II

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A diretora estava em uma missão desconhecida, fora dos campos da Espectro. Pergunto-me o que a famosa comandante dirá sobre Twyla estar morta. Nunca a vi, e por isso sei que meu encontro com ela pode ser dito como importante, tendo em vista a quantidade de pendências para administrar. 

O caminho é curto. Ger me direcionou ao prédio e nós subimos as três escadas exaustivas do edifício. Os quartos dos membros geralmente se localizam no térreo e no segundo pavimento. O terceiro piso está totalmente dedicado aos aposentos dos superiores, salas de treinos e reuniões, sendo boa parte do ambiente ocupado pelos soldados em treinamento de todos os tipos. Nunca vi nada igual. 

As paredes e teto são cinzentas, fazendo jus ao brutalismo da estrutura de concreto. Os corredores são completamente vazios, exceto pelas luzes embutidas no teto em pequenas esferas próximas umas das outras. 

– Não parece gostar de Asena – murmuro para Ger enquanto caminho ao seu lado. Um homem alto vestido com roupas cinzas acena para nós em cumprimento quando passamos por ele. 

– Ninguém costuma fazer amizade com a assistente do treinador, e você não deveria procurar isso. 

– Eu... eu só estava tentando ser gentil. – Murmuro, lembrando do olhar rígido de Asena ao me cumprimentar. – Achei que Kennet estava sendo o assistente do treinador – comento enquanto Ger adentra o corredor à direita. 

– Seu amigo se tornou um segundo treinador. Ruan viu potencial demais no general para que ele fosse apenas seu assistente. Provavelmente já está liderando sua própria turma de alunos iniciantes.

Abro os lábios em surpresa. Kennet aparentou se infiltrar muito bem na Espectro, para alguém que detestou a ideia de estar aqui. Enquanto isso, estou patrulhando como uma guarda qualquer e ainda tento superar o fato de que todos me olham com temor. Consigo ver em seus olhos os questionamentos. Como a maior assassina de Italan está na Espectro? Provavelmente se mantém distantes por me acharem perigosa.

– Achei que sabia deste detalhe, ele é seu ami... – interrompo-o.

– Ele não é nada meu, não sei absolutamente nada sobre Kennet. – Ele não me conta sobre si mesmo. Ele não confia em mim. Mordo a língua e encaro a porta de ferro onde Ger parara. 

– Bom, nós chegamos ao seu destino – comenta, distanciando-se. 

– Obrigada, Ger – falo, enquanto ele se afasta. Ouço a porta atrás de mim se abrir e me volto para a origem do som. 

Deparo-me com uma mulher alta de pele negra e cabelos raspados. Seu rosto é sereno ao me avaliar lentamente da cabeça aos pés. Ela usa um terno vermelho, da cor da calça de alfaiataria e aparentemente feita de seda de morcego. Calça um par de salto scarpin branco, da cor da camiseta sob o terno elegante. Suas orelhas humanas comportam argolas prateadas e alguns brincos brilhantes. 

Sua postura é despojada, os lábios estão pintados de um vermelho escarlate deslumbrante, grossos e atraentes. De todas as imagens que imaginei para a famosa Kendra, essa seria a última. Não vejo pessoas utilizando roupas tão humanas há muito tempo, e devo admitir que ela é intimidante.

– Halina? – Questiona, com as sobrancelhas arqueadas. Fecho a boca e pigarreio, envergonhada. 

– Oi... sou eu. Deve ser a comandante – sorrio para ela, que assente comedidamente e abre espaço para que eu entre no local. – Desculpe, estou um pouco... surpresa. – Admito, e sinto minhas bochechas corarem. Dou um passo em sua direção e atravesso a porta rapidamente. 

– Percebi – ela fecha a esquadria atrás de si com um baque. Estremeço. Kendra abre um sorriso estonteante e passa por mim. A figura alta caminha em direção a uma mesa de vidro cheia de papéis e canetas empilhados de forma organizada, então senta-se em uma poltrona preta. – Sente-se, Halina, eu não mordo. 

HERDEIRA DO SILENCIOOnde histórias criam vida. Descubra agora