Minutos depois Barbyken embala minha mão para fora do quarto. Eu, ainda com ranho escorrendo pelo nariz e maquiagem escorrendo pelo rosto, caminho com dificuldade, mal enxergando o sombrio corredor do hotel.
Pela luz difusa, distingo meus amigos: Mary, enrolada em uma toalha de banho branca e com máscara facial, segura rodelas de pepino nos dedos magros. Manu e Soja, que estão com avental e touca de cozinheira e os rostos sujos de farinha, seguram uma cumbuca e um batedor de metal sujo de algo marrom semilíquido e semissólido. Luiz Inássio, deitado no chão com as costas apoiadas na parede, lê um livro novinho de vermelho.
Todos eles encaram a minha tristeza e o pesar de Barbyken.
– Bruna – Mary chama com voz preocupada, mas eu não olho para ela.
Só tenho olhos para o chão, para o tapete, para baixo.
Não consigo suportar levantar a cabeça e olhar para meus amigos. Não sou forte o suficiente para olhá-los e dizer o que fiz.
– O que aconteceu? – Soja pergunta.
– Nós ouvimos gritos e choros – Manu explica.
– Tá tudo bem? – diz Luiz.
Barbyken acaricia minhas costas e aperta a minha mão. Retribuo o aperto, querendo agradecer pela força que me fornece.
– Eu– engasgo.
As lágrimas voltam a surgir em mim e todo o peso de meus atos me assola mais uma vez. Curvo o corpo e me viro para Barbyken, que me abraça.
Sem eu ter de dizer aos meus amigos o que aconteceu, eles entendem. De alguma forma sentem a ausência de Justinho e não perguntam mais nada, apenas se unem para um abraço em grupo, comigo e Barby no centro. Aqui, eles confortam a mim e a si mesmos, todos sentindo a desolação da perda de uma alma tão boa...
E no calor do nosso abraço ouvimos tecido se mexendo, farfalhando rapidamente no mesmo ritmo de pequenos estalos no piso de madeira.
Afastamos nossas cabeças uns dos outros e olhamos para a direção do som.
Mais adiante no corredor, Xanaína imita Doslagos e comemora a morte de uma pessoa. Enquanto dança de maneira estúpida, remexendo os braços e mãos e o corpo em ângulos inconvencionais, murmura a letra de uma música incompreensível devido a seu fôlego horrível e aos barulhos de seus saltos altos.
Sugando mais ar do que o exalando em notas harmônicas, Xanaína parece não perceber os sentimentos ruins que nós sentimos. Não percebe ou não se importa...
Nós a encaramos com nojo e descrença.
– Ô, Xana – Luiz Inássio resolve que ignorar a mulher não é a melhor opção. Xanaína olha para Luiz e continua a mexer braços e mãos e cabeça, mas suas pernas permanecem cravadas no chão. – Você podia ter mais respeito, não é?
– Respeito pelo quê? – Xanaína estremece o corpo. – Aquele lá não merece meu respeito!
E ela volta a dançar com as pernas também.
A voz de Mary exala incredulidade:
– Impressionante como ela está tão insensível com a morte de Justinho sendo que antes ficou super abalada com a morte de Jafui e Daniele!
– É normal – Soja diz, seca. – Gentinha assim sempre age como se a vida de seus amigos valesse mais do que pessoas "de fora".
Xanaína segue dançando enquanto a luz diminui. Pela janela de vitrais atrás da ""dançarina"", o poente colore os reflexos no corredor com tons alaranjados e arroxeados, que se misturam ao verde do tapete e formam as cores do Halloween que era para ser uma festa do pijama mas virou tristeza.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Halloween de Bruna Cardashian
HumorBruna Cardashian está diferente. E quando eu digo diferente, eu quero dizer maquiada. E quem também está assim é sua amiga soja.militei, ambas no quarto de Bruna e observadas por uma figura deveras curiosa... Seguindo por ruas tortuosas, estradas...