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GIULIA.

Me acostumar a vida de morar com um jogador de futebol está sendo literalmente tudo, menos fácil, e olha que só faz uma semana e meia.

—Posso entrar?— Escuto a batida na porta e reviro os olhos na mesma velocidade que o homem tatuado entra no meu quarto, com uma toalha amarrada na barriga e algumas gotículas de água escorrendo pelo seu corpo.— Quer tirar foto pra postar no seu fã clube pra mim?

—Que nojo.— Faço uma careta.—Que isso de você balançando o cabelo no meu quarto? Virou cachorro?

—Auau, sempre fui.— Diz dando uma piscada com o olho direito.—Levanta aí, fiz o café e a gente vai sair daqui a meia hora.

—Pra que? E que milagre é esse de você cozinhando?—Levanto e abro a janela.— Melhor a gente não sair porque com esse milagre vai começar a chover daqui a pouco.— Sorrio sínica.

—A gente vai caminhar.—Gabriel responde jogando a toalha que estava em seu corpo em cima da minha cama.

—QUE MERDA É ESSA.—Fecho os olhos e empurro a toalha pro chão.

—Se eu fosse você eu abria o olho, onlyfans de graça de um jogador famoso e gostoso ainda, eu não perdia.

—SAIIII DAQUI.— Exclamo enquanto fixo meu olhar no guarda roupa procurando um short pra fazer essa caminhada obrigatória.

Me direciono a cozinha e vejo que ele finalmente está vestido como gente e não como na época de adão e eva, sento na cadeira e levo o café até a boca enquanto encaro o que for isso que ele resolveu cozinhar.

—Achei que já tinha visto um homem pelado antes.—Ele me olha encostado na bancada da pia enquanto bebe um copo de água.— Tipo, nunca foi a uma praia de nudismo?

—Primeiro, você não tem nada a ver com isso e dois, óbvio que não, eu tenho cara de tarada?—O encaro desconfiada.

—Sim, mas melhor não ir mesmo, uma vez eu fui e vi um velho com o saco pendurado, traumatizante.

—Eu não queria saber disso cara, eu tô comendo, que horror.— Afasto o prato de mim.— Por sinal você cozinha muito mal.

—Ué, mas o seu prato tá limpo, mente mais que aquele boneco do filme de criança, pode deixar que eu vou cozinhar mais vezes.—Barbosa diz se alongando.— Sabia que isso é abuso?

—Hum?

—Seu sofá é horrível, catou um no meio do lixão? Minhas costas daqui a pouco dão nó.

—Ainda bem que você é jogador pra fazer fisioterapia, se lesionar também não vou reclamar.—Pisco os olhos.—Vai sair assim?

—Vou ué, tá ruim?—Sua sobrancelha arqueia.

—Ta horrível, essa blusa preta e vermelha ai deveria ser um pano de chão.

—Você me deixa dormindo no sofá a mais de uma semana, não quer dividir a cama comigo e tá falando mal da minha roupa?

—Não.—Solto uma risada.—Pelo menos você não tá com aquela calça marca texto de ontem, puta merda, sempre vou achar que você se veste no escuro.

—É porque você não paga a conta de luz, o chuveiro mais cedo tava frio.— O tatuado diz fechando a porta.

—O banho aqui em casa é a gás.—Aperto o andar térreo do elevador.—Não sabe girar duas torneiras?

O sol como sempre, está rachando o que já é de se imaginar em uma sexta feira no Rio de Janeiro, agora nós dois estamos parados embaixo de uma árvore enquanto como um acarajé e roubo a água de coco das mãos dele quando posso, sou extremamente apaixonada na vista do aterro.

—O que vai fazer hoje a noite?—Seu olhar curioso direciona no meu.

—Em casa, vendo filme provavelmente e você?—Questiono e ele me dá um tapa no ombro pra estender a comida.

—Tenho um jantar com os caras do flamengo e depois uma festa na casa do arrascaeta, quer ir?

—Me colocar na mesma frase que o flamengo deveria ser algum tipo de crime ou tortura do inferno.—Reviro os olhos.—Não, e por favoooor, não leva nenhuma mulher lá em casa hoje, amanhã tenho prova e preciso dormir direito.

—Voltei a morar com meus pais agora?—Ele sorri sacana.—Você vai comigo sim, tá todo mundo curioso de saber com quem estou morando.

Eu tenho pavor de sair de casa, mesmo podendo não parecer já que estou no auge da minha vida jovem adulta, sim uso esse nome porque na minha cabeça só vou ser adulta a partir dos trinta,  zero pique pra sentar pra conversar com gente que eu nem conheço, já não basta morar com um desconhecido, assim, bemmm entre aspas, a sorte de estamos nos falando é que ele parece que tem formiga na língua e eu não sou mal educada.

Mas sair com os jogadores do flamengo? Só posso ter jogado uma pedra na cruz, grudado chiclete na sola do sapato, amarrado um bode no alto da montanha.

—Eu nem gosto de você, muito menos do flamengo.—Faço uma careta.

—Mesmo que você tenha tentado me expulsar de casa umas dez vezes essa semana, eu sei que você me ama.—Gabriel morde a língua.—Oito horas hoje, por favor não vai muito desarrumada como sempre se não vão te confundir como mendiga.

—Ridículo.—Mostro o dedo do meio pra ele.—Eu já vi umas fotos suas de 2012 e puuuta merda, parece que esmagaram sua cara em um trator, ainda bem que você alcançou dinheiro e fama porque se não ia ser virgem até hoje.—Agora ele que faz uma carranca na cara.—Tá, eu só vou porque o elenco do flamengo tem uns jogadores bem bonitinhos.

—Hum, primeiro, me stalkeando senhora Giulia? E eu não era feio, só era rústico.—Seus ombros balançam me dando outro tapa pra voltarmos a correr.—Segundo, de jogador, sendo modesto, eu sou o mais bonito do time, eu investiria se fosse você.

—Pois eu não investiria não.—Reviro os olhos e bato em sua nuca.—Quem chegar por último vai ter que ver um jogo na arquibancada do vasco.—Sorrio e alavanco.

𝐑𝐎𝐎𝐌𝐌𝐀𝐓𝐄𝐒, 𝐠𝐚𝐛𝐫𝐢𝐞𝐥 𝐛𝐚𝐫𝐛𝐨𝐬𝐚Onde histórias criam vida. Descubra agora