III

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Passamos horas no escritório de Kendra analisando suas medidas. Ao que parece, a comandante convocaria uma equipe, direcionando-as a todas as cidades de Italan para patrulhar as regiões e remover as mortes que Danis afirma serem cometidas por mim e, se possível, impedir que essas pessoas sejam mortas, assassinando antes o indivíduo enviado por Danis.

Kennet continuaria responsável por treinar uma turma de alunos, enquanto eu fiz questão de fazer parte da equipe de buscas que Kendra incutiria para investigar e esconder as mortes assassinadas em meu nome, antes que a população veja. E a noite, a comandante exigiu que eu treine junto do general.

Obviamente, movida pela raiva, indaguei se não poderia ter aulas com o outro treinador da Espectro, Ruan. No entanto, Kendra afirmou que ele não está disponível para a tarefa durante a noite, o que não me deu alternativas a não ser treinar com Kent, e é exatamente isto que faço quando saímos da sala da diretora.

– Talvez devesse ouvir Kendra, não é uma boa ideia buscar os assassinados – Kennet defende. A Comandante tentou de diversas formas me fazer ficar na Espectro com outras atividades, mas eu preciso enxergar com meus próprios olhos, necessito encarar as atrocidades de Danis antes que isso me consuma mais. Pensar é pior, e eu não aguento viver em um martírio sem fim. A insistência de Kendra não foi suficiente para me convencer a esconder-me cada vez mais de meus problemas.

Não o respondo.

– Não pode agir dessa forma durante todo o dia – o general corta o silêncio entre nós enquanto desprende duas espadas da parede da sala de treinos. Assim como todas as outras, a sala de treino escolhida por Kennet possui uma parede de vidro que nos dá uma visão completa do corredor, e as outras são moldadas no tom acinzentado do concreto, com um espelho paralelo a vidraça, enquanto as outras possuem diversas armas penduradas para vários usos distintos.

– Quem disse que pretendo agir dessa forma apenas por um dia? – Indago, presunçosa e despreocupada. Kent volta-se para mim e estende a espada de punho preto para mim. Encarar a arma me faz relembrar todas as minhas outras armas, inclusive a presenteada por meu pai.

– Você não consegue ser assim – observa, então acena para que eu caminhe em direção ao centro da ampla sala retangular.

– Assim como? Igual a você? – minha voz é venenosa. – Não era seu desejo, General? Que eu admitisse ser como você, agisse como você? Pois bem, me esforçarei para ser fria e calculista e arrogante. Com o tempo verá: é um ótimo professor. – Ele me encara por longos segundos que de repente se tornam minutos.

Permaneço imóvel diante dele, enquanto acompanho seu par de oceanos azuis fitarem-me com um pequeno resquício de ofensa. Ótimo. Que ele fique demasiadamente ofendido. Exageradamente afetado por minhas palavras, afiadas como a espada em minhas mãos.

Então, após um longo período, Kennet ri. Arregalo os olhos, abismada demais para falar qualquer coisa. Que idiota.

– Às vezes você é tão engraçada, baby – inalo o ar quente vagarosamente e conto os quatro segundos de indignação silenciosa percorrendo meu corpo, infiltrados em meu sangue.

– Já deveria saber, não leva minhas palavras a sério.

– Ah, é? – ele arqueia as sobrancelhas e me encara com arrogância, parado diante de mim, mas não por muito tempo. Kennet dá um passo em minha direção e agora restam apenas alguns mínimos centímetros entre nós. – E por quê?

– Porque você é um completo imbecil. – Sua risada nasalada corta o silêncio entre nós. Sua forma debochada de lidar com as circunstâncias me irrita. Por um momento, eu pensei que após termos passado por tanto juntos, este seu comportamento mudaria, todavia, estava totalmente equivocada ao supor que o babaca General-Príncipe Kennet Diamonique deixaria de ser...

HERDEIRA DO SILENCIOOnde histórias criam vida. Descubra agora