Preocupada?

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RAFAELLA

Se eu pudesse definir o meu estado de espírito agora, diria que ele mais parece alguma cidade devastada por furacões. Exatamente igual, sem tirar e nem por. Gizelly bagunçou, derrubou e agora me faz questionar o que eu já tinha como definido em minha vida. De forma vergonhosa, ela levou a ruínas o meu tão fechado mundo. E isso me deixava ainda mais zangada comigo mesma.

Até mesmo agora, a sensação do corpo dela no meu, estavam em cada parte de mim. O cheiro, mesmo depois de passar quase uma hora embaixo do chuveiro, depois de todos os banhos tomados ao longo daquele dia, ainda sim, estava presente em cada misero pedaço meu. A boca quente em meu pescoço, o contato com o meu íntimo. Cada palavra dita naquele momento de loucura e luxúria.

Foi apenas um desejo atípico, nada mais que isso. Eu senti vontade de ir para a cama com ela, mas foi somente isso. Não vou negar a atração que me consumiu naquele momento, porém sei que não passa disso. Eu não gosto de mulheres e Gizelly foi apenas uma exceção. Uma inesperada, assustadora e vergonhosa exceção.

Passei o dia tentando não pensar naquilo. Esse foi o motivo de ter convidado Flávio e os meus amigos para almoçar em casa. Confesso que dá de cara com ela na cozinha não foi muito reconfortante e ainda mais por vê-la com outra mulher. Na certa deve ser outro de seus casinhos. Que ela fique com todas e se mantenha longe de mim. O que aconteceu ontem não irá se repetir nunca mais.

****

Domingo de manhã

Acordei um pouco faminta. Tomei um banho rápido, vesti um short jeans folgado e uma regata soltinha. Arrumei o cabelo em um rabo de cavalo e decidi descer para comer algo. Estranhei o fato da cozinha está toda bagunçada. Olhei e sobre a pia havia um pano coberto por sangue. Arregalei meus olhos, tentando imaginar o motivo.

- Menina Rafaella. - Ângela entrou afoita na cozinha.

- Ângela, o que faz aqui? Hoje é domingo.

- Esqueci o meu celular e vim buscar, menina. Ainda bem que isso aconteceu. - Ela procurava algo pela cozinha.

- O que tá acontecendo? - franzi o cenho. - Olha esse pano sujo de sangue. - apontei para a pia.

- Gizelly tá ardendo em febre. - Ergui as sobrancelhas. - Tá com um corte muito feio no pé.

- Mas, como? - a pobretona nem saiu de casa. Ao menos acho que não. Desde que a vi na hora do almoço, simplesmente entrou no quarto e não saiu de lá. Não que eu esteja a vigiando. Nada disso.

- Eu não sei. Queria leva-la em um hospital, mas o Márcio tá de folga e eu não dou conta dela sozinha. - Ângela estava preocupada e eu também fiquei.

- Eu levo vocês.

Eu disse isso? Ultimamente venho fazendo e dizendo coisas que há um tempo atrás não diria ou faria.

- Então vamos. - ela não pensou duas vezes.

Ângela saiu à minha frente e eu a acompanhei. Chegamos no quarto e senti meu coração sendo apertado com força. Gizelly estava deitada de peito para cima, o corpo estava trêmulo e os lábios brancos. Vestia um moletom e mesmo assim parecia estar com frio. As ataduras estavam vermelhas, sujando até mesmo o colchão. Me aproximei e toquei em sua testa suada e sua temperatura era altíssima.

- Gizelly? - chamei. Vê-la tão frágil foi muito ruim.

- Mãe? - ela não abria os olhos. Estava delirando.

- Vem, precisamos ir ao médico. Me ajude, Ângela. - A mulher finalmente veio até mim.

Com muito custo a colocamos de pé. Ela aconchegou o rosto em meu pescoço. Senti um arrepio com esse gesto, mas não era momento para aquilo. Descemos com muito trabalho todos os degraus. Nunca praguejei tanto um objeto como a escada naquele momento. Ângela sentou com Gizelly no banco de trás. Entrei em casa rapidamente para pegar alguns documentos e as chaves do carro.

Dilemas do Amor | Girafa - G!POnde histórias criam vida. Descubra agora