Prólogo 💙

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A vida dá a cada um, uma segunda chance, mesmo  a quem não mereça. Cabe a nós aproveitarmos da melhor forma.


Miguel Castello Branco aos 12 anos

O pai do Ismael Antônio, Joca, estava bravo comigo. Antes de ontem eu bati em um menino da escola e acabou que Ismael entrou na briga, pois o colega do que eu estava arrebentando na porrada, se meteu e dois contra um era covardia, não era? Então desde quarta-feira que eu e ele estava de suspensão e recebemos o castigo de ficar um mês sem jogar futebol na rua da nossa casa, sem jogar videogame, sem TV ou computador. Até colocou a gente pra dormir em quartos separados, porque a gente sempre arrumava um jeito de se divertir. O que eles não sabiam era que eu me divertia muito estudando também, só que naquele dia, eu não tava conseguindo me concentrar direto. Carolaine, a recém-nascida da madrinha Camila e do padrinho Ares, ia sair hoje do hospital e a mãe do Ismael, Damiana, deixou a gente conhecer a pequena.

Eu fiquei tão aliviado que ela não me impediu de ver a nova integrante da família, que a abracei forte em agradecimento, os olhos dela ficaram cheios de água, nesses quase dois anos em que vivia com eles, era a primeira vez que eu demonstrava algum sentimento.

Terminei correndo de fazer a tarefa, assim que ela abriu um pouquinho a porta do meu quarto e disse para eu me arrumar rápido se eu quisesse ver Carolaine. Tomei banho lavando o cabelo que tinha tantos cachos que caíam na testa, mas eu gostava e cuidava muito bem, a mãe do Ismael sempre elogiava a minha higiene e zelo, assim ela dizia.

Tinha uma menina na minha sala que falava também que eu era muito cheiroso e que queria ser minha namorada, mas eu mandei ela parar de ser boboca e não ficar correndo atrás de mim igual uma pata choca. Nunca mais ela falou comigo depois de dar um soco, com toda força, na minha cara e até hoje eu sentia muita raiva porque eu sabia que — mesmo vendo Samuel bater na minha mãe — bater em garotas era errado, mas eu queria muito me vingar dela... Ok! Bater em qualquer pessoa era errado, mas quando era outro garoto fazendo babaquices comigo ou com meu melhor amigo, era mais fácil resolver na porrada!

De frente para o espelho eu terminei de enrolar cada cacho em meu dedo junto com o creme e o gel pra não ficar todo assanhado, passei o perfume que o Joca me deu de presente de aniversário em Setembro e ao sentir o cheiro gostoso da colônia ao esguichar um pouco na camisa, pensei:

Será que a bebezinha me acharia cheiroso?

Espera! Bebês sabiam o que era cheiro? Fiquei com dúvida agora, e o pior que nem podia usar a internet para pesquisar, porque eles tiraram o modem do computador do escritório.

— Miguel! Estamos atrasados, filho! — Era a Dami me chamando e eu senti meu coração dar pulinhos no peito.

— Já tô indo!

Corri na mesa de cabeceira, onde eu tinha deixado a caixinha do presente, era uma pulseira de ouro com pingente de  ursinho panda, peguei, colocando no bolso da calça e saí correndo mais depressa para chegar logo na sala.

Quando chegamos na fazenda, precisamos usar máscaras e passar álcool nas mãos porque, segundo o pai do Ismael, Carolaine era muito pequenininha e não podia pegar as doenças que a gente trazia da rua. Quando passamos pela sala, todo mundo colocou os presentes em um baú, mas eu não. Queria que o meu presente fosse colocado no bracinho dela e assim que entrei no quarto e fiz o pedido para a madrinha Camila, ela me atendeu e ficou muito bonito o ouro no braço gordinho da bebê.

— Quer segurá-la, filho? — Foi o padrinho Ares que perguntou e eu balancei a cabeça com força um monte de vezes. — Então faz assim com os braços... — Ele me ajudou a formar uma caminha com meus braços e colocou a bebê ali. Ela me encarou. Achava, não sabia dizer direito, que conseguia me reconhecer. Tinha uma penugem loira no meio da cabeça e as bochechas gordinhas, era muito bonita também, a cor azul daquele macacãozinho combinava com ela.

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