Cheguei em casa exausto depois da transformação e não conseguia pensar em nada. Tomei um banho rápido e desabei na cama, apagando em instantes. Na manhã seguinte, acordei com meu irmão me chacoalhando, pois estava atrasado para a faculdade. Estudamos na mesma universidade e ele sempre me dá carona. Acordei com uma forte dor de cabeça e a sensação de ter sido atropelado por um caminhão. Não me sentia descansado. Durante a noite, revivi várias vezes tudo o que tinha acontecido em sonhos, de maneiras diferentes, algumas constrangedoras que jamais admitiria em voz alta, envolvendo até mesmo o primeiro general.
No carro, percebi que Andrew me observava com um olhar desconfiado, enquanto fingia concentração na estrada. Ele era dois anos mais velho que eu, mas parecia ter sido agraciado com algo bem maior do que a primogenitura. O filho da mãe parecia uma capa de revista ambulante, com um corpo "photoshopado". Sua pele era sempre bronzeada devido ao vôlei na praia que jogava com os amigos quase todos os dias. O sorriso dele era irritantemente parecido com propaganda de creme dental. Esse homem fazia tanto sucesso que até Lavínia, uma dentuça "D", não conseguia disfarçar o que sentia por ele. Embora fosse uma das garotas mais populares do campus e extremamente intimidadora, isso não era suficiente para afastar outras garotas de Drew. Lembro-me de ter dito a ele que, se todos fossem tão bonitos quanto ele, não haveria guerras. Sei que isso é ridículo, mas essa ideia já passou pela minha cabeça.
- Você está mais quieto que o normal... Andou aprontando algo? - Ele questionou com casualidade, mas parecia que ele já sabia de tudo. Depois de alguns instantes, respondi.
- Não sei do que você está falando! - Tentei ser o menos invasivo possível.
Embora Drew fosse um pouco irritante devido à sua extrema popularidade, ele era um ótimo irmão. Na infância, éramos inseparáveis, tanto que só confiei nele para tirar meu primeiro dente de leite mole, e isso, para uma criança, é confiança plena. Mas quando tive minha ressurreição, acabamos nos distanciando de certa forma. Drew ainda não havia passado pelo ritual e acho que o fato de sermos "diferentes" agora meio que nos distanciava. Um magus em partes é como um vermelho até que ressurja; nossa única diferença é que não adoecemos e, desde pequenos, sabemos o que é a magia e o que somos. Eu acho que ele está pronto, mas ele diz que não, então não questiono muito.
Existe um fator, que embora ele jamais admita, pelo menos não sóbrio, que de alguma maneira faz com que ele se sinta despreparado, nossos pais desapareceram quando éramos crianças, aquilo abalou muito ele, me lembro de em uma noite, alguns dias depois deles sumirem, acordar com ele colocando algumas coisas dentro de uma bolsa, ele me disse pra ficar deitado pois ia procurar o papai e a mamãe, mas foi pego por Anastadia, pouco antes de colocar os pés no chão depois de ter pulado a janela.
Foi Anastadia que nos criou, era nossa tia, infelizmente ela morreu quando Drew tinha apenas 17 anos, o que também mexeu muito com ele. Drew cuidou de mim e eu dele desde então, até decidimos fazer nosso curso na mesma universidade para evitar ficarmos distantes um do outro. Eu sei que ele nunca superou o desaparecimento de nossos pais, e a morte da nossa tia, e sei que isso afeta ele querer a ressurreição. Uma vez, quando estávamos bêbados, ele me disse que detestaria estar para sempre em um mundo sem nosso pai, e que todos que ele amava iam embora. Andrew tinha nove anos quando nossos pais sumiram, então se recorda muito deles. Não é incomum ouvir ele chamando-os enquanto dorme.
– Ontem à noite, você fez uns barulhos estranhos. Cheguei a pensar que tinha trazido uma garota para o seu quarto, mas quando me levantei para tomar água, vi que você estava sozinho na cama com a porta aberta. Tenho certeza de que isso está relacionado ao que você não quer falar, então não vou insistir.
– Eu estava cansado. Corri muito ontem à tarde e acho que isso me fez delirar um pouco à noite. Mas você está certo, eu não quero falar sobre isso.
– Queria conversar com você sobre algo importante. Você está livre depois da aula hoje? Podemos ir "tomar umas". Não costumo pedir para conversar, mas é algo que precisa ser discutido.
– Beleza, vamos juntos ou nos encontramos lá? – Questionei.
– Te ligo antes do fim da aula e decidimos. – Ele se voltou para a estrada e seguimos calados até chegarmos no campus.
Sempre me questionei por que fazíamos faculdade, por que vivíamos eternamente, por que não envelhecíamos. Por que passar anos em uma universidade? A resposta veio de Nathan quando ele me disse: "- Você precisa se formar para ganhar seu dinheiro, afinal, não estamos mais nos anos 500, onde podemos viver de poções, chás e feitiços". Isso fez algum sentido na minha cabeça. Então, aqui estou eu, não extremamente entusiasmado em me levantar cedo todos os dias, mas com uma frase e uma razão na minha cabeça que me encorajam a vir.
Assim que chegamos ao campus, Drew parou o carro e eu desci em frente à entrada. Sempre nos despedíamos ali, já que ele iria estacionar o carro e, como fazia um curso diferente do meu, não nos veríamos até o fim do dia.
- Até mais tarde, então! - Nós demos nosso toque de mãos, e comecei a caminhar em direção à entrada.
– Adam! - Ele gritou alto, pois eu já estava a alguns passos do carro. Me encontra aqui às 18:00. - Para minha sorte, todos no campus sabiam que éramos irmãos, porque poderia soar esquisito aquela frase. Pelo menos foi isso que passou pela minha cabeça, afinal, veio do maior pegador da faculdade. Então acenei concordando com a cabeça e segui em frente.
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A Rainha Secreta
FantasyO que acontece quando um jovem magus presencia embora não devesse um ritual de sacrifício de uma poderosa guerreira e em um ato de bravura e inocência o impede de acontecer? Em um mundo onde uma batalha silenciosa de seres poderosos está acontecend...