O grilhão de renda...

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Encarou-o de baixo para cima.

Kimhan tinha um retalho de renda branca no pescoço, alvo como as peças de roupa que Porchay usava quando foi importunado novamente. Ao erguer o olhar, fitou prontamente o adorno de tecido, que destacava um sutil sinal amarronzado que o homem tinha pouco acima da clavícula.

Quis lambê-lo ali.

E desenlaçar o adereço com a boca, como se o laço na verdade embalasse um presente só seu.

Se descesse o olhar, poderia espiar um pouco melhor certa trilha proibida, cujo relevo revelava um peito parcialmente desnudo devido à folgada vestimenta que era então utilizada. Bufou, fingindo desinteresse, e voltou suas órbitas para as páginas:

— O que quer, Kim?

— Você não tem dado atenção a mim o dia todo, Chay. Só sabe ler esse livro... Eu sinto sua falta.

Kimhan pousou a mão no outro braço da poltrona acinzentada em que seu querido estava, encarando-o com os lábios ligeiramente entreabertos. "Esses lábios sempre tão corados e tão macios...", pensou Porchay, que ficou a ponto de salivar. Inflando os pulmões devagar, sustentou uma troca de olhares demorada com aquele que rogava por seus direitos.

O ângulo das acastanhadas órbitas alheias invadia o mais novo como brisa fresca.

Como brasa ardente.

E acalentava.

E consumia.

— O que você quer que eu faça? — Sabia que vento e chama, juntos, podiam resultar em incêndio.

Mesmo assim, brincava com fogo.

— Eu só queria um pouquinho mais de você... — O homem fez bico. — Eu faria qualquer coisa por isso...

Porchay finalmente fechou o livro que fingia ler, mantendo-o pousado sobre o colo.

— Qualquer coisa? — Passeou com o indicador de uma das mãos pela capa envelhecida do objeto.

— Qualquer coisa... — Emitiu, a voz pausada e arrastada.

O jovem sorriu e encarou, sem disfarçar, o laço de renda que enfeitava o pescoço do outro, que notou o gesto e tocou brevemente o tecido.

— Então vem de quatro até mim... — Era a vez de Kimhan ser aquele olhado de cima.

O mais velho obedeceu, o semblante oscilando entre curioso e lascivo. Rebaixou-se lentamente, ofertando a Porchay o espetáculo da contemplação de um corpo colocando-se abaixo de si.

E o homem engatinhou.

E sustentou um olhar oblíquo a cada passo.

E era brisa, brasa, labareda.

Chegando aos pés daquele que era seu mestre, exibiu orgulhosamente o pescoço. Este, com o auxílio da ponta do sapato, ergueu um tanto mais a cabeça alheia. Encarou o sinal, a musculatura em destaque, a delicada renda que contornava a vulnerável região que lhe era confiada.

— Bom garoto.

Inclinou-se e passeou com os dedos pela ponta do retalho que pendia do laço, e só então retirou o pé de seu queixo. Tendo distribuído breves carícias pelo pedaço de tecido, envolveu-o com uma mão e puxou-o com firmeza moderada. Kimhan arfou de surpresa e de dor.

— Hoje você está usando uma coleira para não se esquecer de quem é seu dono... mas bons garotos são recompensados.

Kim sentou-se sobre as panturrilhas.

— Que recompensa eu mereço, meu Chay?... — Encarava-o como se compartilhasse um segredo sujo com suas órbitas.

Porchay elevou-o vagarosamente, analogamente a quem conduz seu animal de estimação com uma guia, e acomodou-se mais na extremidade da poltrona. Kimhan foi trazido até seu colo.

— Aquilo que cachorrinhos como você mais gostam de fazer... lambidas.

O mais novo beijou o pescoço alheio antes de buscar desejosamente o sinal que se destacava, apesar de sutil, avizinhado aos bordados de renda que compunham uma coleira em suas mãos.

E lambeu-o, ascendendo até o queixo e permitindo que sua língua ondulasse pelo tecido no meio do caminho.

— Meu cachorrinho tem um gosto tão bom...

Obedientemente, Kim fechou os olhos e expirou vagarosa e tremulamente. Ofertava-se, tal como presente, a seu adorado dono — o qual, por sua vez, passou a distribuir brevíssimos beijos pelo grilhão que mantinha o primeiro passivo diante de si.

— O que meu Chay preferir... — Arfou. — ... seu cachorrinho estará disposto a oferecer. Qualquer coisa por sua atenção...

Aquele carente cãozinho de modo algum fugiria.

Sabendo disso, Porchay decidiu liberá-lo de sua coleira.

Com a boca.

Com amor e erotismo, KimChay.Onde histórias criam vida. Descubra agora