Os olhos azuis estavam há quase um minuto presos nos ferros a sua frente, tentando assimilar o que Deena dissera para que ela fizesse. Confiava em Deena, contudo, seu verdadeiro medo estapeou-lhe bem na cara: E se não conseguisse?
-- Que tal se tentarmos depois? -- Sam perguntou e Deena riu suavemente.
-- O que combinamos na virada de ano, hm? -- Perguntou, erguendo uma sobrancelha, mas jamais perdendo o sorriso.
-- Que este ano eu andaria antes da primavera chegar. -- Sam disse e Deena aquiesceu.
-- Exatamente. -- Afirmou. -- E para isso você precisa começar a treinar na barra paralela. -- Sam umedeceu os lábios pensativa antes de olhar para Deena temerosa.
-- E se eu não conseguir?
-- Você vai. -- Disse veemente. -- Seus braços já estão fortes para sustentar o seu peso, agora precisamos trabalhar mais suas pernas.
-- Por que meus braços estão bons e minhas pernas ainda não? -- Perguntou.
-- Nossas pernas exigem mais força de nós, você vai chegar lá. -- Deena insistiu pacientemente. -- Para irmos à piscina da sua casa em alguns meses quero que esteja boa, se não, eu não irei. -- Impôs.
Sam entortou a boca e olhou para a barra antes de voltar a olhar para Deena.
-- Sem Dee de maiô ou biquíni? -- Perguntou e Deena segurou o riso.
-- Sem Dee de maiô ou biquíni. -- Disse irredutivelmente, o que causou um longo suspiro em Sam.
-- Você vai me ensinar a nadar? -- Sam era esperta, queria negociar.
--Sim, mas precisa testar a barra.
-- Se eu cair você não ri? -- Pediu envergonhada.
-- Você não irá cair. Eu estarei bem atrás de você, pronta para te segurar. -- Deena informou e Sam tomou fôlego antes de assentir.
--Tudo bem, me leve até ela. -- Pediu. Queria, a todo custo, voltar a andar novamente; queria os passeios que Deena lhe prometeu; queria poder ter a liberdade de tomar um banho sozinha; de poder subir a bendita escada sozinha; de poder se deitar por conta própria, pois apesar de isso ser algo que ela podia, sua mãe sempre a colocava para dormir.
Não que ela reclamasse, mas havia dias onde ela realmente queria estar sozinha. Aquele era um sentimento novo nos últimos dias, afinal sempre odiara ficar sozinha, porém ter as pessoas em cima dela o tempo inteiro estava começando a incomodar um pouco a menina, mas ela não diria nada a ninguém, não queria ser uma ingrata.
Deena ajeitou a cadeira de rodas em frente à barra e estendeu os dois braços a ela, fazendo a maior segurar suas mãos. Aquele, de longe, era seu toque preferido: O de Deena. Havia se passado três semanas após o natal, porém já sentia falta de Deena dormindo ao seu lado, porque a verdade era que Deena contava as melhores estórias, todavia, o que prendia a atenção de Sam era a voz eloquente de Deena, cheia de vida, fazendo cada personagem ser compreendido perfeitamente.
-- Pronta? -- Deena perguntou e Sam engoliu em seco, mas mesmo assim assentiu. -- No três você vai fazer o que eu te disse, certo? -- Novamente Sam assentiu.
-- Certo. -- Sam disse se preparando.
-- Um... -- Deena começou a contagem, tentando transpassar segurança, porém seu interior estava aflito e ansioso. -- Dois... -- Dani se aproximou um pouco mais, mal podia esperar por aquilo. -- Três. -- Disse por fim, vendo Sam tomar impulso e, com a ajuda do leve puxão de Deena, a garota ficou em pé.
Sam olhou para as próprias pernas sentindo-se diferente, bem distinta do que algum dia já se sentiu. Seus olhos umedeceram e um enorme sorriso preencheu-lhe o rosto, fazendo Deena acompanhar a expressão.
-- Eu sempre imaginei se eu seria mais alta. -- Sam disse sorrindo. -- Você continua linda daqui de cima.
Certo, ainda havia momentos onde Deena enrubescia fortemente ante aos elogios de Sam. Eram elogios inocentes, mas que faziam seu coração flutuar mesmo assim. Um pigarro de Dani fez Deena corar ainda mais, focando no que realmente devia.
-- Certo, vou para trás de você e te guiar. -- Deena disse, segurando a cintura de Sam e indo para trás dela. A menor empurrou um pouco a cadeira para trás e se ajeitou no corpo da maior, tendo suas mãos segurando firmemente na pele de sua cintura. -- Segure nas barras, Sam. -- E assim a menina fez, levando suas mãos brancas até as barras.
-- Eu realmente sustento meu próprio corpo com os braços. -- Sam disse entusiasmada, vendo que Deena não era nada mais que um apoio.
-- Agora quero ande. -- Deena pediu. -- Aplique todo o peso que suas pernas aguentarem, mas fique atenta aos braços, eles te segurarão quando as pernas não ajudarem.
-- Você vai ficar aí, não é? -- Sam perguntou. -- Mamãe, eu vou andar! -- Exclamou com entusiasmo.
--Vou ficar com você todo o tempo. -- Deena disse, esperando Dani dar um beijo no rosto da filha por cima da barra antes de se afastar de novo.
Durante todo o tempo Sam fez todos os exercícios sem reclamar, colocando máximo empenho em tudo, mas houve uma hora em que seu corpo estava extremamente cansado, que ela já não aguentava muito. Deena soube ler seus movimentos, a colocando na cadeira novamente. Apesar da evidente exaustão, Sam parecia tão feliz que acabou por segurar a mão de Deena e plantar um beijo sobre a delicada pele.
-- Obrigada, Dee. -- Pediu alegremente, fazendo Deena sorrir diante do gesto.
-- Obrigada você por tentar. Agora preciso continuar o trabalho, tenho mais alguns pacientes. Nos vemos amanhã pela manhã. -- Deena disse, pois já fazia parte de sua rotina visitar Sam e Dani todos os dias. -- Fiquem com Deus. -- Deena disse, se inclinando para deixar um beijo no rosto de Sam, sem embargo, foi surpreendida quando a menina virou o rosto, fazendo seus lábios se encontrarem.
Deena corou assim que se afastou e seus olhos, automaticamente, foram para Dani. Será que a mulher pensava que sempre que elas ficavam sozinhas faziam isso? Céus, o embaraço a dominou completamente.
-- Huh, eu... - O riso calmo de Dani contradizia o aparente constrangimento em seu rosto.
-- Vá, querida. Está tudo bem. -- Dani disse e Deena assentiu, segurando a mão de Sam e depositando um beijo ali.
-- Nos vemos, princesinha. -- Disse sutilmente, vendo Sam assentir freneticamente.
-- Até amanhã, Dee. -- Sam disse, fazendo Deena sorrir antes de sair. Apesar do evidente embaraço, ela ainda assim podia sentir seus lábios formigando e seu coração agitado.
Sem perceber um sorriso brincava em seus lábios.
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Em Um Piscar De Olhos- sᴀᴍᴇᴇɴᴀ
أدب الهواةSamantha Fraser tinha apenas seis anos quando seus pais decidiram tirar as tão famosas férias em família. Iriam para a Tailândia, porém, o destino lhes foi cruel, causando o choque de um caminhão desgovernado contra o carro onde estavam durante o ca...