Perda e ganho de controle

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A água era gelada, ao ponto de fazer Aphelios encolher-se em seu próprio corpo conforme as ondas atingiam seus tornozelos, molhando levemente as dobras de suas calças que foram puxadas para cima.

— Está frio?

Timidamente, Aphelios balançou a cabeça.

— Só está frio porque você permite que esteja, querido. — A mão de sua mãe envolveu suavemente a sua, trazendo um calor confortável. — Olhe, Phel.

E Aphelios olhou. Encarou a imensidão do azul que era o oceano, refletindo gentilmente a lua minguante, e prendeu a respiração quando imaginou como seria se perder lá. Como seria ser abraçado pelo toque frio do mar, levando lentamente seu fôlego para longe.

— Aqui é nosso lar.

Fazia frio em Brighton, e sua mãe usava uma camisola longa, protegendo os ombros com um xale de lã escura. Os curtos cabelos grisalhos balançavam com o vento da maresia, de modo que ela precisava segurar o xale para que não voasse para longe. Ela olhou para o céu e então sorriu.

— A magia de nossos ancestrais era originada da lua. Era tão... lindo.

Aphelios apertou a mão da mãe. Apesar de ter somente sete anos, ele já havia ouvido as histórias da mãe vezes o suficiente para que entendesse suas origens e o que o mar, a lua e a noite significava para eles.

Ela foi obrigada a converter-se ao cristianismo, mas jamais deixou que as histórias, magia e costumes de seus ancestrais fossem esquecidos. E Aphelios fora o único dos filhos que mostrou-se verdadeiramente ligado aos Lunari como um verdadeiro filho da noite.

— Como funciona a magia? — Aphelios perguntou, ousando dar mais um passo em direção ao oceano.

— Não há explicação, querido. Quando chegar a hora, você saberá. — Ela virou o rosto para o filho, dor invadia seus olhos escuros. — E, sinceramente, espero que essa hora nunca chegue para você.

— Por quê?

— Para o seu bem.

ᕦ⁠⊙⁠෴⁠⊙⁠ᕤ

Quando despertou, sentia-se tão leve quanto uma pluma planando em uma ventania. Embora isso tenha durado pouquíssimos segundos.

Aphelios gemeu baixinho quando tentou mover-se e sentiu todo o seu corpo doer, desde suas coxas, quadris, costas e braços até sua nuca, onde fora golpeado repentinamente por aquela...

— Pirata biltre imunda...

— Quanta gentileza.

Engasgou-se diante do susto, finalmente se localizando ao piscar freneticamente, apesar de não conseguir sequer sentar na cama. Estava no mesmo quarto, ou cubículo, onde Damian lhe "prendera" antes, e sentada em um banquinho manco com um charuto entre os dedos estava Samira, o olhando com certa soberania.

— Bem que disseram que o vocabulário dos nobres era tão refinado que sequer dava para entender, tal qual um idioma difícil. Como russo, talvez. — Samira deu uma longa tragada. — O que diabos é biltre?

— Você me...

— Bateu? Nocauteou? Foi necessário, senhor almofadinha, mas não posso negar que foi muito satisfatório.

— Como ousa?!

— Deveria me agradecer por não ter mirado sua cara e ter acabado com seu rostinho bonito. — Ela gargalhou, apontado com o charuto para Aphelios. — E você deveria agradecer ao capitão também, mocinhos bonitos logo viram alvo dos piratas pervertidos. Agora que é propriedade de Sett, ninguém ousou tentar abusar de você enquanto estava apagado.

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