Capítulo 5

38 0 0
                                    

Louise- Horas Antes de Dandara Acordar


   Antes de visualizar o local onde estava, eu já sabia que não estava na minha caminhonete, em casa ou no acampamento. Isso porque nenhum desses lugares possui um cheiro de algum tipo de incenso de canela.

   Não sei quanto tempo se passou, ou o que aconteceu nesse tempo. Sentia como se estivesse deitada sobre um colchão de penas, tão aconchegante que eu precisaria de um grande esforço para me levantar. Tirando o ferimento que havia em minha cabeça, ferimento este que não doía tanto quanto antes. Eu não sentia mais nada em meu corpo, nenhum arranhão, nem qualquer outro tipo de dor. Nada.

   Mesmo que não tivesse mexido um músculo, eu ouvi uma voz masculina, a mesma voz que ouvi antes de desmaiar na caverna, dizendo:

    — Não adianta fingir que ainda dorme, dá para perceber que você já acordou.

   Ao abrir meus olhos, me dou de cara com o homem mais pálido e magro que eu já vi. Ele estava sentado sobre uma cadeira que ficava a uma distância relativamente curta da cama onde eu ainda continuava deitada. Seus olhos cor de sangue me observavam atentos, de certa forma tensos e impiedosos, como se estivesse calculando até a minha própria respiração. Sua postura rígida juntamente com seu olhar severamente concentrado faziam um contraste em relação ao ambiente tranquilo e iluminado que pairava ali, como se ele fosse uma sombra.

    — Não vou te machucar, não se preocupe — Continuou o homem enquanto brincava com um pedaço de folha fina que estava em sua mão. — Eu não sou do tipo de pessoa que tenta disfarçar as próprias intenções. Eu sou sincero— Continuou ele, enquanto esboçava uma expressão mais relaxada e serena. Sua mão se estendeu até mim, com a palma virada para cima. — Eu te devo algumas explicações, com certeza, mas, antes disso, eu preciso que confie em mim e no que vou dizer.

   Eu não podia confiar nele. Ele me dopou com aquele cheiro doce, me sequestrou e agora quer fingir ser uma pessoa boa? É óbvio que esse homem era qualquer coisa menos confiável. Por isso, não pensei muito antes de agarrar seu braço e o puxar com toda a força que podia até o chão. Por um momento eu consegui fazer com que ele cedesse a minha força, porém rapidamente seu braço parou, e uma fita escura se agarrou a mim, me puxando até o colchão suave e me prendendo ali mesmo. Não me dei por vencida e comecei a me debater, seja puxando ou tentando rasgar aquela merda de fita, embora parecia que quanto mais eu me debatia, menos pareciam as minhas chances de escapar daquela coisa esquisita.

    — São Fitas de Sombra, você não vai conseguir rasgar ou cortá-las tão facilmente. Mas posso desfazê-las quando você se acalmar e ouvir o que tenho a dizer— Disse o homem pálido, que agora já estava de pé, alisando a região que agarrei, mas sem tirar os olhos de mim em nenhum momento — Eu não quero te machucar, Louise. Não somos seus inimigos. Na verdade, você é uma de nós. E vai ter de ficar com a gente. Quanto mais cedo você se acalmar, mais cedo vai ter as respostas que você quer.

   Passados alguns minutos, me acalmei. Tive de me acalmar. Não parecia que ele ia desembuchar caso eu permanecesse do jeito que estava e, além disso, quanto mais eu me mexesse, mais aquelas fitas me apertavam e me machucavam. Não tive outra escolha. Quando o homem percebeu que eu já estava mais calma, ele afrouxou as fitas de algumas formas e se aproximou.

    —Eu não quero machucar você, não quis usar essas fitas, mas eu fiquei com medo de você se machucar. De qualquer forma, meu nome é Edgar. E eu sou de uma raça humanoide semelhante a sua, ou pelo menos que você acha que é...

    — Ela já acordou, Eddie?- Em meio a isso, Edgar é interrompido por uma mulher que entrava no quarto.

   Era a mulher do sacórfago. De pé, eu conseguia visualizar o quão alta ela era. Assim como o homem de cabelos negros, ela passava facilmente dos dois metros de altura. Era impressionante como aquela mulher conseguiu uma aparência extremamente viva em tão pouco tempo. Seus cabelos ruivos, antes apagados e ralos, agora brilhavam à luz do sol que aparecia através da janela. Seus olhos vermelhos, tais como os de Edgar, deram mais destaque àquela feição tão linda. Definitivamente uma das mulheres mais bonitas que já tinha visto.

As Bruxas de EndorityaOnde histórias criam vida. Descubra agora