underachiever - ziall

O N E

Zayn era um fracassado. Era mesmo e não tinha medo de dizer isso a quem perguntasse. Já estava tão acostumado que quando alguém o perguntava qual era a sua profissão, ele respondia "fracassado", lento e com o sotaque forte como era de seu costume, sem nem piscar.

As pessoas costumavam achar estranho, óbvio que achariam, mas nunca comentavam nada, - na maioria das vezes porque ele estava com os olhos tão vermelhos e a cara tão amassada que as pessoas ficavam com medo ou com dó, não sabia dizer bem ao certo - só acenavam levemente com a cabeça e mudavam o rumo da conversa.

Mas falar que era um fracassado não era nenhum eufemismo; era a pura - e óbvia - verdade. Pra falar sério, nem ao menos um de seus relacionamentos tinha dado certo, mesmo quando ele costumava sair com garotas ao invés de garotos.

Tudo se deu início quando Zayn havia acabado de completar dezoito. Na exata data de seu aniversário, quando chegou em casa, ganhou o belo e lindo presente do nada. Literalmente, nada era o que preenchia a casa pequena que tinha dividido com sua família por todos esses anos. Seus pais tinham ido embora, levando todas as irmãs e deixando escrito em um bilhete de papel meio amassado que agora ele já era responsável por si mesmo e deveria dar um jeito de continuar com as mil libras que estavam no armário de cima da cozinha. Zayn deu seu jeito por dois meses, e foi quando as libras sumiram feito poeira e ele foi despejado de casa por um cobrador chato e gordinho, que tinha a pele oleosa e modos mau educados e irritantes.

Foi morar com Sandy, um amigo de longa data que havia acompanhado todo o drama que se passava na vida do menino. Não durou muito tempo: Sandy logo descobriu que Zayn era gay e o expulsou à gritos do apartamento onde morava, citando versículos da Bíblia enquanto observava o moreno fazer as malas. Zayn odiava a Bíblia e todos os seus livros agora.

(isso tinha sido tudo culpa de uma bebedeira, Zayn não cansava falar. Se não fosse tanto álcool em seu organismo e um cara tão bonito que estava naquela festa, loiro e alto, dos músculos definidos, flertando com ele, ele nunca teria saído do armário pra Sandy. Nem pra Sandy e nem pra ninguém, pra falar a verdade.)

Conseguiu permissão para passar as noites na faculdade de artes - aonde ele tinha uma bolsa - e dormia vez em dormitórios de garotas que achavam ter alguma chance consigo e vez em alguns dormitórios vazios e sem dono que a faculdade possuía. Alguns meses depois, o diretor disse que não dava mais. Chegariam novos estudantes de um intercâmbio da Holanda (fala sério, Holanda? A Holanda tinha arruinado mais uma parte da vida dele? Era inacreditável. Pelo amor de Deus, a Holanda!) e os dormitórios ficariam todos ocupados.

Se vendo sem saída, abandonou a faculdade de artes, com muito pesar, lágrimas nos olhos e xingamentos jogados ao vento. Com o dinheiro que tinha conseguido vendendo alguns retratos nas ruas movimentadas de Londres e trabalhando em uma pequena loja de materiais de construção do lado da faculdade, foi de trem até Brighton, uma cidade próxima a Londres e com boa fama. E foi lá, naquela cidade quente na maioria dos dias e nada a ver com a Inglaterra que ele conhecia, que as coisas começaram a melhorar. Quer dizer, melhorar dentro dos padrões de um fracassado.

Zayn havia acabado de chegar em Brighton e a primeira coisa a qual pensou foi no quanto estava quente. Ao sair do trem, teve que tirar o moletom grosso que vestia e arregaçar as mangas compridas de sua blusa, ainda assim se sentindo queimar. O sol também não estava pra brincadeiras; o acertava em cheio no rosto, ruborizando a pele pálida e o deixando saber que ficaria ardendo mais tarde.

A primeira coisa que fez, depois de pegar a mala pequena no assento duro onde tinha sentado a viagem inteira e sair da estação lotada de gente, foi agarrar o maço de cigarros no bolso de trás da calça que usava e acender um, enquanto observava as pessoas apressadas andando naquela parte da cidade. Sua ilusão de que Brighton seria calma e quieta foi por água abaixo naquele mesmo instante.