PRÓLOGO

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OBS: Estes capítulos estão sujeitos a modificação, então embora seja o primeiro manuscrito do livro, a versão final que será a vendida nas plataformas digitais como a Amazon, pode ter mudanças nos textos e diálogos. 

As mãos invisíveis de meu poder estão sobre a garganta de cada italano inocente ao meu redor. Os olhos aterrorizados e as lágrimas escorrendo silenciosamente me divertem. Uma gargalhada escapa de mim enquanto dez delas caem no chão arenoso, contorcendo-se sob efeito de meu poder. É tão divertido, digo para mim mesma, sentir em minhas veias o silencio percorrê-las violentamente e serem direcionadas a ninguém em particular.

Os gritos não escapam de suas diversas gargantas. O desespero infla o peito de todos enquanto caminho entre os diversos rostos sufocados pela intensidade do silêncio. Então, em poucos segundos, cerca de vinte pessoas se rendem ao meu domínio e dizem adeus ao último sopro em suas narinas. Os olhos petrificados me encaram, então a agonia por ter eliminado inocentes começa a agitar meu estômago. Como eu consigo fazer isso? Passear entre eles e sentir prazer e...

– Halina! – Meus olhos se abrem sobre o impacto do corpo rígido e pesado sobre mim. Meu coração denuncia o efeito sufocante sob meu peito. – Porcaria de pesadelo.

Sonhando mais uma vez com os boatos espalhados sobre mim.

Kent bufa quando sai de cima de mim. Não o julgo. Faz quase duas semanas residindo na Espectro. Quase quatorze dias completos, discorridos de interrupções em seu sono devido meus pesadelos, e o máximo que ele pode fazer por si mesmo é me acordar com a brusquidão de sempre, na esperança de que eu não gritarei enquanto adormeço pela milésima vez, para que ele consiga dormir novamente. 

Minhas mãos estão trêmulas quando as levo em direção aos meus olhos para enxugar as lágrimas escorrendo sobre minhas bochechas involuntariamente. Mordo o lábio inferior e encaro minhas mãos em um vislumbre fraco do abajur ligado entre minha cama e a do general. Ele já havia deitado de costas para mim quando finalmente ouso olhá-lo. Está sem camisa, encarando a parede cinzenta diante dele. 

Após a visita diária das curandeiras, as cicatrizes em suas costas estão quase invisíveis agora, e estes poucos dias dividindo o quarto com ele, me fizeram notar que não há cicatrizes em qualquer parte de seu corpo. Não que eu já o tenha visto nu, nunca vi, entretanto, um homem com tantas experiências em guerra e que sempre está se envolvendo em situações perigosas, deveria possuir marcas, mesmo que mínimas. No entanto, Kent as elimina de seu corpo por algum motivo misterioso.

Seria pura vaidade? Talvez sim, o príncipe sempre banca o galanteador sem  defeitos na aparência. É uma pena eu não poder dizer o mesmo sobre seu caráter. 

Mas ele te salvou. Diversas vezes. Digo para mim mesma, todavia, não consigo convencer-me sobre isso. Não tive os melhores dias com Kennet desde que chegamos a Espectro, nem mesmo consegui conversar com ele sobre suas palavras no dia em que fomos chicoteados como animais. Entretanto, acho que isso não parece incomodá-lo como me incomoda, por isso, retardo nossa conversa a cada dia novo e permito que ele fique cada vez mais distante de mim, embora nunca tenhamos sido consideravelmente próximos. 

– Você não vai dormir, não é? – Kennet volta-se para mim. Encaro seus olhos azuis na penumbra e suspiro.

– Não sei se consigo, após sonhar comigo massacrando pessoas em massa. – Não consigo sequer pensar nas outras histórias que Diederic e Danis espalham para fazer todos me odiarem mais. 

Kennet me perscruta sem indícios de emoção. Como se dissesse "eu não perguntei com o que sonhava, eu consigo ver seus sonhos idiotas com meu poder". 

– Já podemos apagar o abajur? – Indaga, impaciente.

– Claro – murmuro, tentando esconder meu desapontamento. Não consigo pensar no que eu esperava que dissesse, mas com toda convicção, não era isso. – Sinto muito pelo incômodo. Esqueci: só se importa consigo mesmo. – Inclino-me para o lado e apago o abajur, após ter cuspido as palavras com ironia. 

O escuro invade o espaço silencioso entre nós. Descanso a cabeça no travesseiro e cubro meu torso com o lençol branco. Puxo as mangas longas do meu pijama até que cubra minhas mãos e observo o breu a meu redor. Mantenho-me em posição fetal. 

– O que esperava ouvir de mim? – Seu tom é brusco. – Sabe perfeitamente, o seu poder é forte o suficiente para, de fato, matar centenas de pessoas quando canalizados da forma ideal. – Murmura, e eu não respondo. – Você é perigosa. Talvez os seus sonhos estejam tentando dizer-lhe isto. 

Você é perigosa.

Você é fatal.

É uma máquina mortífera procurada por todos os italanos.

A traidora da coroa.

A assassina do próprio povo.

– Kennet, não ia dormir? – Recebo silêncio.

As vezes não obter respostas é bom para a sanidade, afinal. Principalmente quando estamos nos referindo a alguém narcisista e arrogante. Mordo o lábio inferior e fecho os olhos novamente, ignorando as imagens perversas que as fofocas espalhadas pelas cidades dizem, torcendo para não imaginar a cena e sonhar com isso. 

Halina sufoca milhares de pessoas até a morte.

Halina assassina uma escola inteira e cheia de crianças.

Halina mata o Inspetor Real.

Sacudo minha cabeça, como se isso fosse expulsar os pensamentos, então tento dormir novamente, tento insistir para mim mesma que se não dormir, acordarei com dor de cabeça e com uma disposição ruim, entretanto, nada parece funcionar. Nada que eu fale para mim mesma me fará ignorar o furacão me envolvendo em um redemoinho de vento perverso.

HERDEIRA DO SILENCIOOnde histórias criam vida. Descubra agora