Aquela que se Torna Esposa

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(...) Uma floresta o envolve inteiramente, coroa as águas e sua folhagem, como um véu. Os ramos fornecem o frescor, a terra úmida as flores roxas; é uma primavera perpétua.

Foi ali que Hades, flechado por Eros, a mando de sua mãe, Afrodite – que se incomodava com a beleza de Cora e mais ainda com Hades, que recusava a permanência do amor no Submundo – apaixona-se pela jovem filha de Deméter, que brincava com as ninfas.

Perséfone apresentou-se  ao seu futuro marido diante da multidão que ia até onde os olhos alcançavam, usando o vestido negro adornado de finos fios de ouro que encontravam-se em seus ombros e desciam por seus braços, em delicadas ombreiras douradas

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Perséfone apresentou-se ao seu futuro marido diante da multidão que ia até onde os olhos alcançavam, usando o vestido negro adornado de finos fios de ouro que encontravam-se em seus ombros e desciam por seus braços, em delicadas ombreiras douradas.

Um véu longo, negro e diáfano, a cobria, farfalhando quando passava por cima dos botões de rosa que nasciam aos pés da deusa a cada passo dado – ela já aceitara intimamente que nada naquele dia seria capaz de controlar seus poderes recém encontrados, os quais insistiam em se manifestar de forma tão óbvia em resposta à sua felicidade.

A multidão, já naturalmente silenciosa, pareceu paralisar por completo ao vê-la, em expectativa ansiosa. Ela agradeceu ao véu por esconder um pouco de seu rubor e nervosismo, muito embora também se sentisse frustrada por não poder ver com clareza o olhar de Hades sobre si.

Prendeu a respiração quando ele se aproximou, erguendo o véu com delicadeza – era um gesto cheio de significado, de apresentá-la não só como a esposa que estaria sob sua proteção, mas como deusa que reinaria ao seu lado, a quem nenhum manto poderia encobrir.

Ela compreendia o gesto, mas isso também a amedrontava e tocava em suas inseguranças tão íntimas, aquelas que corajosamente ela decidira enfrentar.

As grandes, e tão gentis, mãos de Hades estenderam-se diante dela, as palmas para cima, segurando uma delicada pena de pavão. Era a benção de Hera.

Compreendendo que deveria aceitar sua benção com Hades, Perséfone ergueu a mão esquerda, pousando-a delicadamente sobre as dele. Um formigamento insistente se iniciou no centro de sua mão, ao mesmo tempo em que a pena se desvanecia em suave brilho dourado.

Começou com um comichão no centro de sua palma, que logo se estendeu pelos seus dedos, envolveu seu pulso, e subiu por seu braço, ganhando todo o corpo da deusa com fios de poder invisível, e então, por um ínfimo momento, ela estava conectada a Hades, aos seus pensamentos, ao seu passado e ao seu poder.

Ele tinha medo, assim como ela. Medo de não ser suficiente, de que tanto tempo lidando com os mortos tivessem tirado dele tudo o que poderia atrair uma deusa jovem, medo de que a tirassem dele – não sabia se conseguiria ser sozinho depois de ter sua companhia.

Ele tinha inúmeras inseguranças, mas a amava em uma intensidade desesperadora, desde que a vira pela primeira vez colhendo flores nos campos, quando ele fora à Superfície observar as rachaduras na abóbada do Submundo causada pela fúria dos gigantes presos no vulcão Etna.

Perséfone, Deusa SelvagemOnde histórias criam vida. Descubra agora