Capítulo 4

31 6 81
                                    

Dominic

A ideia de me casar é quase um insulto. Já estou atolado com minhas responsabilidades e agora o rei quer que eu encontre uma esposa antes de partir para a fronteira? É um peso que eu não sei como carregar. O que o rei está pensando? Ele deve achar que isso é algo simples, mas não é. A aposentadoria até parece uma opção tentadora, mas eu não posso simplesmente abandonar meus deveres.

Aquelas palavras sobre o que meu pai teria querido são um eco distante, uma tentativa desesperada de justificar algo que não faz sentido para mim. Será que alguém realmente se casaria com um homem cuja reputação é mais um demônio do que um duque? Meu título e a fortuna da família são minhas únicas âncoras, e lidar com uma esposa e filhos parece um fardo adicional que eu não sei se posso suportar. E se eles não aceitarem minhas cicatrizes? E se minha esposa for maltratada pelos nobres? Não posso sequer pensar em elaborar uma lista de exigências; isso é completamente fora do meu caráter. Merda, isso está se tornando um emaranhado impossível de resolver.

Olho para o casamento dos meus pais e vejo o amor e a harmonia que eles tinham. Era algo raro e inspirador, algo que eu sempre desejei para minha própria vida. Mas agora parece tarde demais para sonhar com isso. Espero que ao menos possa encontrar alguma forma de convivência pacífica com minha futura esposa.

— Está passeando pela cidade, Duque? — A voz familiar me tira dos meus pensamentos. Oliver, meu conselheiro e amigo, está diante de mim.

— Na verdade, fui convocado pelo rei. — Começo a caminhar e Oliver me acompanha, percebendo imediatamente o peso da situação.

— E qual foi o pedido desta vez?

— O rei quer que eu me case antes de ir para a fronteira. — Oliver levanta uma sobrancelha.

— Não consigo nem imaginar você casado.

— Não comece com isso! — Respondo, cruzando os braços. — Você sabe que não sou exatamente a pessoa mais fácil de lidar.

— Não me leve a mal, você é um homem de boa aparência, mas sua personalidade pode ser um pouco... intimidante.

— Intimidante? — Faço uma careta, sentindo o peso das palavras.

— Sim, você tem uma presença marcante. Lembra daquele dia em que você destruiu o campo de treinamento inteiro?

— Os equipamentos já estavam em péssimas condições. — Digo com um suspiro.

— E quando você se irritou com os empregados?

— Eu estava sob muita pressão na época, e pedi desculpas a todos depois.

— E o soco no Grão-Duque Forger?

— Admito que foi um momento de excesso, mas ele realmente mereceu. — Oliver ri.

— Foi um soco memorável, sem dúvida. Mas só aumentou sua fama de "Duque Violento". — Oliver para, pensando. — Sabe, acho que uma esposa não seria tão ruim. Ter alguém em quem você possa confiar e compartilhar seus pensamentos pode ser valioso. Às vezes, precisamos de alguém que realmente entenda a gente. Talvez uma esposa possa oferecer isso, independentemente de quem seja.

— Talvez você esteja certo. — Digo, refletindo. — Vou pensar mais sobre isso.

— Bom, eu tenho que ir, mas considere o que falamos. Não se deixe consumir por isso.

— Certo, não se afunde na papelada. Até amanhã. — Nos despedimos e Oliver segue seu caminho. Fico ali, perdido em pensamentos, e nem percebo que a noite já chegou.

As ruas da cidade à noite têm uma atmosfera tranquila. As construções são rústicas e encantadoras, e eu me sinto calmo enquanto caminho. A movimentação está diminuindo e eu não tenho pressa para voltar para casa. Aproveito esse momento de paz, tentando relaxar.

Minha tranquilidade é interrompida quando vejo um homem encapuzado agindo de maneira suspeita. Ele parece querer ser notado, como se me desafiasse a segui-lo. Sem pensar muito, começo a seguir o homem. Ele se move com uma agilidade surpreendente, correndo por ruas, pulando muros e se escondendo nas sombras. Tentar acompanhá-lo é uma tarefa difícil, mas sigo firme.

Ele acaba entrando em uma área residencial, repleta de mansões imponentes. A sensação é de que ele pode estar me levando a um novo alvo ou a uma pista importante. Finalmente, o homem se detém em uma mansão específica e escala o muro. Reconheço o lugar como a residência do Marques Florence.

Decido que isso pode ser uma distração. O Marques é um alvo de muitos rumores e o benfeitor adora se envolver em boatos. É possível que tudo isso seja uma estratégia para desviar minha atenção.

Quando me viro para ir embora, avisto uma novafigura encapuzada no topo do muro. Seus olhos castanhos, profundos e desolados,me fixam com intensidade. A sensação é quase perturbadora. A figura pareceperceber minha presença e começa a correr, desaparecendo nas sombras. Tentosegui-la, mas perco a pista rapidamente. A imagem daqueles olhos perturbadorespermanece em minha mente, uma marca indelével que não consigo esquecer.

O Demônio e o Crisântemo. - Uma Combinação Mortal.Onde histórias criam vida. Descubra agora