1 - Follow the Shadow

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No final do segundo milênio, o governo dos Estados Unidos da América realizava uma pesquisa em união com o Norte Asiático. Durante meses de estudo, fora encontrada uma espécie de radioatividade em grande parte da população mundial. Os pesquisadores haviam descoberto uma nova forma de diferenciar gêneros e capacidades entre as pessoas, o que causou um grande alarme do hemisfério Norte ao Sul. As pessoas passaram a abominar aquelas que não agiam da mesma maneira que si, e então fora realizada a Terceira Guerra Mundial, com mais de vinte países como participantes.

Depois da catástrofe, os países "vencedores" - sendo eles a maior parte do Oeste Europeu, Norte Asiático e Americano -, decidiram juntar-se e criar uma nova forma de viver que fosse utilizada e respeitada pelo mundo inteiro.

As pessoas foram separadas por suas novas formas descobertas, chamadas, agora, popularmente, de Genes*.

*Sendo, cientificamente, chamadas de Capacitação Extraordinária Molecular

Gene A = Pessoas as quais agem por impulso, imprudentemente e irresponsavelmente. Tendem a ser chamados de "corajosos", "determinados" e "habilidosos".

Capacidade Única do Gene A = Reproduzir sentimentos e agir sob o controle deles.

Gene B = Pessoas racionais, agindo sempre com a mente e estrategicamente. Costumam ser chamados de "sábios", "cautelosos" e "leais".

Capacidade Única do Gene B = Fazer escolhas e nunca ser persuadidos.

Hoje, em 4016, nós estamos acostumados com nossa sociedade terna e harmoniosa, onde nos relacionamos apenas com aqueles que agem como nós.

Porém, ainda existem aquelas pessoas supostamente esquecidas, do Gene...

- Senhorita Cabello! - O Sr. Rogers chama-me a atenção. - Não me recordo de pedi-lá para adicionar o Gene Esquecido em seu seminário.

- O senhor não o fez, professor, mas eu achei que pudesse deixar o trabalho um pouco mais enriquecido. - Respondo, estalando meus dedos. Eu fazia isso quando ficava... Qual era a palavra?... Nervosa! Sim, mas que bobagem pensar isso, Genes B não ficam nervosos. Não reproduzimos sentimentos.

- Entendo que não fez por mal, senhorita Cabello. Vou pensar em alguma forma de avaliar sua apresentação sem favorecer sua ideia inesperada.

- Obrigada. - Respondo, e ando rapidamente para meu lugar no fundo da sala.

- O que é isso em suas bochechas? - Pergunta Kordei assim que me sento a seu lado.

- Não compreendo...

- Está corada. Como a cor dos Gene A. - Responde. Sei que ela está se referindo àquele vermelho-sangue ridículo que eles são obrigados a usar em pelo menos uma peça de roupa. Francamente, o nosso azul-marinho é muito mais bonito.

- Cabello? Minha pergunta. - Insiste Kordei.

- Eu não sei. É isso o que acontece quando alguém fica... envergonhado, não é?

- Isso é coisa de Gene A, Cabello. Nós não...

- Não reproduzimos sentimentos, eu já entendi. - Interrompo, cansada daquilo. Odeio me sentir deslocada em meu Gene.

- Talvez você devesse procurar um médico. Não pode continuar demonstrando essas reações de Gene A, ou vão começar a dizer que você é do Gene Esquecido. - Ela diz, anotando alguma coisa da apresentação de um garoto esbelto que eu não costumo me socializar muito.

- Gene AB, Kordei. Por que ninguém fala como realmente é?

- Porque é proibido. E eu sinceramente não quero que digam que você é uma... Você sabe.

- Podem falar o que quiserem, não me importo. - Recapitulo minha fala e entendo meu erro quando ela abre a boca para responder.- Tudo bem, é óbvio que eu não me importo. Eu não sinto nada, não é?

- Bem precisamente. - Elogia-me. Sorrio e me viro para a próxima apresentação esperando que os seminários chegassem ao fim.

Brinco com as mechas do meu cabelo no momento em que meu comunicador começa a vibrar em meu braço. Ele é fino como uma pulseira, com apenas um botão e um visor, aonde uma tela holográfica aparece ao atender a ligação. No pequeno visor aparece a palavra "mãe". Estranho. Por que ela me ligaria agora? Ela sabe que estou em horário de aula.

Me abaixo um pouco atrás de Brooke - que está sentada em minha frente - E passo o dedo no visor para desligar a ligação. Aperto o botão e espero o teclado aparecer em minha frente. Rezo para que o professor não veja aquele azul chamativo que se projeta em minha pulseira.

"Há algo errado?" Digito apenas, e envio o mais rápido possível.

Dois minutos depois a pulseira vibra novamente.

- Sim, senhorita Cabello? - Chama o senhor Rogers, assim que vê me braço erguido.

- Minha mãe pede que eu me ausente alguns minutos, senhor.

- Certo. Não demore.

Me levanto apressada e caminho até a saída da sala afobada sentindo os olhares dos outros alunos me seguirem. Uma Gene B nunca recusa uma boa aula.

Chego no patio amaldiçoando meu estranho comportamento e ligo para minha mãe.

- Filha, você está a salvo! - Diz a voz cansada de minha mãe assim que vejo seu rosto surgir no visor holográfico. Ela parece escondida no nosso armário de vassouras e sua expressão é de pura preocupação.

- Mãe, o que a senhora está fazendo?

- Karla, eu não tenho tempo para conversar agora. Preciso que você ouça o que tenho a dizer com atenção.

- Certo.

- Primeiro, não fique muito tempo sozinha. Tenha sempre alguém por perto; não venha para a casa.

- O quê? O que está havendo?

- Se alguma coisa acontecer comigo...

- Por que está falando essas coisas, mãe?! Está me... - qual a palavra? -assustando!

Ouço um barulho do outro lado do comunicador que faz a transmissão dar uma leve falha.

- Karla! Se ainda estiver me ouvindo... - O som corta duas vezes. - Siga a sombra...

- Que tipo de código é esse? - O silêncio reina e o visor some. - Mãe?

Então eu ouço a ligação cair lentamente.

ShadowsOnde histórias criam vida. Descubra agora