𝐧𝐚𝐬 𝐯𝐢𝐝𝐚𝐬 𝐩𝐚𝐬𝐬𝐚𝐝𝐚𝐬 𝐞 𝐧𝐚𝐬 𝐩𝐫𝐨́𝐱𝐢𝐦𝐚𝐬, 𝐞𝐦 𝐪𝐮𝐚𝐥𝐪𝐮𝐞𝐫 𝐭𝐞𝐦𝐩𝐨 𝐦𝐮𝐧𝐝𝐨 𝐞 𝐮𝐧𝐢𝐯𝐞𝐫𝐬𝐨

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❝𝘘𝘶𝘦 𝘥𝘦𝘮𝘰̂𝘯𝘪𝘰 𝘣𝘦𝘯𝘦́𝘷𝘰𝘭𝘰 𝘦́ 𝘦𝘴𝘴𝘦 𝘲𝘶𝘦 𝘮𝘦 𝘥𝘦𝘪𝘹𝘰𝘶 𝘢𝘴𝘴𝘪𝘮 𝘦𝘯𝘷𝘰𝘭𝘵𝘰 𝘦𝘮 𝘮𝘪𝘴𝘵𝘦́𝘳𝘪𝘰, 𝘦𝘮 𝘴𝘪𝘭𝘦̂𝘯𝘤𝘪𝘰, 𝘦𝘮 𝘱𝘢𝘻 𝘦 𝘱𝘦𝘳𝘧𝘶𝘮𝘦𝘴?❞

Charles Baudelaire 

☽☀☼ ☾

LISA

A noite está escura. Tão escura que mal consigo ver alguns passos na minha frente, apenas sombras de folhas e árvores, e tenho a sensação de que não pertenço ao lugar em que estou. Há um vento congelante, e quanto mais me movo, mas lenta fico. É agoniante e amedrontador, é horrível e não consigo sair. 

Até que então, a luz do luar brilha, mostrando claramente os prédios ao meu redor e a solidão: estou sozinha nessa rua de paralelepípedos. Ao olhar para cima, tentando cobrir meus olhos da súbita luz, vejo que não se trata de um luar comum: É uma cheia, enorme lua de sangue, que me brilha tão próxima a terra que quase parece mentira. 

Eu já li sobre esse evento. O primeiro documentado foi no ano de 1791, onde durante cerca de sessenta e seis horas—quase três dias completos—uma lua vermelha pairou visível somente no continente asiático. Mas isso já foi a quase dois séculos. E nunca mais houve outra lua de sangue.

Até hoje. 

Eu olho ao redor, tentando achar alguma pista da onde estou e da onde devo ir. As imagens se retorcem em meus olhos, e caminho mais um pouco, até achar uma outra sombra em um telhado.

Um gato.

Enorme, de pelugem completamente negra e olhos vermelhos me encara ali de cima.

Lalisa. Escuto a maldita voz soprando em meu rosto. Lalisa, venha cá. 

E então, estou em um quarto. Deitada em uma cama, em um quarto como de uma rainha, estou cercada por finos lençóis brancos em uma estrutura de madeira ao redor da cama, e posso ver o quarto até que bem, pela mesma luz rosa avermelhada que passa pela janela. O gato pula pela mesma janela, somente seus olhos e as presas afiadas como marfim aparecendo enquanto ele caminha até mim. É gigantesco, deve passar de um metro de comprimento e altura, e caminha graciosamente pulando sob a cama enquanto eu ofego, apoiada contra a cabeceira acolchoada. Estou encantada, embora cagada de medo do felino, que passa a língua pontuda e rosa pela boca antes de se esfregar em minhas pernas. 

De repente, há diversos deles, por toda a parte, me mordendo, me puxando, miando por minha atenção enquanto me sufocam. Eu grito e tento escapar, mas não consigo, são muitos e estão aonde quer que eu olhe, miando e pulando até mim. Não tento voz nesse lugar, ela simplesmente não saí, mesmo que eu tente gritar e me sacudir com toda a minha força, meus membros parecem moles e escorregadios, como se tivesse fumado uma caminhonete de Mary Jane antes de vir para cá. 

Em desespero, meus olhos se cruzam com o do gato maior, em cima da cômoda de madeira nobre, que observa-me. Posso ver no espelho oval de moldura dourada atrás do felino, que sua sombra é diferente. 

É feminina. É uma mulher. De pele branca e pupilas vermelhas, sua esclerótica é rosada assim como seu nariz e língua, que passa pelos lábios vermelhos e dentes pontudos enquanto me olha, como se quisesse me devorar por inteira. Seu cabelo caí escuro como carvão por sua pele nua e sua franja dança enquanto ela sorri para mim. Ela tem orelhas felinas, que se mexem e tremem. 

🍒𝑪𝒉𝒆𝒓𝒓𝒚 𝑩𝒍𝒐𝒐𝒅 𝑩𝒐𝒎𝒃!🍒 FÍSICOOnde histórias criam vida. Descubra agora