Aquela que Traz o Fim

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(...) Perséfone, por sua vez, havia consumido grãos de romã (fruto do casamento), o que foi entendido como um sinal de que ela não era completamente indiferente a Hades.

Os dois arautos que guardavam a entrada do Salão de Julgamento fizeram uma mesura respeitosa para ela, abrindo logo em seguida as pesadas portas de madeira negra, considerada a mais rara do mundo humano, muito acima do Reino de Hades

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Os dois arautos que guardavam a entrada do Salão de Julgamento fizeram uma mesura respeitosa para ela, abrindo logo em seguida as pesadas portas de madeira negra, considerada a mais rara do mundo humano, muito acima do Reino de Hades. 

Ela adentrou o Salão silenciosamente, para não atrapalhar a audiência que ocorria, seguindo calmamente em direção ao canto mais afastado do salão, carregando uma cesta cheia de belíssimas frutas vermelhas e brilhantes, cada uma possuindo uma imponente coroa dourada, pois eram dignas do Rei a quem eram destinadas.

Hades a observou cuidadosamente, sentado em seu trono de ródio negro, que quase conseguia ser mais imponente que o Rei que o usava.

Quase.

O Rei do Submundo era uma figura impossível de ser ignorada, com olhos escuros penetrantes, que pareciam capazes de enxergar os pensamentos mais obscuros daqueles que observava atentamente – e sempre estava muito, muito atento ao que ocorria ao seu redor.

Já havia bastante tempo que ela sentia este olhar sobre si, e vinha, com o passar do tempo, se agradando cada vez mais de se sentir observada por ele. Mesmo agora, quando se perguntava se ele era capaz de ver a inquietação que borbulhava em seu interior.

Observando as duas almas que conversavam com o Rei, ela sentou-se calmamente em um dos primeiros degraus que levavam até os tronos – além do lugar de Hades, havia um segundo trono ao seu lado, vazio, diferente do de Hades apenas por belas pedras de um rosa transparente lindamente esculpidas nos apoios para os braços, sobre o qual ela sempre se perguntava a quem era destinado.

Não havia rainha no Submundo, mas, em toda a morada do Rei, havia sinais de que ele se preparara para receber uma esposa. Esse pensamento fazia o estômago dela queimar, embora não entendesse exatamente o motivo – particularmente quando imaginava a possibilidade de a esposa em questão ser especialmente uma das belas ninfas que o serviam e que parecia bastante íntima do Rei.

– ... garanto que todos estão em segurança, as rachaduras pararam de aumentar já tem bastante tempo – Hades respondeu para as almas, que mantinham os olhos no chão de forma respeitosa, ainda que ela os reconhecesse como dois dos guerreiros que normalmente vinham à presença do Rei para reportar problemas e anseios das almas – Os gigantes no interior do Etna estão se acalmando; garanto que não surgirão mais rachaduras na abóbada do Submundo. Assim que estiverem controlados, fecharei todas as fendas abertas.

Ela compreendia a preocupação recorrente das almas. A luz abrasante de Hélios faria com que todas desvanecessem e o Submundo era o único refúgio seguro para suas existências efêmeras, até que estivessem prontas para renascer.

As aberturas acima do Submundo eram assustadoras para os mortos  – ela mesma caíra por uma delas e, por graça divina, fora salva por Hades, que surgira com seu carro de velozes e imensos corcéis negros para resgatá-la de uma queda que, embora não a matasse, seria extremamente dolorosa.

Perséfone, Deusa SelvagemOnde histórias criam vida. Descubra agora