Capítulo 2

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Dandara

Acordei mais cedo do que Louise nesta manhã. Embora não pareça muito cedo, o dia parecia mais escuro do que ontem. Felizmente, não tive nenhum sonho ou algo parecido ao dia interior mas, em compensação, minha cabeça latejava, como se tivesse recebido uma pancada muito forte. Era melhor que eu saísse da barraca, de maneira que não acordasse a Louise, preferencialmente.

Assim que pisei na terra úmida, fui recebida com a brisa gélida sobre meu corpo, acompanhada dos sons de passarinhos cantarolando na manhã e um ambiente nublado com nevoeiro. Aquele ambiente era tão relaxante que eu até pensei em ficar deitada observando o local até aquele clima se desfazer. Olhei para a barraca novamente. Louise ainda dormia como um anjo.

Não demorei muito pra preparar nosso café da manhã, no qual seria pão com presunto e salada. Preparei nossos pães delicadamente quando reparei no silêncio desconfortável que se instaurou de repente. O vento havia parado de correr, os pássaros de cantar, até as árvores pararam de farfalhar. O único ruído no qual se ouvia era as águas das cachoeiras atingindo o rio. Quase imperceptível. Como se, algo estivesse se aproximando.

Como a névoa não passava, o primeiro instinto que tive foi pegar, utilizando uma mão, o resto de madeira que utilizamos como lenha na última noite. Fiquei em posição de defesa improvisada e apenas observei. Nada. Não há passos ou figuras estranhas. Apenas o som da queda d'água a alguns metros de distância. Mas, algo ainda estava estranho, algo ainda continuava errado. Sons confusos, baixos demais...

Finalmente, ouço alguma coisa, mais adiante da cachoeira, vindo da região das montanhas. Tinha alguma coisa lá.

Larguei a lenha que peguei do chão e fui em direção à minha mochila. Abri ela e verifiquei tudo que havia trazido para a expedição. Água, comida, roupas, repelentes, tudo estava lá assim como planejei. Ótimo. Quando olhei em direção às montanhas novamente, aquela sensação havia desaparecido completamente. O que quer que eu senti estar ali, desapareceu.

Provavelmente foi alguma coincidência, ou coisa da minha cabeça. Se já passou, é irrelevante pensar sobre. Mas, e se fosse alguma coisa? Algo está acontecendo? Pode ter sido a presença de um animal. Ou qualquer coisa do tipo... Afastei isso de meus pensamentos, era um passeio de férias, jamais algo assim poderia ser perigoso. E se foi, já passou.

- Danda, tá tudo bem?- Louise estava ali, não sei há quanto tempo. Mas supus que tenha sido tempo suficiente para ser expectadora daquele delírio meu acompanhado do meu showzinho de brinde.

- Ah, oi Lou, tô bem sim. Não reparei que havia acordado. Você tá bem também? Fiz alguns sanduíches para nós, e também tem água. Acabei esquecendo de trazer pó de suco. Então, vamos comer?- Perguntei tentando disfarçar ao máximo essa vergonha que sentia por aquilo.

- Vamos comer sim, mas...- A garota deu uma longa pausa no meio de sua fala. Isso com certeza deixou claro que ela viu.- Ah, deixa pra lá, não é nada importante.- Os olhos cinzentos da garota encontraram ao chão, com menos brilho. Como se algo tivesse acontecido com ela.

- Não, pode falar, o que aconteceu? - Ok, ela certamente estava estranha. Eu sei que meu showzinho não é coisa que se vê todos os dias, mas não era para tanto.

- Não é nada, já disse, vamos arrumar as nossas coisas para irmos, temos tanta coisa para fazer, visitar as montanhas, as cachoeiras, e tudo mais...- sugeriu ela sorrindo em uma tentativa fracassada de transmitir tranquilidade e alegria. Porém, a feição dela claramente dizia alguma coisa, algo que eu não conseguia muito bem definir o que era, mas tinha certeza que não era felicidade ou empolgação.

As Bruxas de EndorityaOnde histórias criam vida. Descubra agora