SEPARADOS

10 DIAS DESDE A SEPARAÇÃO

Está escuro na cela quando ele abre os olhos novamente. O sedativo ainda o está deixando grogue e Hannibal faz várias tentativas para focar sua visão.

Há uma figura do outro lado da parede de vidro. Ele aperta os olhos, lutando contra sua visão nebulosa até que Margot Verger se solidifica diante dele. Ela parece tensa, exausta e sombria, mas não como se estivesse de luto, mais como se sentisse culpada. Seu coração salta, e um sentimento tão assustadoramente próximo da esperança está tomando conta dele e ele se odeia por isso.

Margot franze os lábios.

- Você fez uma das enfermeiras abandonar seu cargo por conta da sua birra de ontem, sabia.

Hannibal não responde. Ele nem tem coragem de ficar bravo com o comentário de 'birra'.

Ela suspira e se aproxima do vidro.

- Eu sei por que você reagiu dessa forma, sinto muito que tenha descoberto dessa forma....

- Por que você está me aqui? Mandei me deixar em paz. - Questiona com a voz áspera e grossa devido ao sono.

- Você está certo, eu deveria deixá-lo em paz, mas eu não posso... - Ela suspira parecendo mais cansada do que anteriormente. - Não posso porque eu não acredito que você mereça isso.

Eu merecia o inferno, um inferno onde eu queimaria ao lado de meu marido eternamente, não isso. Não essa solidão.

Ele mantém o rosto neutro, não querendo revelar nada, mas na verdade está bastante surpreso.

- Você ainda está com problemas para distinguir o certo do errado, querida Margot ?

Isso a causa um arrepio, lembranças de seu irmão provavelmente, mas ela se mantém firme.

- Não. Eu sei muito bem o que a sociedade considera certo e o que considera errado. Mas o que estou dizendo é que ninguém merece passar por essa dor em específico, a dor da perda de um amor é a pior de todas.

Um pequeno sorriso puxa o canto de sua boca, Hannibal gostaria de zombar dela, mas se sente aliviado, de certa forma, por finalmente achar alguém que entenda que ele está lamentando a perda do amor e não outras futilidades banais e mesquinhas como a perda de um objeto ou algo assim.

- E o que isso diz sobre você? - Mesmo ainda fraco, Hannibal se esforça para se sentar tão reto como sempre. - Sei que é mais esperta do que lhe dão crédito, Margot, mas, apenas caso tenha se esquecido, eu ainda sou aquele que ameaçou sua mulher e família. Por que sentir empatia por mim, você não é assim, querida Margot. Achei que fosse melhor que isso.

Ela demora um pouco para responder, tempo suficiente para que Hannibal possa observa-la diretamente.

Os olhos de corça da querida Margot estavam agora cheios de lágrimas de ressentimento e triste aceitação ao mesmo tempo.

- Você é um tipo especial de monstro, Dr. Lecter. Você é o pior demônio do inferno, talvez seja o próprio Diabo, mas... - Ela respira fundo e Hannibal espera pelas próximas palavras que ele sabe quais são. - Mas Will Graham o mudou de formas impossíveis, ambos ainda são monstros, mas você se tornou mais empático, mesmo que apenas um pouco e, graças a isso, me ajudou no passado e serei condenada se não for eternamente grata a você.

'Will Graham o mudou..'

Sim, ele já havia percebido isso, mesmo Mischa e lady Murasaki não o haviam mudado tanto, não haviam o feito sofrer tanto. Mischa era seu devir, Murasaki sua inspiração e Will seu igual.

- Sei que você odeia minha esposa... - Ela foi rápida em tira-lo de seus pensamentos antes que ele desaparecesse por completo. - ...sei que Jack acredita que você faria mal a seu marido, mas eu não acredito nisso.