Zaad II

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    A carroça está pronta com um pouco de mantimentos, carne seca, um grande jarro com água, sal, uma fatia de queijo de cabra, dois jarros menores com leite, pão e algumas batatas que foram colhidas.

    _Cuidado, venha suba. Disse Zaad pegando um dos seus filhos moribundos e os acomodando na carroça, as crianças estam bem debilitadas.

     A esposa de Zaad vai dar água para elas e nota que uma delas não está respondendo... Está morta.

    O casal croneriano fica devastado por mais essa perda, chorando com total agonia a esposa de Zaad se recusa a deixar seu filho sepultado nessa terra amaldiçoada, ela pega um pano e tenta improvisar uma mortalha.

    _Não... Não podemos levar o corpo conosco. Disse o pai deixando uma lágrima escorrer e tendo ser forte, mas era nítido que estava devastado.

    _Não irei sem ele... Veja... Ele iria conosco... Não deixarei você para trás meu filho. Disse a mulher alternando entre choros de dor e sorrisos sem sentido.

    O pai conseguia sentir a dor de sua esposa, mais sabia que não tinha como carregarem o corpo.

    _Ele também era meu filho, deixe que eu o enterro. Zaad coloca sua mão calejada sob o ombro da esposa que está a como ninar o filho já em óbito.

   _Por favor... Não...

   _Não esqueça que temos ainda dois filhos e eles precisam de uma mãe assim como precisam de um pai.

    A mãe da um beijo na testa do cadáver de seu filho, seu sorriso tentava transmitir ternura mais o semblante de seus olhos estava carregado de dor, ela cobre o rosto do filho e de dentro da carroça entrega o corpo para Zaad. O croneriano pega o corpo de seu filho enrolado na mortalha improvisada e vai atrás de sua antiga casa, nos fundos havia outros túmulos, eram outros filhos de Zaad e sua esposa que morreram ao longo dos anos e antes de partirem a Cronéria revindicar mais um dos seus para ali permanecer pela eternidade.
    Ele pega sua pá, uma das poucas ferramentas que possue, retorna para o cemitério de trás de seu antigo lar e começa a cavar, cada vez que a terra era retirada uma lágrima caia dos olhos de Zaad, os mesmos pensamentos o rodeiam sobre a razão de tanto sofrimento. E de novo o sussurro em seu ouvido dizendo que era culpa dele, os mesmos sussurros que o mandavam fazer algo que tinha vontade mas por alguma razão não conseguia seguir, os mesmo sussurros que mandavam ele matar.

     "Não... Não..."
  
    Repetia o homem que havia acabado de perder mais um filho e tenque sepulta-lo ali mesmo na terra inorgânica da decadente Cronéria.

    "Acho que já está bom..."

    Zaad havia cavado bem fundo para que seu filho pudesse ter o descanso em paz.

    "O que é isso?"

    Pensou ele ao ver um brilho estranho no meio da terra, era como se a terra estivesse repelir de duas entranhas algo, o croneriano pega tira um pouco da terra e vê a empunhadura do que aparentava ser uma espada, ele a puxa com toda a força, parecia que algo segurava aquela peça para si. Em um último ato ele puxa e consegue arrancar o que parecia será metade de uma espada de lâmina larga partida na diagonal, o cabo era de bronze, estava desgastado, a empunhadura não era grande coisa, Zaad só encosta na lâmina e corta seu dedo, a lâmina ainda estava extremamente afiada mesmo estando ali vai saber por quanto tempo e isso era de se admirar. Porém o que realmente chamava a atenção era uma pedra de cor vermelha viva, para os leigos poderia ser um rubi (que não deixa de ser valioso) mas se olhasse bem não era. Era uma pedra diferente, com um fio âmbar encrustado dentro dela, não era comum era quase como se olhasse para uma serpente era magnético... Zaad fica perplexo com o achado que por uns instantes até esqueceu  de que tinha que sepultar seu filho. Ele volta a si, sai de dentro do buraco, pega o corpo de seu filho cuidadosamente e o coloca na cova, sua esposa não quis ir, talvez fosse menos pior se ela visse mais um sepultamento de mais um filho.
    Em silêncio o croneriano tenta proferir algumas palavras que seu pai lhe ensinou para essas horas, mais dessa vez prefiro simplesmente contemplar a derradeira cena. Então com muitas lágrimas Zaad começa a jogar a terra escura do solo da Cronéria encima do corpo do seu filho, o trabalho foi mais rápido que cavar pois ele já estava familiarizado com essas tragédias, e os sussurros continuam a chamar-lhe: "Zaad... Za...adddds..."

    _Zaad, você já terminou? Gritou sua esposa na parte de frente da carroça.

    _Ja estou indo. Respondeu ele.

    Ele vê que deixaram uma cortina na janela que seria da cozinha, ele a arranca e enrola seu achado, não era hora de amostrar, talvez aquela pedra pudesse valer algo ou poderiam trocar por comida. Ele sai de trás da casa carregando sua pá e o seu achado.

    _O que é isso?

    _Nada, apenas vamos.

    O croneriano coloca o que havia em suas mãos na parte de trás da carroça, ele sobe na dianteira e com uma varinha faz o cavalo magro andar. E assim a família começa seu êxodo, deixando para trás a terra de seus ancestrais e treze filhos enterrados, a mulher olha para trás aos prantos como se despedisse de todos os seus filhos que ali teve de deixar, enquanto o pai sem olhar para trás conduz para um novo lar, mas com uma profunda dor em seu peito. Ele não olhou para trás... Havia um ditado antigo que dizia que um croneriano nunca olhava para trás, nesse dia Zaad percebeu que esse ditado era bem difícil de seguir nessas circunstâncias.

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