Capítulo 4

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- Oi Carlos, sou eu, Helena. – Ajoelhou sob o tumulo e deixou que aquela lagrima escorresse e caísse na terra.

Na lapide diante de seus olhos dizia " Carlos Salvatere, 1993-2023, um bom filho e amigo, um péssimo motorista."

- Amor, eu tenho tanta coisa pra te dizer... Eu não sei onde eu começo, mas queria que soubesse que agora sua música favorita é minha música favorita e só agora ela faz sentido " Porque você não sai detrás da nuvem? "

Ela deu uma risada triste, de partir o coração mais duro, uma risada que poderia ter abalado as estruturas da terra e que talvez tenha abalado as estruturas do próprio céu, porque naquele instante das nuvens de tempestade que se formavam no céu nublado, uma gota de agua caiu, como se do céu Carlos chorasse com ela.

- Eu preciso seguir em frente, mas é tão difícil recomeçar sem você, porque em cada recomeço da vida eu te imaginava do meu lado. Eu lembro de quando nós dois dançávamos no escuro e você dizia que era só fechar os olhos que a luz do meu coração ditaria o ritmo, o caminho... Mas é estranho saber o caminho quando não escuto mais sua voz.

Respirou fundo preparando-se para admitir o que até agora não admitia nem a si mesma.

- Eu sinto tanto a sua falta, tanto... parece que um pedaço de mim morreu com você, eu sinto falta das conversas, e do seu abraço e do modo como me fazia rir. Eu dirigi 155 quilômetros só para tentar te ter do meu lado só mais um pouquinho, e ainda assim, eu só te sinto como antes, dentro do meu coração.

Talvez não o tivesse de seu lado, mas o tinha em seu coração. Devia ser um consolo, e mesmo se não fosse, agarra-se aquilo como sua salvação, porque era tudo o que restava.

Passou na blusa as mãos sujas de terra e grama e então limpou as lágrimas.

- Eu consegui o emprego dos sonhos, bom a entrevista é amanhã, mas eu sinto que consegui. Eu sei que você deve estar orgulhoso, e pelos céus, como eu queria chegar em casa e ter você para comemorar comigo. Abriríamos aquele vinho que a tanto tempo guardamos para uma ocasião especial, você pegaria o violão e tocaria aquelas músicas que eu nunca aprendi a cantar e depois você me amaria sem pressa.

O peso no fundo do peito indicava que Helena havia aprendido a lição, dia especial era cada dia que se estava vivo.

- Sinto muito Carlos, eu preciso que me perdoe. Por não ter sido boa o suficiente para te fazer ficar depois daquela briga boba.

Carlos importava, e quando ela o havia visto trocando simpatias com a colega de trabalho ela se importou. Esse foi o motivo da briga idiota que tiveram antes dele sair do apartamento e pegar a moto.

- É que quando eu vi vocês dois na frente da empresa, ela parecia tão feliz, você parecia feliz e eu senti que estava te perdendo de vez. No fundo eu sempre soube que nós dois não duraríamos para sempre, mas ainda assim eu tentei, porque eu queria que fosse você.

Aquela intuição estava certa, naquele dia perdeu Carlos para sempre. De um jeito muito pior que poderia ter imaginado.

- Eu vou seguir e continuar sentindo sua falta e desejando que estivesse aqui. Por favor Carlos – Ela tapou os olhos com as mãos e permitiu que aquele choro trancando a uma semana rompesse seu peito - eu amo você, volta pra mim!

- Eles nunca voltam.... Não importa o que tenhamos a dizer. – Helena desvirou-se na direção da voz grave, um homem alto de cabelos negros encarava o tumulo ao lado, os olhos fixos sem sequer desviarem para ela.

- O que você tem a dizer? – Ela ergueu o rosto em direção ao tumulo que ele encarava – Se tivesse só trinta segundo, o que você diria?

- Que eu soubesse que era ele, eu teria errado aquele tiro. 

A última CartaOnde histórias criam vida. Descubra agora