30. Súplicas silenciosas

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No início, Sina pensou que a pausa no trabalho seria a oportunidade perfeita para descansar até o restante de sua gravidez, mas se soubesse que absolutamente tudo tinha a tendência a piorar a partir do momento que ficassem em casa, talvez a ideia de continuar no serviço pudesse ser mais tentador. Ela obedeceu a risca as ordens de Noah sobre ficar em casa, no entanto, com o passar das semanas a tarefa ficar "imóvel" foi se tornando praticamente impossível, a medida em que sua barriga se tornava cada vez maior, sendo impossível conseguir arranjar qualquer posição confortável a partir disso.

— Olha, se você saísse agora eu não iria reclamar nem um pouco...sabia? — Sina resmungou, encarando sua barriga.

Em sua atual conjuntura, falar sozinha com sua própria barriga havia se tornado um hábito recorrente, já que suas outras duas opções eram falar com um cachorro ou com uma criança de cinco anos. No entanto, naquele momento, essa parecia ser a opção mais cabível.

Um chute em resposta foi ouvido, a fazendo revirar os olhos.

— Falta um mês...você consegue permanecer quietinho e sem lançar chutes inesperados por mais um mês? — Ela voltou a falar, como se exigisse uma resposta.

Em seu oitavo mês de gestação, Sina soube que faltava pouco. E isso havia se tornado um misto de alívio e ao mesmo tempo uma mistura de desespero com a possibilidade do que estava por vir. E o seu deslocamento ovular havia se desfeito igual água, como Shivani havia previsto, arrancando um enorme peso de suas costas.

— Parto na banheira, sério isso? — Sina emitiu uma careta ao olhar um vídeo no YouTube, onde uma mulher parecia dar a luz dentro d'água — Sem chances, né? — ela fitou sua barriga, onde o bebê a "respondeu" com um leve chute — Bom, pelo menos nós concordamos em alguma coisa hoje.

Sina trocou o vídeo para outro tipo de parto, sendo passado imagens de mulheres em puro sofrimento e agonia, a fazendo sentir um leve calafrio em sua espinha, como se de repente se esquecesse totalmente de como era a dor.

— Que tal uma pausa? — ela sugeriu, desligando a tv — Um doce cairia bem agora, né? — Sina riu de sua própria ideia.

Ela seguiu em direção a cozinha, aliviada pelo silêncio que a casa transmitia, já que Ella se encontrava em seu quarto dormindo após o almoço, mas que em breve acordaria.

— Eu juro, é só uma colherada...então, se você não me fizer vomitar eu prometo que te dou esses playground de carros mais caros que tiver quando você nascer! — ela exclamou, pouco antes de levar uma boa quantidade de chocolate a boca.

Sina podia notar o bebê se mexer diante de sua barriga exposta, já que a mesma começou optar por usar somente top's e calças dentro de casa, o que a fazia se sentir mais confortável. Ao perceber que o seu filho não reagiu de uma forma negativa, Sina aproveitou o momento para dar outra colherada em seu chocolate, fazendo uma expressão de satisfação em seguida.

Mamãe? O que tá fazendo?

A voz aguda e sonolenta foi ouvida da entrada da cozinha. Com os olhos exaustos de sono, Ella fitava a mãe com uma expressão confusa por tê-la pega no flagra com os lábios sujos de chocolate.

-— Não conte para o seu pai — Foi a primeira coisa que Sina disse, quando lavava as mãos na torneira.

— Não contar o quê?

— Não contar que...Quer saber? Esquece — ela deu de ombros  — Então, você conseguiu dormir bem?

Ella assentiu em um bocejo.

— O que vamos fazer agora?

— Eu não sei — Sina a pegou pela mão — O que você quer fazer?

𝐒𝐄𝐗𝐘 𝐂𝐀𝐒𝐔𝐀𝐋 (𝐒𝐄𝐆𝐔𝐍𝐃𝐀 𝐓𝐄𝐌𝐏𝐎𝐑𝐀𝐃𝐀)Onde histórias criam vida. Descubra agora