Acordei com Kennet em minha cama, abraçando minha cintura atrás de mim e com o nariz infiltrado em meus cabelos. Levanto-me com pressa, tentando ser o mais silenciosa possível. As vezes surpreendo-me com nossas interações, é um mar de certeza e inconstância que nunca entenderemos. Como esperado, tive pesadelos na noite anterior, muito, muito mais agressivos do que já tive em qualquer outra noite.A cada sonho ruim, penso que não há como piorar, mas sempre há como piorar. Desta vez eu estava desesperada, acordei com gritos e choro e mãos trêmulas. Parecia que o meu mundo estava acabando, não tive forças para erguer meus escudos mentais e impedir que o General visse meus monstros, mas ele viu. Kennet viu o que me aterrorizou nesta noite e decidiu simplesmente me abraçar.
E o pior de tudo – para meu ego e para mim mesma, que o odeio na maior parte do tempo –, é que não posso negar que consegui dormir bem com ele. Movida pelo constrangimento, consegui me levantar sem despertá-lo. Foi a única oportunidade para não o encará-lo após esta noite que, apenas agora, percebo que foi constrangedora. Saio do quarto às pressas para não vê-lo.
– Halina! – Ergo os olhos ao sair de meu quarto e deparo-me com Jollin e mamãe. Meu irmão mais novo se joga em meus braços antes que eu consiga falar qualquer palavra.
– Pela natureza, Jollin! – murmuro, admirada. – Você parece ter crescido dez metros, e essa voz! Eu quase não reconheci sua voz. – Desprendo-me de seu aperto e encaro meu irmão, ele está exatamente do meu tamanho. Seguro seu rosto rosado com as mãos e encaro seus olhos azuis, tão gentis. Beijo sua cabeça e aperto suas bochechas.
– Você passou muito tempo longe – diz, tentando se desvencilhar de meu aperto. – Lina, apertar bochecha é coisa de criança, vai me constranger. – Arregalo os lábios e finalmente observo minha mãe, que tem lágrimas nos olhos. Nós duas rimos do comentário dele.
– Por acaso eu passei mais de dez anos longe e não notei? – aperto sua bochecha com uma só mão e ele esboça uma careta. Jollin veste um suéter simples e uma calça cinza, enquanto minha mãe usa uma blusa azul com mangas até os cotovelos, uma saia canelada que ia até os joelhos, preta assim como a sandália.
Quando meu irmão se afasta, mamãe finalmente me abraça em um aperto sufocante.
– Filha... – sinto suas lágrimas escorrerem em meu ombro, sobre minha camiseta branca. – Estou com tanta saudade – murmura, então se afasta para me encarar. Seus olhos claros estão avermelhados, assim como o nariz torcido. – Como você está? Ora, mas que pergunta tola... você está passando por tanto.
– Mãe, está tudo bem. – Conforto-a, dando me conta de sua presença. – Por que nunca consigo vê-los? – indago quando seguro suas mãos.
– Eu trabalho no turno da madrugada, soube do ocorrido ontem e violei meu toque de recolher, precisava vê-la. – Sinto minhas bochechas queimarem. Se ela tivesse chegado poucos minutos antes, teria me encontrado na cama com Kennet. Seria uma situação desconfortável.
– Mamãe, precisamos conversar –uma sombra inunda seus olhos. – Preciso vê-la mais, esses dias foram terríveis sem vocês. – Ela assente, então baixa os olhos para nossas mãos unidas.
– Sim, eu sei – responde, com suavidade na voz. – Consegui que Jollin estivesse no mesmo cronograma de Jes e você, então agora você poderá vê-lo com mais frequência.
Abro um sorriso imenso, então olho para meu irmão, divinamente feliz ao meu lado.
– Mas e você, mãe? – ela desvia os olhos para algo sobre meu ombro, então faz um sinal para que a pessoa espere.
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HERDEIRA DO SILENCIO
FantasyNo volume 2 da série O REINO SILENCIOSO, nossa jovem se encontra em uma enxurrada de verdades que a obrigam reagir. Após ser humilhada publicamente e resgatada por uma organização revolucionária secreta, a jovem inicia suas estratégias para remover...