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No domingo à noite, Robby terminou de jantar e disse que ia dar uma volta para desgastar a comida. Ajudou Carmen a tirar a mesa e guardar o que havia sobrado, aproveitando para separar uma bela porção para Miguel. Pediu dinheiro a ela para passar na farmácia e comprou o shampoo que havia prometido, depois foi direto para o apartamento onde morava com a mãe. Bateu na porta e quando Miguel atendeu, ele pareceu quase feliz. Devia realmente estar desesperado se vê-lo era um alívio. 

"Keene! Não sabia se você vinha mesmo." Ele disse, saindo da frente e deixando Robby passar.

"Eu prometi, não foi? Eu trouxe nhoque, tá muito bom. Comprei o shampoo também." Robby disse, lhe entregando a sacola. "Tá tudo bem por aqui?"

"Defina bem. Sua mãe não apareceu até agora, não tem comida aqui e prenderam alguém no prédio da frente, foi uma baita confusão." Miguel disse. "Amanhã é segunda, o que vamos fazer?"

"É, nada novo. Vamos pra escola, ué."

"E o treinamento?" Miguel perguntou, ansioso.

"Nem pensar. A gente pode faltar um dia." Robby disse, não querendo nem pensar em ter que ir treinar no Cobra Kai.

"Seu pai é meu vizinho. Se você não for pro treino, ele vai te buscar em casa e vai ser pior. Só vai e deixa de palhaçada." Miguel disse, sem paciência.

"Certo. Boa sorte na roda então. Depois não diz que não avisei." Robby disse, sorrindo cinicamente.

"Pera, que roda é essa que vocês tanto falam, afinal? Parece até um ritual." 

"Ah, você vai saber amanhã, Diaz. Leva uma roupa pra trocar lá, você vai precisar. Até amanhã." Robby foi embora sentindo o gostinho de ter deixado Miguel curioso. Bem feito por ser babaca e ingrato, ele pensou. 

Miguel não queria admitir, mas a bendita roda era muito mais difícil do que ele imaginava. Quando Sam o chamou para o tal exercício, ele já estava se sentindo superior, achando que ia mostrar a eles o que uma cobra é capaz de fazer. Bem, mostrou mesmo. Cair na água e rastejar para fora eram coisas que cobras faziam. Depois da vigésima segunda queda, seu orgulho nem existia mais, estava apenas impressionado que Sam e Robby aparentemente conseguiam fazer isso de forma perfeita. 

"O que aconteceu com você hoje, Robby? Parece que nem lembra do kata." Sam disse, frustrada. 

"Eu não tô muito bem… não dormi direito. Acho que vou assistir vocês dois." Miguel disse, finalmente se rendendo e sentando na grama, deixando Demetri tomar seu lugar. 

"Eu nunca consegui fazer igual você, mas pelo menos eu lembro dos movimentos. Acho que não dá pra ser pior." Demetri disse com aquela honestidade irritante, aumentando sua humilhação. Só queria que esse dia acabasse logo. Esperava que Robby estivesse sofrendo tanto quanto ele.

Robby estava nesse maldito dojo há menos de quinze minutos e já queria botar tudo abaixo. Os gritos o irritavam, o cheiro de produtos químicos e suor o enjoava, sentia falta da atmosfera relaxante do Miyagi-Do e de seu sensei, sem contar que Demetri e Sam eram muito mais agradáveis que os cobras. Tirando Aisha, ela era legal. 

Havia começado mal chamando Johnny de senhor Lawrence - como fazia com seu sensei - e todos o olharam como se tivesse crescido uma cabeça extra. Agora precisava se lembrar de chamá-lo apenas de sensei.

Para piorar, Kreese estava lá contando todas aquelas histórias obviamente exageradas sobre a guerra e seu passado glorioso, fazendo Robby revirar os olhos. Hawk parecia atento, hipnotizado por aquela ideologia idiota. 

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