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Eram 18:46 quando cheguei em casa. Novamente dei de cara com meus pais sentados no sofá da sala, olhando para o nada. Eu queria fingir não reparar em como tudo estava tão horrível, mas era impossível.

— tudo bem com vocês? — perguntei. Só então eles reparam na minha presença na casa. Eles me olharam com surpresa e correm até mim.

Fiquei assustada, confusa.

— ah meu deus, que demora, Zoe! — minha mãe exclama passando a mão por mim para ver se estava tudo bem.

Demora? Mas o sol acabou de sumir.

— como assim, eu voltei até cedo. — digo confusa.

— cedo? Já está escuro lá fora, algo poderia ter acontecido. — minha mãe diz preocupada. Sinto meu coração aperta.

Eu queria contar sobre Finney, mas seria precipitação demais. Eles não podem ter mais uma coisa em que pensar, e eu também não. Ele vai voltar hoje.

— está cedo, sim, e eu estou bem. — digo firme. — como passaram o dia? — pergunto indo ate o sofá e me jogando nele.

Meus pais suspiram.

— já fizemos os cartazes, e a polícia disse que vai começar a investigação amanhã. Eles irão vir aqui para darmos depoimento. — ela diz em tom triste, se sentando ao meu lado.

— calma, amanhã?? Como assim eles vão esperar mais? — pergunto indignada. O que caralhos a polícia tinha na cabeça?

Minha mãe começa a encarar os próprios pés.

— não sabemos, querida. As coisas não são tão fáceis assim. — meu pai diz enquanto se sentava ao lado de minha mãe.

— são fáceis, sim, mas para brancos. — digo com ódio.

— querida, não pense assim...— minha mãe diz calma, triste, ainda encarando o chão.

— mãe, tenho que pensar assim, sim! Você acha que se fosse um branco desaparecido a cara dele já não estaria em um trem na rodovia? — pergunto. Isso soou meio grosseiro, e eu me arrependi do tom que usei, mas eu estava com raiva.

— Zoe querida, nem tudo é questão de preconceito. Talvez eles só estejam ocupados. — meu pai diz passando a mão nas costas da minha mãe.

— não, é sim preconceito. Eles estão ocupados demais coçando a bunda fedorenta deles. Eles não fazem nada, nunca fizeram. — digo irritada, me levantando do sofá e correndo até a escada.

— filha, volte aqui! — minha mãe gritou para mim. — você não comeu nada, não é?

— comi sim, tá tudo bem. Boa noite. — digo sem olhar para eles.

— ainda é cedo, zoe. Volte aqui!

— a senhora mesma disse que ja estava tarde, lembra? Boa noite. — digo, correndo para meu quarto assim que chego ao topo da escada.

O que eu fiz para merecer isso?

Enquanto eu vou para meu quarto o telefone do corredor toca. Paro, bufando de raiva, e vou atender.

— casa dos Yamada, quem é? — digo irritada.

— me escute com atenção. — uma voz fraca diz. Reviro os olhos.

— olha aqui, filho da puta, se você tá ligando aqui pra casa sempre, só pra encher o saco, quero pedir pra você ir tomar bem no meio do seu cu. — digo baixo, para meus pais não escutarem e quererem saber o que está acontecendo.

— você não está entendendo. Eu disse pra você não deixar ele ir, e mesmo assim voce deixou. — a voz diz.

— o que caralhos você tá dizendo? Você ao menos sabe quem você é? — pergunto estressada.

— que caralhos de pergunta é essa? "Você ao menos sabe quem você é?". É claro que eu sei, sua idiota. Você tem noção do que você fez!? — a voz disse forte e alto.

Estranho. A voz parecia diferente agora, do que a dois segundos atrás.

— vai falar alto na casa do caralho, seu filho da puta. O que você quer, porra!?

dissemos pra você não deixar ele ir, e você deixou, sua puta maldita! Agora ele está aqui, junto com a gente. A culpa é sua, sua burra!

— ele quem, caralho? Olha, se é alguma piada de mal gosto, saiba que é melhor você parar antes que eu vá atrás de você.

— eu quero que você se dane. ACABA COM ELE! — a voz grita forte, e meu cérebro treme.

Solto o telefone, deixando ele cair no chão. Me ajoelho no chão com as mãos no ouvido, sentido meus olhos rodarem. O que caralhos foi aquilo?

De novo aquela maldita voz. O que está acontecendo? Eu não quero ficar maluca, não quero.

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Dois capítulos seguidos, segura🤝

with you - Finney Blake Onde histórias criam vida. Descubra agora