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Olhei para ele.

— e aí, você entendeu tudo o que você tem que fazer? — Bruce me perguntou.

— mais ou menos. Mas e se a pancada acabar me matando? — Bruce curvou as costas de tanto rir.

Olhei para ele com cara feia.
Essa ideia ia acabar ruim pro meu lado.

— você não vai. Ele jamais mata de primeira. É difícil explicar ele, mas ele vai fazer de tudo para você ficar viva até entrar no porão. — Bruce diz, se sentando na escada.

— ah sim, claro. Ele me quer viva para poder me causar dor e sofrimento. Tinha esquecido dessa parte. — digo cansada, me sentando ao lado de Bruce.

— você guardou todas as frases na sua cabeça, né?

— claro que sim. Vou treinar bastante mais tarde. — demos risada.

— sabe, estar aqui faz tudo parecer diferente. — Bruce diz de repente. Encaro ele.

— como assim? — pergunto confusa.

— eu percebi sobre como nunca estamos prontos para tragédias. Sempre pensamos que elas acontecem só com as outras pessoas, até acontecerem com a gente. — ele diz enquanto olha para o nada.

— é assustador e doloroso. Bastante.

— é. Me dói estar aqui sentado, mas não poder correr e fugir daqui.

— por que não pode fugir?

— isso é só uma alucinação, só um "truque de mágica". Eu estou deitado no meu colchão, com os olhos fechados. Você está ao lado da senhorita Arellano, com o cartaz na mão. Nada aqui é real. O tempo só está parado para nós. Não posso fugir.

— pensei que você transformava o lugar no cenário que quisesse. Por algum motivo pensei que tivesse feito o porão se tornar o lado de fora da casa dele.

— não, Zozoo. Eu só posso modificar os lugares onde você está, fazendo sua mente te levar para onde eu quiser. A minha realidade é o único lugar que eu não posso mudar. Mas de um jeito ou de outro, você não está aqui totalmente. Entendeu, né? Você vê este lugar, mas quem está ao seu redor, não. É tudo sua mente.

— mas naquele dia em que você transformou meu quarto...

— eu sei, mas se alguém tivesse entrado lá, teriam dado de cara com você de pé no meio do quarto, parada.  Algumas coisas você consegue levar daqui, mas não pessoas. Não eu.

— mas eu te senti, e eu ainda te sinto. — toquei em sua mão.

— é claro que sente, mas...eu não estou 100% aqui. Eu só te trouxe aqui para mostrar onde era o lugar.

— eu sei, mas eu nao me importaria de morar aqui para sempre, com você.

— você não acredita que eu vá ficar vivo, né? Por isso quer ficar aqui comigo para sempre. Você acha que eu vou morrer. — fiquei em silêncio.

— se depender de mim...você irá voltar, com toda certeza! Eu só tenho medo de ele ser mais rápido.

— ele não vai, acredite. Você me disse que ele irá matar o Griffin... então eu acho que ele vai ficar bem ocupado com isso.

— eu posso ajudar o Griffin??

— só se você for mais rápida e vier antes do combinado. Mas poderia ser arriscado. Mudar qualquer detalhe do plano pode custar muito.

— mas o que aconteceria se a gente mudasse?

— eu não sei, você não sonhou com isso. — ele de repente deu um pulo.

— o que foi!?

— é hora de ir. — ele se levantou. Me levantei também. — ele está vindo, eu preciso ir.

— eu sinto sua falta, eu irei te ajudar! — digo, abraçando ele.

Respiro fundo e sinto seu cheiro. Era cheiro de suor e sangue, mas ainda era o Bruce.

— eu sei que você vai. Não esquece do plano, e presta bastante atenção. Não esquece. Não morre.

— não irei. — digo, e então sinto ele sumindo de novo.

Abro meus olhos e dou de cara com meus pais.

— ué, dormindo de pé? — minha mãe pergunta confusa.

— tô meio sonsa. — dou uma risadinha. — podemos colar os cartazes na semana que vem?

Meus pais me olham estranho.

— mas quanto mais rápido, melhor. Precisamos ser rápidos, esqueceu?

— mas eu vou voltar pra a escola, e não quero pessoas fazendo piadinhas e nem nada. Também não quero ninguém me perguntando sobre. Por favor, mamãe...

— ah...— ela suspira. — tudo bem, meu amor. Eles já começaram as buscas, então espero que dê tudo certo.

— eu espero que sim.



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with you - Finney Blake Onde histórias criam vida. Descubra agora