Dustin cutucou Eddie, que dormia.
— Eddie, são seis e meia — Ele falou quando o irmão acordou. — Você perdeu a hora, eu já fiz a maior parte das tarefas
— Tudo bem — Eddie falou, ainda sonolento, recebendo um olhar feio de Dustin. — Eu já vou — Ele falou, finalmente fazendo o irmão mais novo sair de seu quarto.
Eddie bocejou, se deitando novamente. Sorriu para si mesmo ao se lembrar da noite passada. Aquela noite havia sido, provavelmente, a mais feliz de toda a sua vida. Mesmo sabendo que alguém poderia ter os visto, sua felicidade era grande demais para se importar com isso. Ele havia tido Steve Harrington em seus braços, e isso era tudo que importava.
—
Eddie colocava pratos na mesa para o almoço quando ouviu alguém entrando em sua casa.
— Eddie? — Steve chamou.
Ele sorriu ao ver o Harrington.
— Ah, oi — Eddie disse, colocando um saco de frutas em cima da mesa. — Você me assustou
— Tem algo errado com meu pai — Steve falou, com uma feição assustada.
—
Quando os dois chegaram na casa dos Harrington, o pai de Steve estava sentado em sua cama, murmurando algo para si mesmo. Os dois o observavam pela porta.
— O que ele está dizendo? — Eddie perguntou.
O pastor parou de falar e se virou para os dois, que logo saíram de perto da porta antes que ele pudesse os ver. Steve pegou um livro em uma estante, que Eddie logo reconheceu como uma bíblia, e o colocou em cima da mesa, se sentando em uma cadeira.
— Quando isso começou? — O Munson perguntou, se sentando ao lado de Steve.
— Essa manhã — Steve falou, abrindo a bíblia. — Ele tem falado e ouvido coisas que só ele pode ouvir
— Talvez seja uma oração?
— Não — Steve suspirou. — Algo está errado — Ele olhou para Eddie. — Eu olho para ele e é como se... Algo tivesse entrado durante a noite e vestido a pele do meu pai — Ele olhou para seu pai pela porta. — Parece ele, mas não é ele, Eddie
Eddie olhou para o pastor, e em seguida para Steve novamente.
— Minha mãe foi para a casa de reuniões — O Harrington voltou a folhear a bíblia. — Ela diz que temos que orar e pedir ajuda a Deus, mas eu não sei qual Salmo, qual passagem...
— Ele precisa ser medicado, Steve — Eddie falou. — Eu vou falar com a sua mãe
— Não — Steve imediatamente respondeu. — Ela não pode saber que você esteve aqui. Eu não devo te ver mais
— Não deve me ver?
— Ela suspeita de nós, Eddie — Steve olhou para ele, triste. — Ela suspeita da nossa... Perversão — Ele olhou de volta para a bíblia. — E agora meu pai adoeceu, você acha que... Nós causamos isso?
— Steve — Eddie segurou a mão do Harrington. — Vai ficar tudo bem
Os dois imediatamente se viraram para a porta ao ouvirem ela se abrir. A mãe de Steve entrou, e imediatamente foi em direção de Eddie.
— Você — Ela agarrou o cabelo dele, o jogando no chão. — Você não vai parar até arruinar a vida dele!
— Mãe! — Steve se levantou.
— Billy viu vocês ontem, na cidade! — Ela gritou com seu filho. — Como se atreve a trazer esse imundo aqui?! — Ela se virou para Eddie, agarrando seu braço. — Eu sei bem quem você é, garoto! Uma abominação corrompendo meu filho! Nascido da perversão!
A mãe de Steve arrastou Eddie até a porta, o jogando para fora de sua casa.
— Deus sabe o que você é! — Ela gritou. — É melhor orar por misericórdia por sua alma condenada! — Ela fechou a porta.
—
Eddie chegou em sua casa, entrando nela e fechando a porta atrás de si. Também nunca havia se sentido dessa forma antes. Por um lado, queria se convencer de que ele não era amaldiçoado, que todos estavam errados e que seu sentimento por Steve era puro e inocente. Mas, por outro lado, se perguntava se ele realmente não era uma alma amaldiçoada que estava corrompendo o Harrington. Queria chorar, mas enquanto andava para sua casa, via todos os moradores de Hawkins o olhando com desprezo. Não iria chorar na frente de todos, então iria esperar até chegar em seu quarto para desabar.
— Eddie, Billy tem dito coisas — Ele ouviu seu tio falar ao entrar em casa. — Há algo que você queira me contar?
— Não — Foi a única coisa que ele conseguiu dizer, tentando segurar as lágrimas.
— Ouvi dizer que você chegou tarde em casa ontem — Wayne se virou para ele. — Você estava com o filho do pastor
— E com a Robin, e a Nancy — Ele tentou se explicar. — E com os outros
— Se minha irmã, sua mãe, fosse viva... — Wayne disse, colocando bebida em um copo. — Ela era uma boa mulher. E eu temo que em sua ausência, eu tenha falhado com vocês dois
— Tio...
— Sempre houve algo estranho em você, Edward, uma mancha — Wayne se aproximou dele. — Algo que, talvez, uma mãe pudesse ter removido
Eddie olhou para baixo enquanto seu tio continuava.
— Você foi criado no meio de homens, eu te dei muita liberdade — Wayne disse. — Agora é tarde demais. É minha culpa
Eddie observou enquanto seu tio foi para seu quarto, fechando a porta atrás de si. Ele realmente era amaldiçoado. Ao ouvir seu tio o dizer aquilo, ele teve certeza. Uma mancha. Havia uma mancha em si, e ele não conseguia remover. Seria sua culpa? Talvez isso não estivesse acontecendo se seus pais ainda estivessem vivos. Ou, talvez, a culpa não seja de ninguém. Talvez ele só tenha nascido estranho e diferente. Amaldiçoado. Nascido para corromper pessoas boas. Queria se livrar daquilo. Queria parar de achar Steve Harrington a pessoa mais encantadora existente, mas não sabia como. Talvez devesse orar, pedir perdão a Deus. Talvez devesse fugir, ir para algum lugar muito longe de Steve, de seu tio, de Dustin. Será que seu irmão mais novo era como ele?
Mil pensamentos passavam por sua mente, ele não sabia como pará-los, muito menos como parar a si mesmo, mas havia decidido. Não iria orar ou fugir, iria tentar continuar. Tentar esconder.
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1666 || Steddie
RandomNa vila de Hawkins, em 1666, Edward Munson é bastante próximo do doce e encantador filho do pastor, Steve Harrington. Na época em que sentir qualquer tipo de atração por alguém do mesmo sexo é sinônimo de pecado e corrupção, os dois tentam esconder...