O navio Anne Bonny

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Os sacos recheados de riquezas foram jogados dentro de carroças alugadas. O cavaleiro olhou para trás, segurando as rédeas do cavalo e observando o movimento dos piratas, mas logo notou algo estranho.

— Quem é ele? — Perguntou à Samira, que jogava um jovem encapuzado dentro de uma das carruagens.

— Não é da sua conta.

— O combinado eram apenas sacos, não vou ser cúmplice de um sequestro. — O homem entortou o nariz. — Livre-se dele!

Samira revirou os olhos, e Aphelios pôde ouvir um som laminado, uma espada sendo desembainhada, e um ganido de dor. O baque surdo veio depois.

— Inútil. — A voz da mulher voltou a soar. — Entre e fique quietinho, lordezinho!

Aphelios comprimiu os lábios, agoniado por não conseguir enxergar nada além das mudanças de iluminação que escapavam para dentro do saco pelo rasgo que aquela mulher fez. Fora jogado de qualquer jeito dentro da carroça e, quando a porta foi fechada com grosseria, ele tirou o maldito saco, o jogando longe. Estava escuro e, quando tentou se sentar, o cavalo começou a trotar em uma boa velocidade, o fazendo perder o equilíbrio novamente.

Uma curva fechada o fez rolar para a esquerda, e dois sacos foram parar em cima do seu corpo. Aphelios gemeu de dor com o impacto, empurrando aquelas quinquilharias que escaparam para fora dos sacos para longe. Eram seus objetos, os objetos de sua família, saqueados por malditos piratas fanfarrões. 

Do lado de fora, Samira praguejou o inconveniente. O plano era contratar apenas um cara para levar a carroça até o porto, mas Damian, um dos tripulantes, deu um jeito de encontrar um criminoso com exigências fúteis. 

Os outros tripulantes dispararam em cavalos também alugados para o porto, onde o navio estava atracado, disfarçado e encoberto com a ajuda de um dos funcionários do porto devidamente recompensado para tal. Samira só precisava chegar até lá e não perder sua valiosa carga no meio do caminho. 

— Agora! — Gritou.

E é claro, as ordens de Sett eram absolutas. Diante do grito da primeira imediata, todos os tripulantes ergueram suas pistolas e atiraram para cima, chamando a atenção para uma saída triunfal pelas ruas de Brighton. Era uma maneira de anunciar que os Amaldiçoados estiveram aqui.

Samira gargalhou quando o pânico se instalou, tão cedo em uma manhã de terça-feira. 

Moradores saíram para as ruas, confusos, apenas para arregalarem os olhos e voltarem a se esconder em suas casas ao ver a cavalaria de piratas cortando as ruas na direção do porto. Samira mordeu os lábios ao sentir um tiro cortar o ar logo ao seu lado. Olhando para trás pôde ver dois oficiais, provavelmente em guarda, tentando acertar alguns tiros à pé.

— Damian! — Samira exclamou, apertando as rédeas do cavalo, frustrada por ter de guiar uma carroça ao invés de furar alguma carne com sua pistola.

Damian não precisou de uma segunda ordem, o tripulante apontou a arma para trás e atirou. Errou um, mas acertou um dos oficiais, o outro ficou para trás. De pele morena e cabelos brancos e compridos, ele bufou, mas não conseguiu evitar sorrir ao ouvir o grito de vitória dos outros tripulantes ao avistarem o porto.

O sol nascia aos poucos, pintando o oceano de amarelo e laranja, e as velas recolhidas do navio escondiam o Jolly Roger característico de navios piratas. 

Sett era inteligente, Samira tinha de admitir. Um ataque durante à noite é muito óbvio, mas um durante o nascer do sol? Quem imaginaria? Os oficiais estavam cochilando pelos cantos, despreocupados, aguardando ansiosamente a troca de turnos às 7:00 da manhã enquanto as ruas ainda estavam vazias, um meio tempo de uma hora para se encherem de mercadores de frutos do mar.

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