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Os dois saíram juntos do dojo e tudo que menos queriam era conversar, mas sabiam que era necessário. Não iam conseguir lidar com essa loucura sem um mínimo de cooperação e civilidade.

"Que porra é essa, Keene? O que tá acontecendo?" Miguel perguntou, sem paciência para enrolação.

"E como eu vou saber?" Robby cruzou os braços, irritado.

"Olha aqui… ok. Precisamos pensar. Eu não posso voltar pra casa desse jeito, minha mãe vai ter uma síncope."

"E o que você vai fazer, fugir da cidade?" Robby debochou.

"Muito engraçado. Não, claro que não. Você vai pra minha casa e eu vou pra sua. E a gente descobre como voltar ao normal e pronto, resolvido." Miguel disse como se estivesse explicando um problema de matemática muito simples.

"Você enlouqueceu? Acredite, você não vai querer isso." Robby respondeu, chocado.

"Você tem alguma outra ideia, gênio? Manda ver."

Infelizmente, ele não tinha. E foi assim que, menos de uma hora depois, se viu sentado na ponta da cama do quarto de Miguel encarando o armário aberto e tentando organizar as roupas entre coisas que ele usaria e coisas que nem queria olhar. Ouviu a batida à porta e se assustou, quase caindo da cama. Então lembrou que não estava sozinho em casa como quase sempre ficava. "Pode entrar." Disse, assim que se recuperou.

"Hola, Miggy. Arrumando o armário?" Carmen perguntou, surpresa.

"Sim. Achei que tava na hora…"

"Estava mesmo." Ela disse, num tom de crítica tão suave que ele nem se sentiu mal. E bem, a bagunça não era dele. "Vamos jantar, a comida tá pronta." Ela o chamou, o surpreendendo mais uma vez.

Se sentou à mesa com Carmen e Rosa e era a primeira vez em muito tempo que ia comer comida caseira que não fosse preparada por ele mesmo com os poucos ingredientes que conseguisse reunir. Ficou um pouco boquiaberto porque parecia até um banquete. Não sabia o nome de metade daquelas comidas, grande parte eram receitas típicas do Equador, mas ele não se importava muito com nomes naquele momento. Estava com tanta fome depois de dias comendo cereal com água que quase atacou o pobre frango, estendendo a mão na velocidade da luz para pegar um pedaço.

"Miguel! Que coisa feia! Se você estava com tanta fome, por que não lanchou? Vamos agradecer primeiro." Carmen disse, pasma com a atitude do filho.

Boa forma de descobrir que a família era religiosa, parecendo um zumbi faminto por cérebros. Que vergonha, Robby pensou. Mas agradeceu silenciosa e sinceramente junto com elas, dessa vez esperando elas se servirem para ter certeza de que não faria nada errado. Quando as duas tinham seus pratos feitos, ele começou a encher o seu, prestando atenção para não colocar comida demais e passar vergonha de novo.

"Tudo bem na escola, Miggy?" Rosa perguntou.

"Sim, tudo bem." Esperava que sim, não tinha como saber. "Tudo bem no trabalho?" Ele perguntou, parte por querer saber mais sobre Carmen e parte para tirar a atenção da vida que deveria conhecer e ignorava totalmente.

"Tudo bem, querido. Só estou um pouco cansada, mas vou ter folga amanhã!" Ela disse, animada, e Robby esperou para ouvir os planos dela para o dia seguinte, como sempre fazia com Shannon.

"Eu sei que você deve preferir ir com seus amigos, mas está passando aquele filme novo no cinema… daquele heroi que você gosta."

"Homem-Aranha", Robby ofereceu, instantaneamente.

"Isso! Se você quiser, podemos ir. Você pode até chamar o Eli e o Demetri também, se preferir." Ela disse com um sorriso, sabendo como eram os adolescentes. Quer dizer, adolescentes normais que já estavam cansados de ter a família por perto o tempo todo. Definitivamente não ele.

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