|07| ONDE NÃO HÁ ONÇA, ANIMAL TEM FOLGA

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03, 04, 05 de Outubro de 2022.

Três dias se passaram e nós pouco nos falamos. Uma troca breve de mensagens não era capaz de dar conta da necessidade que eu sentia de ter ela em meus braços novamente, com suas mãos firmes por todo o meu corpo, me tocando e me dedilhando da maneira que só ela sabia fazer.

A papelada do meu divórcio corria em sigilo, Carlos César voltou para o Mato Grosso do Sul e sozinha naquela casa, tinha que lidar com a companhia dos meus próprios pensamentos. E como eles eram... insuportáveis!

A televisão da sala está ligada enquanto perambulo por todo aquele ambiente escuro. Que ironia é ter a cara dela estampada em 52 polegadas. Aquela voz dela ecoando no meu ambiente, entrando na minha cabeça.

Era seu pronunciamento, finalmente. Confirmando o que eu já imaginava. Não pude deixar de sentir uma mágoa consumir o meu coração. Que ilusão foi essa que eu mesma nutri onde Simone Tebet conversaria comigo antes de declarar seu apoio ao Lula?

Nós não éramos um casal. E essa realidade me doía. Quando você olha para o abismo ele olha pra você de volta.

Desta vez eu virara a garrafa de vinho na boca, sem nenhuma classe, manchando minha camisola com uma gotícula que escorreu dos meus lábios pelo queixo e o colo dos meus seios. Desliguei a televisão e joguei o controle longe, vendo ele se espatifar no chão. Me levantei e segui para o quarto, decidindo terminar aquela garrafa na cama.

Não me lembro de quando peguei no sono.

Despertei com muita dor de cabeça e algumas ligações perdidas dela. Se passava um pouco das 2h, não vi direito, o relógio ofuscou meus olhos por causa da claridade. O celular desbloqueou assim que reconheceu minha face.

Si: "Precisamos conversar."

Eu ri da ironia daquele aviso. Ou seria um pedido? Simone raramente pedia alguma coisa, ela tinha aquela energia superior, hierárquica, dominante.

Poucos segundos, outra ligação. Eu não atendi e escutei o barulho insistente da campainha da minha casa. A essa hora?!

Me levantei quase tropeçando no colchão e ajeitei com firmeza o laço do robe de seda ao redor da minha cintura. Percorri todo o corredor e olhei no olho mágico. Meus pés e mãos gelaram mas mesmo assim, destranquei a porta e a abri.

"Você..."

"Eu. Precisava te ver, Soraya." Ela estava com aquela voz graciosa, porém levemente rouca, denunciando seu cansaço. Adorava as nuances leves do sotaque dela apesar de não estar adorando muito ela nesse momento.

"Entre." Abri a porta por inteiro, dando passagem.

"Você já deve saber, sobre a minha escolha."

Quando ela tocou no assunto, bati a porta e a mesma fez um estrondo forte. Simone tremeu os ombros e eu segui andando para a cozinha. Ela me acompanhou.

"Aceita beber alguma coisa?" Perguntei por pura formalidade.

"Não, eu prefiro que você esteja sóbria. E eu também." Tive que rir e rolar os olhos. Não acreditava.

"Depois eu que sou a traidora..."

"Soraya... olha a boca. Eu fiz o que acredito ser certo em nome da democracia. Escutando a vontade da maioria do povo brasileiro. Observe as urnas."

"Simone!!!! É o PT. Onde você bateu com a cabeça?"

"Nesse momento, minha cabeça está cheia, repleta de VOCÊ."

Simone estava se aproximando, me encurralando na bancada da cozinha e o meu corpo amolecia conforme ela chegava perto. Tocou as laterais do meu quadril, sentindo a seda cara do meu robe deslizar fácil, como cetim. Ela foi segurando o tecido e puxando ele até que o laço se afrouxasse e ele ficasse aberto. Os olhos de Simone estavam fixos na minha pele, no corpo nu que eu oferecia para ela.

She Knows [Simone x Soraya]Onde histórias criam vida. Descubra agora