Capítulo 7 - O coração lembra

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Ontem foi uma loucura. Nunca pensei que o simples ar de uma casa seria capaz de sugar tanta energia e disposição. Quando cheguei em casa depois de ter sido completamente rejeitado por uma velha rabugenta até a minha cabeça estava doendo. Eu já não tinha vontade de namorar, nunca tive - esse tipo de coisa... Simplesmente não me interessa.  Mesmo assim eu nunca teria imaginado o quão estressante isso poderia ser, se uma semana atrás eu não queria nem beijar na boca, de agora em diante vou acabar como um diabo que foge da cruz.

Solto um suspiro cansado. "Por que ainda estou pensando nisso?"

Só que ao me virar para o outro lado, como já fiz tantas vezes essa noite à espera de um sono que nunca chega, a imagem de Naruto me vem a mente. Queria poder dizer que isso só me ocorreu pela raiva que passei durante aquele almoço, mas não seria verdade. Afinal, a imagem que me veio a mente não foi do cara que vi ontem, foi do garoto que me seguia pra todo lado... Mais especificamente a imagem da primeira vez que ele dormiu na minha casa.

A ponto de imaginar ele aqui. É ridículo, mas eu meio que sinto saudade. Deve ser mais ridículo ainda, mas eu meio que gostava dele, eu acho. Não sei, eu nunca gostei de ninguém de verdade.

Nesse dia o meu irmão também tinha levado um amigo então o sofá já estaria ocupado e tivemos que dormir na mesma cama. Não teve climão nem nada assim, até porquê já éramos muito amigos e já não tínhamos tanto receio de certa proximidade.

A luz já tinha sido apagada a algum tempo e meu pai já havia aparecido umas duas vezes pra mandar a gente parar de conversar e ir dormir, porque nossos cochichos estavam incomodando. Ouvi e senti o movimento da cama dele se virando, não dava para ver direito mas meu olho já tinha se acostumado com aquele breu, então me virei também tendo o vislumbre apenas do topo de sua cabeleira loira e o que parecia ser um de seus olhos.

Nunca soube direito o porquê, mas aproveitei que ele não me enxergaria para sorrir, me senti tão bem. Sei lá, como se eu tivesse ali um lugar no mundo... Não sei se fez sentido.

O sorriso endureceu quando senti a pele de sua mão procurar a minha. Elas se entrelaçaram e tive uma tola sensação de que ele também estava sorrindo. Ele brincou carinhosamente com meus dedos, carinhou minha palma e eu só correspondia sem saber exatamente o que estava acontecendo ali, mas aproveitando cada segundo. Era como ter outro irmão, mas o sentimento era um pouco diferente.

Ainda é.

Então ele chegou mais perto, me abraçou e, ao ser correspondido, se ajeitou para se aconchegar melhor em meus braços. Meu coração batia tão forte, como se eu estivesse realmente sentindo cada batimento e morri de medo que ele notasse. Mesmo que tenha notado, nunca falou nada sobre isso.

A memória parece tão viva que por um instante me questiono se isso tudo realmente aconteceu. Eu nem me lembrava que já tínhamos dormido na mesma cama, até agora.

O pior é que, mesmo com essa situação toda, estou realmente desejando aquele porto seguro outra vez.

Namorados De MentiraOnde histórias criam vida. Descubra agora