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Miguel acordou no quarto renovado de Robby e se espreguiçou longamente. Se levantou, fez flexões e abdominais e foi tomar café, agora com comida de verdade: pão, queijo, leite e café. Johnny já havia saído, e Miguel faria o mesmo em breve, pois o treinamento no Miyagi-Do começaria às 11h.

Voltou ao quarto e escolheu uma roupa para ir treinar, um short cinza e uma camiseta azul. Arrumou o cabelo de um jeito um pouco mais ousado e ficou muito satisfeito com o resultado. Ele ainda não deixava de se admirar com o quanto era fácil cuidar da aparência no corpo de Robby.

Pegou a bicicleta — e se alguém havia estranhado Robby trocar o skate por ela, não havia dito nada — e seguiu para o dojo. Era diferente pedalar com as pernas mais curtas, mas ele estava começando a pegar o jeito. Já estava se acostumando ao novo corpo, por mais alarmante que isso fosse. Estacionou nos fundos do dojo e deixou a bicicleta perto dos carros antigos que ocupavam o lote, e então seguiu para a parte da frente, esperando ser o primeiro a chegar.

Para sua surpresa, Sam já estava lá, treinando socos em um saco de pancadas. Vestia uma calça branca e uma blusa rosa que a deixavam delicada como uma rosa. Os cabelos estavam presos em um rabo de cavalo do qual algumas mechas começavam a se soltar, dando um toque charmoso ao penteado, mesmo que não intencional. Miguel quase suspirou ao vê-la. Se aproximou dela e disse, na voz mais firme e discreta que conseguiu:
— Bom dia, Sam. Chegou cedo.

Ela deu uma risadinha fofa que combinava perfeitamente com sua aparência, e respondeu simplesmente: — você também.

— Quero voltar à minha melhor forma. Sinto que não tenho rendido muito ultimamente — Miguel disse, sinceramente. Queria realmente melhorar, ser tão bom quanto Robby e parar de causar desconfiança — acho que é o stress.

— Vai melhorar. Quer conversar? — a garota perguntou gentilmente.

Miguel se sentou em um dos degraus de madeira de frente para a entrada da antiga casa, e Sam se sentou ao seu lado. Ela sempre havia sido atenciosa e uma boa ouvinte, e ele não podia negar que sentia falta disso. Mas não podia ser honesto, então tentou pensar em como estava a vida para quem olhasse de fora.
— É um pouco difícil me acostumar com as mudanças. Morar com meu pai, ser vizinho do Miguel. Sem contar que ainda não faço ideia de onde minha mãe está — o moreno disse, e se sentiu um pouco mal ao pensar no quanto isso devia ser realmente difícil para Robby.

Ele percebeu a expressão contrariada de Sam ao ouvir seu nome, mas ela disfarçou rapidamente.
— Eu imagino. É muita coisa. Mas você disse que as coisas estão melhores, certo? Com seu pai? Espero que você tenha notícias da sua mãe logo — ela falou em um tom preocupado, pondo uma das mãos acima da do garoto, que descansava no joelho dele. Ele se surpreendeu com o contato, mas tentou não demonstrar.

— Estão melhores, sim. Mas ainda tem muita coisa pra gente resolver. É… complicado — ele respondeu, desviando o olhar de onde suas mãos se tocavam para o rosto levemente ansioso de sua ex-namorada.

— Sabe que estou sempre aqui, né? Pode contar comigo, — Sam prometeu, olhando dentro dos olhos verdes com aqueles olhos azuis brilhantes, e Miguel apenas acenou afirmativamente com a cabeça.

Os dois se encararam por quase um minuto, até Sam chegar o rosto para mais perto do dele, decidida a tomar a iniciativa. Miguel viu os olhos azuis se fecharem enquanto ela se aproximava, e não conseguiu resistir, apenas deixou que seus lábios se tocassem e sentiu seu coração acelerar com o beijo curto e suave. Sam se afastou, um pouco corada, mas não se desculpou. Apenas sorriu para ele e aguardou para ver sua reação.

A cabeça de Miguel estava a mil. Tudo que ele queria era aquilo, ter Sam de volta, poder conversar com ela, beijá-la, saber que ela o queria de volta. Mas o que ela queria era Robby. Enquanto Miguel sofria por ela e agia como um idiota, ela já estava em outra. E ele não sabia o que fazer, se devia aproveitar esses momentos o quanto durassem, ou se afastar logo para não sofrer em dobro quando voltasse ao seu próprio corpo. Só conseguia pensar em Sam e Robby juntos, em como ele tinha razão desde o início. Não tinha sido paranoia, afinal. Talvez nem fosse algo novo entre eles, mas Miguel também não sabia como lidar com aquilo.

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