Sara, a Mss. Purple

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Olhando as pessoas com um pouquinho de cuidado (depois de séculos), eu conheci a Sara. Um caso específico, consequência de uma realidade superprotetora. Ela tinha dezoito anos quando a gente se conheceu e tinha acabado de entrar pra faculdade. Tinha se mudado da casa dos pais por causa disso. Você já deve imaginar o que aconteceu, né? Ela fez o que vocês chamam de 'despirocar'.

No meio desse processo, a gente se conheceu. Ela tava numa vibe, eu vivia nessa vibe... A gente se encaixou. A coisa acabou saindo da pegação e a gente se deu bem de verdade, viramos amigas. Ela era um anjinho de inocência querendo viver no meio de morcegos. Ela era irresistível pra qualquer um. Cabelos longos (até o meio das costas), ondulados e com luzes; olhos verdes e penetrantes, mas ao mesmo tempo simpáticos; um jeitinho fofo de falar e agir. Ela era realmente um anjo no meio de morcegos e achava que era igual a eles só porque todo mundo tinha asas. Eu precisei tirar ela de algumas furadas até ela aprender, de fato, a voar de noite. Hoje em dia, inclusive, nós dividimos um apartamento.

Com o tempo e a convivência, ela descobriu que eu era de outro lugar e que eu podia fazer algumas coisas que as pessoas consideram... Não naturais.

Já tem dois anos que a gente se conhece e, recentemente, ela me fez um pedido inesperado. Ela me pediu poderes. Sim, poderes, mas não como os meus. Ela tinha em mente um filme que a gente tinha visto algumas semanas antes. Ela realmente amou o filme e ficou com uma personagem na cabeça. Ela me pediu pra recriar os poderes da personagem nela. Foi a primeira vez que alguém me pediu algo assim. Eu respondi com toda sinceridade do mundo:

-Eu nunca fiz isso antes

-Mas você consegue fazer isso, né? - Ela perguntou sem muita confiança, com um tom de torcida pra que eu respondesse que sim

-Teoricamente sim, mas eu precisaria descobrir como

-Se você descobrir, eu faço o que você quiser

Miserável... Ela acertou meu ponto fraco.

De todos os poderes que eu tinha e que eu podia ter, esse era o mais gostoso deles. Dava prazer de ouvir essas palavras que ela tinha acabado de falar pra mim. Eu tentaria fazer de qualquer forma. Inclusive, não tinha nada que eu quisesse dela que eu já não tivesse e/ou que ela já não tivesse me dado. Ou seja, não existia nada mirabolante, nem um preço alto demais pra isso. Eu faria porque ela é minha amiga e confio nela. Mesmo assim, essas palavras ainda me davam um prazer indescritível.

Tentei pensar no que poderia resolver isso. Pensei no que separava a gente. Existe uma identificação dimensional em tudo, digamos assim. Tentando fazer uma analogia, é como se cada ser (ou coisa) fosse uma onda sonora. Se tivesse origem na minha dimensão, seria uma onda com um tipo de frequência; se fosse original dessa dimensão aqui, tinha outra frequência. Pra ser mais precisa, é como se a minha frequência fosse maior que a dela. Eu tinha que deixá-la numa frequência que desse certas liberdades pra ela. MUITO resumidamente, é isso, mas a prática era bem mais complicada. Era uma alteração que ia além de DNA e ia também um pouco além das estruturas moleculares que formavam a matéria dela. Sim, era muita viagem pensar nisso, mas eu consegui pensar na hora (pra você ter noção do poder que aquelas palavras tinham...)

-Eu acho que eu pensei numa coisa... - Eu disse ainda tentando terminar o raciocínio internamente

-Sério?? Do que você precisa pra gente fazer isso?

-Teoricamente, de nada. Eu consigo fazer sem precisar, sequer, estalar um dedo, mas...

-"Mas..."?

-Assim não teria graça - eu disse sorrindo com um tom safadinho... - E eu aprendi aqui que tudo gira em torno de algo ter ou não graça

Os acordos de NayaOnde histórias criam vida. Descubra agora