Capítulo 17

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Saiu dos trilhos de vez!

Miguel Castello

Não era com orgulho que eu admitia que demorei mais tempo que o normal debaixo do chuveiro, porque tive que me masturbar duas vezes. Precisei deitar um pouco na cama, depois de vestir qualquer roupa confortável para ficar em casa, sentindo a consciência muito pesada por ter me masturbado pensando em Carolaine, sob o teto dos pais dela, que eram também os meus padrinhos, a quem eu devia respeito. Na minha mente só me vinha uma coisa: que porra de desejo era aquele que nem mesmo a presença dos pais e do irmão dela me impediam de pensar em Carolaine daquela forma? Eu só poderia estar ficando louco! A adrenalina do proibido consumindo as minhas entranhas, algo que há tempos não sentia e agora desabrochava em mim de uma maneira incontrolável e pela pessoa errada.

Errado...

Errado!!

O que eu sentia era tão errado e... sujo de certa forma. Eu respirei fundo, na tentativa de me acalmar. Coloquei uma música baixinha no celular sintonizado na rádio da cidade, ouvi dois programas seguidos e até mesmo ao jornal, fiz minhas refeições ali dentro mesmo, me recusando a sair enquanto não entendesse que merda se passava comigo. Deitei-me novamente enquanto o quarto programa da rádio começava, observando o teto de cor bege enquanto assimilava a letra da música que estava na metade da canção onde Leoni cantava Garotos.

Seus dentes e seus sorrisos

Mastigam meu corpo e juízo

Devoram os meus sentidos

Eu já não me importo comigo

Então são mãos e braços

Beijos e abraços

Pele, barriga e seus laços

São armadilhas

E eu não sei o que faço

Aqui de palhaço

Seguindo seus passos

Existia ironia maior que você ouvir exatamente a estrofe que te definia?

Eu me sentia um garoto! Assim como o refrão da canção dizia, mas me sentia também como naquela estrofe. Meu corpo e juízo sendo mastigados, meus sentidos devorados por uma menina de dezessete anos. Estava preso em uma armadilha onde eu não sabia o que fazer para escapar. Apenas Carolaine poderia me libertar, ela me tinha em suas mãos e isso eu não poderia mais negar, embora ainda fosse duro e difícil me entregar a esse sentimento. Continuei deitado por incontáveis minutos, nem contei mais a quantos programas na rádio eu escutei, ao mesmo tempo em que pensava em quem não deveria, até um barulho forte me tirar da autocomiseração. O grave que batia alto, fez a parede do quarto vibrar e a janela tremer, me levantei devagar e abri uma fresta da cortina, reconhecendo alguns dos amigos dos gêmeos, Mateus e Carolaine e o carro de João que era lotado de som próximo à piscina. O restante da família estava mais ao longe, na área coberta, meu padrinho na churrasqueira. Mateus já tinha um copo de uísque e um cigarro em cada mão e a menina da última vez, estava sentada ao seu lado em uma espécie de mesinha de vidro e madeira. Nem pensei duas vezes em ir até lá quando vi o tal David se aproximando de Carolaine na borda menor da piscina, que se besuntava com algo que julguei ser protetor solar.

Ele não iria se colocar no lugar dele? Carolaine nunca, jamais seria para o bico de alguém como ele. Desista, porra!, foi com esse pensamento que eu percorri a nossa distância e fiquei de frente para os dois no momento em que ela entregava para ele um tubo de protetor solar e se virava de costas para ele. Antes que os dedos asquerosos tocassem nela eu o afastei com um empurrão leve, mas firme em seu peito desnudo. Carolaine se assustou com a minha chegada, vi a surpresa nos olhos verdes arregalados.

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