Capítulo 1

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Ferro... o ar tinha cheiro de ferro... e alguma coisa fazia peso contra suas costelas, o sol já estava alto no céu, ele tentou se levantar mas uma dor lancinante na lateral do corpo lhe impediu, estava sangrando, tentou erguer a cabeça para ver o que o prendia ao chão, sua visão demorou a se ajustar, mas, quando conseguiu enxergar, percebeu que era um corpo, vários na verdade... ou o que sobrará deles.

Tentou mais uma vez, ignorando a dor do ferimento, com mais duas tentativas conseguiu se arrastar para longe da pilha de cadáveres, o suficiente para ver que sua perna esquerda também estava ferida, um corte de pelo menos dez centímetros de comprimento marcava sua coxa, mas era apenas superficial, ao olhar em volta percebeu que um mar de corpos o cercava, tinha de sair de lá, entretanto, uma sombra cobriu o sol.

.........

Era uma noite de primavera, o céu estava limpo, as estrelas brilhavam ao longe e a lua estava cheia iluminando a escuridão, mas esse esplendor foi cortado pelos gritos dos moradores.

‐Eliminem todos, não deixem sobrar um sequer! - Vociferou alguém do lado de fora da casa.

‐Rápido, debaixo do assoalho, esconda-o - Ordenou o homem para a mulher.

‐Preciso que fique aqui, entendeu querido? - Pediu a mulher enquanto segurava o rosto do menino entre as mãos. - Não faça nenhum barulho entendeu? Pode fazer isso para a mamãe? - O menino assentiu, então as tábuas cobriram o buraco deixando apenas algumas frestas para observar.

No momento seguinte a porta foi arrombada, quatro homens entraram com espadas em punho, todos vestiam armadura branca e vermelha com uma marca sobre o coração, uma espada apontando para baixo e um círculo dourado ao redor.

O homem, seu pai, empunhava uma espada ficando entre os invasores e a esposa.

‐Olha o que temos aqui, um fazendeiro brincando de soldado. - Zombou o primeiro homem a entrar.

‐Será que ele sabe como se usa isso? - Zombou outro.

‐Vocês são Cavaleiros Templários, soldados de Deus, por que estão fazendo isso? - Perguntou sua mãe a descrença estampada em seu rosto enquanto o marido mantinha posição.

Como se algo engraçado tivesse sido dito os agressores começaram a rir.

‐Por que isso nunca perde a graça? - Perguntou um.

‐Talvez porque as pessoas sejam estúpidas por natureza, por isso é engraçado. - Respondeu outro.

Um momento depois um deles falou.

‐Respondendo a sua pergunta gracinha, é simples, esta guerra não passa de um artifício para diminuir o "gado", Érebo o senhor da luz fez com que o reino do inferno surgisse aqui para que pudesse se livrar dos inúteis. - Explicou o primeiro a entrar enquanto apontava para o casal. - Vermes imundos como vocês plebeus não passam de uma doença, vocês deveriam se ajoelhar e agradecer pela nossa benevolência em deixá-los viver sobe a sola de nossas botas, mas vocês adoram conseguir independência não é? - Questionou o cavaleiro. - Por isso, todas as ditas "cidades livres" sofrem o mesmo destino: Destruição pelas mãos dos demônios.

O horror que emanava do casal era palpável.

‐Então... todas as cidades atacadas por demônios... ?

‐Todas não. - Interrompeu um. - A maioria realmente foi atacada e destruída pelos demônios, o restante, esse sim foi obra nossa, assim como essa sua cidadezinha ridícula.

Sem pensar, o marido atacou o mais a frente do grupo, o golpe foi aparado sem muita dificuldade, assim como o outro e o outro e o seguinte, ele levantou o braço para mais um golpe mas não foi rápido o bastante, outros dois homens se aproximaram, um cortou o braço que segurava a espada o outro atravessou a lâmina pelo peito transpondo o coração, o corpo caiu com estampido no chão e o sangue rapidamente formou uma poça, a esposa gritou e lágrimas já começavam a cair pelo rosto.

Nascido das CinzasOnde histórias criam vida. Descubra agora