua avó paterna, onde moraram todos esses anos após a morte de sua mãe. Odiava demonstrar fraqueza ao lado do pai, Sal sabia que ele também sofria, e como sabia.

Afinal, ele viu a quantidade de garrafas vazias de bebidas alcoólicas que seu pai tentava esconder em sacos de lixo pretos, ele via a exaustão nos olhos fundos do pai durante as breves refeições de manhã, contou as noites em que o pai não voltava para casa por estar fazendo hora extra, e contou ainda mais as noites em que ele passava na sala, bêbado, chorando em um luto silencioso. 

Não entendia ao certo o porquê seu pai escolheu se mudar pra longe de todos os seus familiares que lhes apoiaram por todos esses anos, nem o porquê de ter aceitado essa promoção em Nockfell, mas entendeu, pelo tom de voz que seu pai usou quando lhe contou seus planos de mudança, que isso faria bem para o mesmo. E Sal devia isto ao seu pai.

Olhou para frente, ainda com o cabelo sobre a face, o baú do grande, grande demais para a quantidade de móveis que os dois estavam levando na opinião de Sal, cobria toda a visão do que estava pela frente. E talvez isto seja uma analogia ao futuro incerto do garoto, que se sentia em um campo aberto cheio de nuvens cinzas e cheia sobre si. Antes Sal conseguiria deduzir se iria chover e assim se cobrir com uma capa de chuva, mas agora? Agora se sentia indefeso, sem conseguir prever o clima, e temia ser pego de surpresa em uma
tempestade.

Deixou uma risada nasal escapar baixinha. Estava filosofando demais.


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bom, vc certamente não me conhece mas, tvz, conheça a fanfic "Por Trás da Máscara" escrita por MoriSanhMoriSanh

e se eu te disser que eu sou a MoriSanh?

pois é, eu, infelizmente, perdi aquela conta e outra depois daquela, estava bisbilhotando meu antigo perfil e vi que algumas pessoas queriam que eu terminasse "Por Trás da Máscara"

já adianto que n, aquela história n terá um fim, tão pouco está será uma continuação, mas é uma história do msm universo e as idéias inicias dela estão em "Hey, Johnson!"

estou postando esse prólogo agora para que as pessoas que gostavam da outra possam guardar esta em suas listas de leituras até que eu termine alguns capítulos

breve breve eles serão postados

Hey, Johnson!Onde histórias criam vida. Descubra agora