11 - In Sight

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Sinto um cheiro extremamente desagradável quando o teleporte acaba. A superfície sob meu corpo é uma grande mistura de objetos, coisas amassadas e jogadas fora. E, então, assemelho o terrível fedor a onde tive minha queda.

Estou sobre um monte de lixo.

Abro meus olhos, apoiando-me em qualquer coisa para poder se quer me ajoelhar. Ergo-me um pouco, capturando a vista. O monte em que estou é razoavelmente pequeno, e ao ver a cerca ao seu redor, imagino que pertence a alguém. Dou uma rápida visualizada no material sob mim, e então percebo, subitamente, que não há apenas lixo aqui.

peças.

Sento-me desajeitada com as pernas esticadas, impulsionando meu corpo monte a baixo. Escorrego pelos objetos espalhados desconfortavelmente, ouvindo o som de algo rasgando. Ao atingir o solo, percebo que um pedaço da manga branca que pertence a blusa que uso foi cortada na decida. Tento enrolar o pedaço da melhor forma possível, mas o rasgado apenas aparenta ficar mais à mostra. Derrotada, resolvo procurar por uma juba de cabelos negros ou pequenas íris de esmeralda.

Avanço, pisando em montes mais baixos pelo loteamento. Toda a área cercada está cheia de peças, mas por algum motivo o teletransportador só fora instalado na parte mais alta. Talvez eu devesse ter ficado lá. Provavelmente, teria uma área de visão maior.

Enquanto caminho, piso eu algo que se prende em minhas sapatilhas. Documentos. Em letras cursivas, há um nome conhecido assinando-os. Verônica Iglesias.

Pego os documentos rapidamente, colocando-os no único bolso minúsculo que há na saia. Suponho que não esteja muito longe de encontrá-las quando ouço o som de uma marreta socando alguma coisa. Há uma pequena mesa, coberta por uma telha gasta, onde uma silhueta familiar parece ajeitar algumas peças tranquilamente sobre a mesa, analisando-as.

O cheiro de lixo desaparece. Baunilha. Meu cérebro implora, como um zumbi. Lauren.

Resolvo me aproximar lentamente, com medo de sua reação. A minha tentativa de furtividade é arruinada quando, como se sentindo minha presença, o olhar sempre preparado de Lauren pousa sobre mim.

- Puta que pariu. - Ela diz, e não tenho certeza se é em surpresa ou raiva. - Que porra você está fazendo aqui, Karla?

Definitivamente, raiva.

- Eu... Eu... - Eu não sei, eu queria poder dizer, mas só pioraria a situação. Afinal, por que mesmo eu estou aqui?

- Como você está aqui, aliás? - Ela larga as peças e murmura algo para Verônica, fazendo-me notar a outra pela primeira vez. Quem estava batendo a marreta era ela, por sinal. Lauren se aproxima de mim numa velocidade sobre-humana e segura meu braço com uma força brutal e ao mesmo tempo preocupada. Ela me puxa para trás, mantendo seu aperto firme.

- Você me trouxe. - Digo, parcialmente recuperando a voz. - Era para eu estar aqui.

- Não, não era. - A voz dela é ríspida, como areia sendo jogada em meus ouvidos. - Era para estar na cafeteria, onde ninguém te tiraria de... - Lauren parece engolir uma bolinha de gude.

- De você?

- De... De segurança. - Ela pisca algumas vezes, e então para de olhar diretamente para mim. - Você precisa voltar.

- Sem chance.

Lauren passa a mão livre por seu cabelo.

- É por pirraça, não é? - Ela balança a cabeça afirmativamente, para si mesma. - É isso. Você veio aqui por que não aceitou ser contrariada. Sinu disse, na carta. Ela disse que ambas éramos cabeças-duras. Realmente, ela estava certa.

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