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GIULIA.

Prendo meus cabelos em um coque alto enquanto mordo a ponta do lápis em minhas mãos, gemo frustrada, estou a dias tentando montar um croqui e simplesmente não sai uma ideia da minha cabeça.

O calor do rio de janeiro está mais que insuportável nesses últimos dias e pra piorar o meu ar condicionado havia quebrado então estou tendo que me adaptar a um ventilador jogado em cima da minha cara, meus olhos estão ressecados ao ponto de já doerem, bufo e me jogo na cama ignorando que tenho que entregar esse trabalho até terça feira, pelo menos amanhã é domingo e posso ver se me inspira o mínimo.

—Não acredito que você ainda tá de pijama.—Cecília entra no meu quarto como um gavião.—Cara, pleno sábado e meu último dia na cidade, você me prometeu que iríamos na vitrinni hoje.

—Não vou não.—Faço uma careta.—Eu enjoei de ir lá toda semana e eu tô com a cara amassada, não vai rolar.

—Mas vai sim, você é solteira e precisa encontrar um novo homem para seduzir e levar pro fundo do mar.

—Eu só estou solteira a duas semanas, respeitar meu luto seria bom.—Desisto e me levanto já vendo que ela está mexendo em meu armário.—E eu não sou uma sereia pra seduzir alguém.—Rio.

—Já chamei o uber, ele chega em 15 minutos, corre aí que da tempo.

Olho para a cama e como estou sem paciência para decidir roupa, coloco a mesma que minha amiga separou, passo uma maquiagem na cara e um batom vermelho.

Ao pisar para fora do carro vejo a fila imensa formada e reviro os olhos, não acredito que fui vencida a vir aqui nessa calor, no meio desse tanto de gente a sensação deve ser a mesma de estar dentro de uma sauna.

—Hoje não.— Cecilia me arrasta pra fora da fila e eu a olho confusa.

—Como assim? Você quer entrar como? Pulando o muro ou batendo nos seguranças?— Questiono enquanto ainda sou arrastada em direção a uma porta preta.

—Vamos de camarote vip.—Ela sorri animada.—Eu fiz um amigo esses dias e ele liberou nossas entradas.—Ceci conversa com os seguranças, logo uma pulseira é posta nos nossos braços, não tô entendendo tanto luxo e só conheço duas formas dela ter conseguido isso.

—Você tá se prostituindo pra algum velho rico?—Sussurro subindo os degraus.

—Tá maluca? Eu conheci um jogador esses dias no estágio quando tava no maraca e ele foi super gente boa, daqui a pouco você deve conhecer ele.—Ela diz pedindo um drink pro barman.

"Tuêzin' do 085, sentou no sofá e fumou cinco"

Grito animada, sou apaixonada em todas músicas do Tuê, mas a morte do autotune vai ter pra sempre o maior espaço do meu coração, o que deixa ainda mais especial é que eu conheço ele a anos, quando fui pra Fortal e ele estava na mesma festa que eu, viramos amigos e não nos largávamos mais, porém não sabia que estava no rio já que mal tive tempo de olhar o celular nas últimas semanas.

—Mas que merda é essa?— Falo pra Cecilia ao meu lado quando vejo um homem subindo no palco, claramente bêbado e cambaleando.

—Olha ele ali!—Ela ri ao ver o mesmo cantar, até agora não consegui ver quem é, merda, porque vim sem lente.

Só sei que esse cara tá estragando minha música favorita, tá andando igual um sem teto e falando palavras nada a ver, pelo amor de deus, vou descer o cacete nesse maluco, porque não tiraram ele de lá até agora, o pior é o Matheus rindo.

—Vou pegar uma cerveja, daqui a pouco volto.—Aviso e vou até o bar fazendo o pedido, fico ali um tempo curtindo a música que agora sim voltou a ser só uma voz, arrumo meu cabelo no espelho e volto de onde sai.

—Você voltou, tenho uma pessoa pra te apresentar.—A morena me arrasta até um sofá e logo franzo o cenho.

—Ah não.—Murmuro irritada e estalo a língua com força, cruzando os braços, que programa de índio essa mulher me enfiou.—Só podia ser você estragando o show lá embaixo.

A atenção do jogador, agora é voltada pra mim, mesmo parecendo mais bêbado que um mendigo com corote , seus lábios se transformam em um bico e suas sobrancelhas franzem.

—Você é aquela flamenguista que estava doida pra me conhecer?—Sua voz sai arrastada e minha cara fecha.—A Cecília tava me contando...

—Flamenguista.—Interrompo, só pode ser sacanagem.—Doida pra conhecer você? Que porra é essa?—Encaro minha amiga e ela da de ombros com um sorriso no rosto.

—Não precisa fingir que não tá afim de mim só pra conseguir me conquistar, relaxa, você até que é gostosa.

—Gostoso foi o que meu time fez com o seu domingo.—Reviro os olhos.

—Aquele que foi eliminado da copa do brasil e na libertadores eu nem ouvi falar?—teve a audácia de rir.—Prazer Gabriel.

Que raiva, puta merda. Sua gargalhada alta aumenta junto com a de Ceci, cara ela é minha amiga ou inimiga, que porra é essa. Claramente ele não era só um idiota dentro de campo, fora também.

—Como se eu não soubesse.—Rio sem humor.— Nem se apresenta mais como gabigol né, porque gol é uma coisa que você não tá sabendo fazer.

—Pelo que eu lembro eu fiz contra seu time em quase todos jogos desse ano.

Xinguei alto e virei de costas, não posso discutir sobre futebol com ninguém, sou clubista pra caralho mesmo, também já falta pouco pra acontecer de gastar meu réu primário com esse dai.

—Ué, volta aqui, já tá desistindo da discussão fácil assim?—Barbosa continua rindo.

—Você quer que eu diga o que? Que nessa temporada o Cano é melhor do que você?— Mando meu dedo do meio e continuo a andar, enquanto escuto todos xingamentos existentes vindo da boca do mesmo.

𝐑𝐎𝐎𝐌𝐌𝐀𝐓𝐄𝐒, 𝐠𝐚𝐛𝐫𝐢𝐞𝐥 𝐛𝐚𝐫𝐛𝐨𝐬𝐚Onde histórias criam vida. Descubra agora