Capítulo 2

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Estava escuro e a visão estava embaçada, quando se adaptou a pouca luminosidade ele percebeu que uma pequena lanterna a óleo em cima de um caixote a sua esquerda era a fonte daquela fraca luz alaranjada, um segundo depois notou uma silhueta negra sentada ao lado da fonte de luz, ele tentou se mover mas, além de correntes que prendiam seus braços uma faca foi posta em sua garganta, ele olhou na direção de quem segurava a arma movendo levemente a cabeça, era uma mulher, por conta da luz da lanterna se tornava difícil saber a cor de seus cabelos, ora pareciam castanho-escuros, outra, pareciam vermelho-claros e estavam presos em um rabo-de-cavalo, seus olhos eram de um tom claro de verde que o lembrava de felinos selvagens, a pele parda era marcada por sardas e uma leve cicatriz no lado esquerdo da mandíbula que descia até o pescoço, os lábios finos estavam fechados em uma linha reta, entretanto, quase que imperceptívelmente, um dos lados se levantou, como se esperasse que ele fizesse uma besteira apenas para lhe cortar a garganta, ela trajava uma camisa branca de mangas curtas folgada e calças finas de couro, provavelmente para ter mais liberdade de movimento em uma luta, ela não deveria ser muito mais velha que ele presumiu.

‐Quem é você? - Perguntou a sombra, um homem pela voz grossa e imponente.

Tirando lentamente os olhos da assassina ao seu lado ele olhou na direção do homem nas sombras e o encarou, seus traços não eram visíveis aquela distância, o homem mexia uma adaga de um lado para o outro com a ponta tirando lascas da madeira.

‐... ? - Ele tentou falar mas a garganta estava seca, o homem pareceu ter percebido isso pois logo acenou levemente para a assassina, relutante ela tirou a lâmina de seu pescoço e se levantou indo em direção ao que parecia ser uma mesa no canto mais escuro e distante da sala - da cela se fosse ser realista - pegou uma jarra e despejou o líquido em um copo, ao voltar até onde estava ela lhe ofereceu o copo, ele a encarou por um tempo e então ela disse.

‐Beba... - Ela falou inclinando o copo para ele, quase uma ordem, sua voz era calma mas transparecia autoridade. - Não está envenenado - Ela completou por fim.

Relutante, ele bebeu, realmente não parecia estar adulterada, até onde sabia, ao terminar de beber ela levou o copo de volta a mesa e ele falou então.

‐Obrigado - Ele agradeceu, sua voz ainda fraca mas, conseguiu transmitir o sentimento de gratidão, ela apenas o encarou, em seguida ele voltou a atenção ao homem. - Respondendo a sua pergunta, sou Feyr Blake, soldado. - Ele parou e olhou novamente para a mulher. - E você?

‐O que é você? - Perguntou-lhe o homem, sua voz parecia ter subido levemente o tom, irritação, interessante.

‐Não entendi a pergunta. - Apesar de estar acorrentado, sem armas e em menor número, Feyr sorriu como se achasse graça da pergunta.

‐Perguntei que porra você é? Humano ou Demônio? - Com isso Feyr contraiu o cenho e mais uma vez encarou o homem.

‐Humano. - Ele respondeu, também deixando transparecer levemente sua irritação com a pergunta. - Ou será que não pareço humano, por acaso criei chifres ou algo assim? - Perguntou sarcasticamente para aliviar o incômodo que sentia mas não durou muito, porque a resposta do homem veio logo em seguida.

‐Algo assim... - Ele falou, a descrença de Feyr deveria estar óbvia em seu rosto pois no momento seguinte ele falou para a mulher. - Mostre.

Ela então pegou uma espada que estava oculta pelas sombras e a retirou da bainha mas, não totalmente, o metal polido da lâmina serviu como espelho, ela se aproximou o suficiente para que Feyr pudesse observar o próprio reflexo, seus olhos, antes castanho-claros agora eram de um tom escuro de vermelho, seus cabelos, outrora negros estavam incrivelmente brancos, isso era perceptível mesmo com a iluminação precária, entretanto, percebeu que sua cicatriz na bochecha esquerda permanecia, um momento depois, desviou o olhar para seu corpo, os ferimentos causados pelos demônios não mais existiam, olhou para seu ombro direito, estava enfaixado, provavelmente o fizeram depois de tirarem a flecha, o curativo estava limpo, deveria ter sido trocado não tem muito tempo e pelo fato de que não doía ao mexer já estava curado, provavelmente ficará desacordado por dias o que explicava a secura na garganta, tendo passado o choque inicial ele perguntou.

Nascido das CinzasOnde histórias criam vida. Descubra agora