Não importava quantas vezes enchesse a taça de vinho, ela permanecia vazia, assim como seu coração.
O cheiro de Carlos permanecia no moletom jogado em cima do sofá, permanecia gravado nela.
Carlos foi embora e não voltaria. E Helena chorava porque mais que perdido seu amante, havia perdido seu amigo.
Helena deveria ter implorado, deveria ter corrido atrás dele e impedido que subisse na droga da moto. Mas ela não o fez, Helena achou que era só mais uma briga comum em um dia comum.
Agora só lhe restava recolher os cacos - do coração e do celular que ela jogou na parede quando recebeu a maldita ligação!
Não cederia aquela dor, não cederia as cicatrizes daquele amor. Trancafiaria Carlos no fundo do peito, uma luz que guiaria seu caminho e assim ela lembraria de como foi amar e ser amada.
" Sempre estarei com você " ele havia prometido certa noite, ela não esqueceria.
Helena levantou-se, caminhou até o quarto e colocou o vestido preto.
Havia um velório de caixão fechado para ir. O corpo do seu Carlos tão destruído quanto seu coração.
Uma batida ecoou na porta.
"Fantasmas não existem" - Ela lamentou.
Mais uma batida.
Somente quando a terceira batida soou, ela caminhou e abriu a porta do apartamento.
Era o moço da floricultura, mas ela não havia encomendado flores para o velório.
O homem lhe entregou o buquê vermelho e uma carta, encomendados de Carlos , três dias antes, para ela.
Com as mãos trêmulas , pegou a carta mas não abriu.
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A última Carta
Horrorcom um amor que se foi para sempre e uma alma quebrada, Helena se muda para uma antiga propriedade na esperança de recomeçar, mal sabia que lá enfrentaria não só seus fantasmas internos como também fantasmas reais.