Eu deveria começar me apresentando, né? Prazer, sou Naya. Eu não sou daqui, eu vim de outro lugar. Pra ser mais precisa, eu sou de outra dimensão. Soa forte falando assim, né? Mas não é nada demais, é só um lugar diferente. Eu fui expulsa de lá há muito tempo. Depois disso, passei algumas temporadas aqui e outras alternando entre lugares. Sempre tinha alguma coisa nova pra aprender e isso me faz bem, me deixa mais forte. De todos as dimensões que eu já fui, essa aqui é a que mais me ensina coisas. É por isso que, mesmo com as minhas possibilidades e experiências, eu acabo sempre voltando pra cá. A humanidade me ensina (principalmente com seus erros) e a humanidade tem um jeitinho especial de sentir certas coisas... Um jeitinho com o qual eu me identifico muito.
Por eu ter vindo de um lugar diferente, eu não sou exatamente o que as pessoas enxergam. Resumidamente falando, eu sou uma criatura que pode mudar de forma e manipular matéria e energia. Eu posso me tornar literalmente qualquer coisa que eu imaginar. Minha limitação é a minha criatividade. A minha 'espécie' tem por natureza uma limitação forte nesse sentido, mas a nossa realidade lá é bem diferente da de vocês. Eu realmente aprendi muita coisa aqui e minha veia criativa é exercitada a cada dia. Isso me deixou muito mais 'habilidosa' do que os outros do meu tipo. Mesmo assim, isso não importa muito. Lá não existem os conceitos de competição, disputa e briga, por exemplo. Nossa natureza era bem pacífica e, sinceramente, quando lembro de lá, eu hoje acho aquele lugar um tédio. Hoje em dia, aqui é bem mais tranquilo e divertido pra mim, mas quando eu cheguei, eu fiquei assustada. Minha primeira reação foi virar uma poça d'água. Foi a coisa mais simples que me transformei e uma das mais poderosas até hoje.
Nessa forma, eu observei um pouco e descobri que água evapora. Evaporei. Me misturei no ar e transitei entre as pessoas, entre os bichos, entre a sociedade. Aprendi muita coisa, mas ainda estava bem longe de conseguir me transformar em humana.
O tempo foi passando e... Precisei aprender sobre ele também. As noções de tempo da minha realidade natal são completamente diferentes. O tempo acabou sendo meu aliado aqui. Quando consegui me adaptar a ele, eu consegui aprender muito. Cheguei até a desenvolver umas teorias sobre como manipular o tempo e viajar através dele, mas nunca botei em prática porque era algo difícil demais até mesmo pra mim.
Tudo isso que estou falando é um resumo sobre como me tornei o que sou hoje. Eu precisei estudar bastante até conseguir me transformar em um corpo humano que funcionasse de verdade. Meus primeiros corpos na humanidade eram só pele. Visualmente, era a mesma coisa que uma pessoa normal, mas por dentro, eu não tinha nada.
Hoje em dia eu ainda não sou nenhuma bióloga, mas sou uma humana 'de verdade', com um autocontrole incrível e algumas habilidades extras (típicas da minha espécie). Eu consigo escolher minhas vontades, necessidades... Escolho estar vulnerável ou não. Isso pode soar estranho pra vocês, mas estar vulnerável e não ter reações involuntárias é algo bem divertido. Acredite em mim, do meu ponto de vista, eu já consegui ver mais de um lado dessa história. Talvez vocês não vejam mais graça porque é sempre assim, mas eu ainda acho bem divertido (mesmo depois de séculos).
Nesse tempo todo que fiquei entre vocês, eu também vi que certas coisas não mudam. Não importa a dimensão, o universo... Sociedades funcionam com o mesmo tipo de mecanismo na base, e todas acabam tendo o mesmo tipo de situação e de casos específicos.
Ainda não expliquei como eu vim parar aqui, né? Então... Fui expulsa da minha dimensão natal por ser 'promiscua' demais. Por causa disso, consideraram que eu não me adequava àquele modelo de sociedade que funcionava lá e eu fui banida. Soa familiar? Pois é, eu disse que funciona da mesma forma. Por causa dessa expulsão, eu consegui aprender a viajar entre as dimensões. Foi o que me permitiu chegar até aqui.
De forma resumida, esse foi o caminho que eu tracei. Eu sou hoje assim... De todas as coisas nas quais eu posso me transformar, essa atual é minha forma favorita. Me inspirei numa moça que conheci no século XVIII, ela era incrível. É o meu jeitinho de fazer uma homenagem. Adaptei algumas coisinhas pros dias atuais, mas é completamente baseada na mulher que conheci naquela época. De todo esse tempo, ela foi a que mais combinou comigo. Eu tentei ser homem algumas vezes, mas não funcionou muito bem. Na época, eu ainda não sabia direito como ser um humano e ainda tinha que aprender muito sobre a coisa na qual eu estava tentando me transformar. O que eu descobri foi que, quando mais eu aprendia sobre os homens, menos eu gostava de ser um. De tudo que eu aprendi, a única coisa que parecia funcionar bem num homem era a genitália. Tirando isso, não dava pra aproveitar muita coisa. A cada descoberta, eu me identificava mais com o outro gênero.
Com anos aprendendo e me polindo, eu me tornei o que sou hoje. Eu arrisco dizer que escolhi ser o que sou, mas não gosto muito de usar esse termo. Eu sei que pra vocês não é uma questão de escolha e eu já vi que tem muita gente que sofre com isso (sofrimento também foi um conceito que tive que aprender do zero).
Usando essa expressão não tão adequada, eu te digo que escolhi ser humana, escolhi ser mulher, escolhi meu nome... Escolhi tudo, até o tamanho do meu dote (sim, tinha coisa nos homens que era reciclável). Essa sou eu. O que lá achavam promíscuo, aqui vocês admitem que é divertido. Me senti muito bem recebida por causa disso e vou contar algumas histórias minhas pra vocês...
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Os acordos de Naya
Cerita PendekNaya é uma deusa que veio de outro lugar. Ela acabou criando uma simpatia pela raça humana e escolheu passar boa parte dos deus dias aqui. Depois de aprender mais sobre nós, ela passa a ter uma vida 'normal', até uma amiga faz um pedido inusitado...