Em Um Piscar De Olhos- sᴀᴍᴇᴇɴᴀ

Capítulo 22

Dani não era boba, sabia que algo não estava certo; conhecia sua filha o suficiente para ver sua expressão triste e confusa. A mulher retirou seu casaco e o pendurou, caminhando até o sofá e se sentando ao lado da garota.

-- O que houve, querida? -- Perguntou com doçura, pois não queria de maneira nenhuma assustar sua filha. Samantha entortou o canto dos lábios e negou com a cabeça.

-- Eu não sei, mamãe. -- Ela disse, tentando discernir o que estava acontecendo.

-- Por que essa carinha triste?

-- Eu... -- Seus olhos azuis encontraram os de sua mãe e por um momento ela corou, desviando o olhar para qualquer outro ponto. -- Eu não sei o que está havendo comigo.

-- Tente explicar para mim, hm? Quem sabe eu possa te ajudar. -- Dani disse, vendo Samantha se virar de frente para ela e assentir com a cabeça.

-- Está bem. -- Disse, deixando seus ombros caírem. -- Desde que eu acordei no hospital eu gosto da presença da Deena, mãe. -- Ela confessou. -- Mas não é igual antes, com as amiguinhas da escolinha, ela é uma amiga diferente.

-- Diferente como? -- Dani perguntou, já tendo uma leve noção do que se tratava, mas mesmo assim querendo ouvir de sua filha.

-- Eu não sei. -- Disse em um suspiro frustrado. -- Eu gosto de colorir, mas aí de repente não estou mais prestando atenção no desenho, estou lembrando de como ela sorri quando me conta uma estória. Eu estou confusa; eu... -- Sua voz se perdeu quando ela começou a chacoalhar a cabeça e seus olhos começaram a tremer, seus cílios piscarem e ela bufar irritada.

-- Calma, filha. -- Dani pediu, pegando uma das mãos de Samantha e acariciando.

-- Não. Eu... Eu não gosto disso. A Dee ficou brava comigo por isso. -- Disse piscando ainda mais, seu rosto levemente corado pela fúria de si mesma.

-- Ela ficou brava? -- Dani indagou.

-- Eu acho que sim. -- Samantha disse, suspirando pesadamente. -- Eu vi alguns filmes onde duas pessoas se beijavam. -- Explicou, começando a brincar com os dedos de sua mãe, que não se importou com aquilo. -- E eu entendi o que eu senti quando estava perto dela. Era isso que eu queria fazer, mas eu não sabia antes.

-- E você disse isso a ela?

-- Não. Eu mostrei. -- Falou, olhando para sua mãe com a expressão repleta de culpa. -- Liga para ela e pede desculpas por mim? Eu prometo de dedinho que não vou fazer mais isso. -- Falou levemente afobada. -- Mamãe, eu juro que guardo a vontade na caixinha de segredos do coração e não faço mais, mas pede para a Dee não ficar brava comigo, por favor...

-- Querida, você a beijou? -- Dani ainda estava presa naquela informação, boquiaberta e surpresa demais para dizer qualquer outra coisa.

-- Eu... Não sei o que está acontecendo comigo. -- Ela disse tristemente. -- Meu cérebro quebrou em alguma das cirurgias e não voltou mais ao normal, mamãe.

-- Querida, o que está acontecendo com você é absolutamente normal. -- Explicou brandamente. -- E aposto que Deena não ficou brava, talvez surpresa.

-- Ela me disse no hospital que também sente as florzinhas. -- Confessou cabisbaixa. -- Eu pensei que ela... Eu pensei... -- Bufou. -- Eu não sei o que eu pensei. Eu não gosto de ter o cérebro quebrado. -- Dani riu e acariciou os cabelos de Samantha.

-- Seu cérebro não está quebrado. Deixa a mamãe te contar algo. -- Dani começou, pacientemente. -- Quando eu conheci o seu pai, eu me sentia exatamente igual a você: Confusa. Eu só pensava nele o dia todo e de como ele reagiria a algo que eu lhe contasse.