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Miguel se arrumou e tentou achar as roupas de Robby que mais pareciam com seu próprio estilo para se sentir mais confiante. Acabou se decidindo por uma camiseta preta e uma camisa xadrez azul-marinho por cima, e uma calça jeans azul, e botas pretas. Não gostava muito de calçados assim, mas não estava em posição de escolher muito. Arrumou o cabelo de um jeito diferente, levemente puxado para a frente em vez de repartido no meio, e quase parecia outra pessoa. 

Parou para se admirar no espelho e precisava admitir, não que fosse dizer isso em voz alta, nem sob tortura, que Keene era muito mais bonito do que ele gostaria. Era fácil se sentir confiante com aquela aparência. Ele ainda fazia questão de tomar banho de olhos fechados, só por garantia.

Tentou arrumar um pouco a bagunça que havia feito no dia anterior quando estava sem cabeça para arrumar a cama, lavar a louça e cuidar das roupas. Depois, pegou algumas de suas coisas, as que mais precisava e uma quantidade boa de roupas e arrumou na mala que Robby havia indicado onde ele podia encontrar, seguindo para a casa de Johnny pronto para ficar. 

Certamente não era o que o loiro esperava quando abriu a porta, já que Robby era muito desconfiado e fechado e tinha dificuldade de pedir ajuda. Dar de cara com o filho de mala nas mãos e mochila nas costas o fez paralisar e abrir a boca em silêncio, por puro choque. Quando se deu conta de que não era uma alucinação, perguntou, perplexo: — Robby? Aconteceu alguma coisa?

— Mam… Mamãe sumiu. Ela foi viajar com um namorado e não voltou, cortaram a luz e não tem comida em casa, nem dinheiro. Posso entrar? — ele perguntou diretamente, sem vergonha alguma.

— Ahn, claro. Entra — Johnny disse, ainda um pouco estupefato pela atitude do filho.

— Posso ficar aqui um tempo? Ou então eu posso ir ficar com o Daniel — Keene que o perdoasse, mas ele ia usar todas as armas que tinha sim, e sabia muito bem que a rivalidade e competitividade entre seu sensei e o dele eram uma forma eficaz de conseguir o que queria. 

— De jeito nenhum! Claro que você vai ficar aqui — disse de forma ciumenta e absolutamente previsível — pode deixar as coisas no seu quarto, ele já tá arrumado pra você.

Miguel entrou no quarto de hóspedes que já havia visto algumas vezes, agora com um novo olhar. Havia uma cama de solteiro e o mesmo guarda-roupa modesto de antes, mas agora as caixas, troféus e outros objetos que Johnny antes amontoava no quarto haviam sumido, conferindo ao cômodo um aspecto mais doméstico e acolhedor. Ainda não tinha muita personalidade e certamente não dizia nada sobre seu dono em potencial, mas isso seria fácil de mudar.  

Miguel foi tomado pela curiosidade, queria saber que aspecto o quarto teria se o dono do corpo que habitava estivesse ali, que pôsteres Robby colaria na parede, onde deixaria o skate que sempre levava consigo, se iria fazer questão de uma mesa onde pudesse escrever e fazer seus deveres. Que tipo de decoração ele gostaria, quais eram suas cores preferidas? Será que ele gostaria de roupas de cama temáticas ou as acharia muito infantis, preferindo cores sóbrias? Que móveis o outro gostaria de adicionar ao quarto?

E outra pergunta se sobrepôs a todas essas, surpreendendo o moreno: será que Robby havia mudado algo no quarto do garoto latino? Sentiu uma vontade insana de ir conferir, e de pedir a Keene que o ajudasse com a renovação do lugar onde dormiria temporariamente. Essa vontade de saber a opinião de seu rival e de compartilhar esse momento com ele o chocou, mas ele não podia negar que ela estava lá.

Miguel começou a arrumar o quarto, desfez a mala e pôs as roupas no armário, os sapatos embaixo da cama e alguns pertences na gaveta da mesa de cabeceira. Ele realmente precisaria de uma mesa para estudar, e bem, Keene precisaria ter um quarto completo quando eles voltassem ao normal. Talvez ele devesse pedir a Johnny para arrumar uma estante também. Se ele não quisesse gastar muito, os dois podiam fazer uma. 

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