Hey, Johnson!

Capítulo II

Era irônico. Não havia se passado nem um dia em que Sal estava em Nockfell e as coisas já saíram do seu controle, cedeu à lábia de um homem menor do que o garoto e, agora, estava de frente à porta do apartamento de uma pessoa que não conhecia para chamá-la para o seu novo apartamento e arrumar uma maldita pia entupida. Era realmente irônico.

Sal bateu três vezes na porta de maneira padronizada e suave, no fundo torcia para que houvesse soado silencioso o bastante para voltar para o seu apartamento e dizer ao Senhor Addison que ninguém o havia recebido, afinal não seria uma mentira, tecnicamente.

— Um segundo! — Uma voz abafada fora ouvida de dentro do apartamento. Segundos depois, que para o pobre garoto ansioso pareceram horas, uma mulher alta e magra de olhos cansados abriu a porta. — Ah, ora vejam só, se não é o novo morador! — Disse a mulher com um gentil sorriso em sua face.

— Acho que sou famoso por aqui.

— Bom, é o meu trabalho conhecer as pessoas desse prédio. Aliás, meu nome é Lisa Johnson, eu cuido da manutenção desse edifício. — Apresentou-se  estendendo sua mão.

— Sal Fisher. — Respondeu recebendo um forte, porém afetuoso aperto formal de mãos. Lisa parecia uma boa mulher.

— É um prazer, Sal. Quer entrar e tomar um café? Talvez você prefira um refrigerante?

— Ah, obrigado, mas na verdade preciso de sua ajuda. Meu pai e eu acabamos de chegar e nossa pia está com problemas. O Senhor Addison estava ligando para a senhora mas, como a senhora não atendeu, ele me pediu pra vir aqui chamá-la.

— Ah, tinha algum problema com o meu celular então pedi pro meu filho arrumar. Acho que ele não ouviu as ligações, pra variar. — As últimas palavras soaram como uma melancolia nostálgica. — Melhor eu ir antes que o Senhor Addison pense em mais palavras para me dizer sobre as chamadas perdidas. — Riu. — Pode pedir ao meu filho que vigie a lasanha no forno, por favor?

O garoto nem teve tempo de protestar quando viu as portas do elevador se fecharem, todos naquele prédio desconsideravam a opinião alheia?

Sal adentrou o apartamento que ainda se encontrava com a porta aberta, uma decoração simples mas aconchegante constituía a moradia dos Jonhson's, vários quadros e fotografias preenchiam as paredes e uma estante, com algumas peças de porcelana. Enquanto observava o ambiente, seus olhos focaram em uma porta com uma placa escrita: "keep out", este com certeza era o quarto de um jovem Jonhson.

Bateu sem hesitar, quanto mais rápido fizesse aquilo melhor. Um tempinho se passou e o azulado resolveu bater de novo. Nada. Bateu outra vez, novamente sem obter resposta. Suspirou impaciente e bateu com mais força na porta de madeira.

— Hey, você tá aí, uh... filho da Lisa Johnson? Caralho, Sal, sério? — Sussurou a última frase, odiava as coisas que fazia por impulso.

De repente a porta se abriu, assustando o garoto. Um alto e moreno rapaz agora estava de frente ao Fisher, longas mechas de cabelo escorregavam pela camisa de estampa simples e curiosa que vestia, havia tinta azul manchando seu maxilar, esmalte preto em suas unhas e Sal podia jurar que ele usava uma sombra pesada em volta dos olhos castanhos.

— Filho da Lisa Johnson, cara? — Perguntou com um timbre grave de voz e uma sobrancelha arqueada.

— Eu não sei o seu nome. — Sal respondeu passando o cartão de acesso de uma mão para a outra. Estava nervoso.