𝐢. 𝐓𝐇𝐄 𝐇𝐄𝐈𝐑𝐄𝐒𝐒. ! ༉ original

♛ 004.

Subi as escadas atrás das morenas, com Zaniel ao meu alcance. Na minha frente, elas sussurravam coisas uma para à outra, enquanto eu continuava observando tudo com curiosidade.

Os quadros espalhados podiam ser considerados - por mim e por qualquer pessoa em sã consciência - como... excêntricos? Talvez. Era algo mais do tipo abstrato - ou não. De certa forma, todos pareciam se remeter às mesmas coisas: lendas.

Uns lembravam algo como a figura de um lobo sob o luar. Outras de vampiros e seus olhos vermelhos, que pareciam encarar até minha alma. Também havia os que pareciam mais... suaves, digamos assim. Brilhantes, coloridos, assemelhando-se à algo que lembrava o fogo, à água e a natureza.

Tive tempo o suficiente para analisar, já que a escada parecia ser infinita. E, adicionei ela à minha lista de coisas que eu estava detestando naquela noite.

- Gostou? - ouvi a voz do garoto ao meu lado dizer e lentamente me virei para olhá-lo. Ele era alguns centímetros mais baixo do que eu e como seu amigo dos cabelos azuis, parecia muito mais pálido debaixo da claridade. - Dos quadros, eu quero dizer.

Balancei a cabeça positivamente.

- São bonitos - confessei. - Mas, um pouco estranhos... o que querem dizer?

O mais baixo sorriu.

- Tem certeza que não sabe? - perguntou novamente, parecendo desconfiado.

- Bom, são seres de lendas, pelo o que vi - dei de ombros, avistando finalmente o final da enorme subida. - Mas, porque teriam tantos desses quadros por aqui? E, aproveitando o embalo, o que é aqui?

Zaniel riu baixinho, apontando para Carmélia e Cassandra, que agora olhavam em minha direção, esperando que eu às alcancace. Revirei os olhos, afinal, mais uma vez não tive resposta alguma.

Após estar finalmente no andar de cima, ao lado das cacheadas, eu parei, esperando que alguém dissesse alguma coisa. De preferência, uma explicação plausível para tudo àquilo.

Cassandra, por sua vez, me puxou pela mão. Logo estávamos os quatro em um corredor comprido, com várias portas espalhadas por ele. No final dele, ao longe, havia uma que se destacava, por ter o mesmo "R" que estava estampado no portão, do lado de fora.

- Aquela vai ser a porta que conterá todas suas respostas - a morena me disse, o mesmo sorriso gentil de antes estampado no rosto. - E, peço com antecipação para que... hum, se puder... por favor, não mencione à ela sobre o "sequestro" - completou, se afastando ao fazer aspas com os dedos.

- Ela é a tal rainha Roy? - questionei, observando a porta sobre os ombros de Cassy. - Porque caralhos vocês tem uma rainha aqui? E, mais uma vez, o que é aqui?

Foi a vez de Carmélia rir.

- Eve, você vai... - ela mesma se interrompeu de repente, o humor sumindo aos poucos da voz e expressão. Com um único gesto, ela se virou mais uma vez em direção a escada, o dedo indicador no ar pedindo a atenção dos amigos. - Zan - chamou pelo menor, que assentiu.

- Eu sei - resmungou.

E, a cena a seguir me fez ter a certeza de que eu estava maluca. Completamente maluca. Em um movimento rápido, Zaniel se colocou à minha frente, ao mesmo tempo que um outro garoto subiu como o Flash pelas escadas - sem nenhuma explicação, pretendendo avançar em minha direção.

Cassandra me puxou para trás e o som dos corpos dos dois garotos se chocando ecoou pelo corredor. Segurando o outro pelos ombros, Zaniel o encarava com os olhos semicerrados e um som de ruído saia de sua boca.

Pude ver o garoto de cabelos ruivos que tentava ainda avançar em minha direção e seus olhos... incrivelmente vermelhos me analisando. Tão vermelhos quanto os dos quadros que me encararam minutos antes.

Prendi a respiração, vendo ele sorrir para mim. Suas presas pontudas brilhando diante a luz que emanava pelo lugar, dando total contraste a sua pele branca.

- Dá o fora, Jason! - Zaniel rosnou, irritado. - Não vou te pedir duas vezes.

O ruivo riu alto.

- Ela cheira ainda melhor de perto - anunciou, seus olhos fixos aos meus. - Sangue da realeza é mesmo irresistível.

Cassandra xingou baixo ao meu lado, me puxando pelo braço para que eu desviasse minhas íris da cena estranha à minha frente. Carmélia, entretanto, andou até Zaniel - pela primeira vez, vi seus olhos emanarem irritação.

- Vão na frente - a morena pediu. - Eu e Zan vamos cuidar desse idiota.

Me sentia tão atordoada, que nem percebi o quanto estava me afastando, ainda com Cassy me puxando sem parar. Então, após ouvir uma batida soar, soube que a porta foi aberta, pois em segundos estava dentro de uma sala qualquer e não via mais Carmélia, Zaniel e Jason.

Arregalando os olhos, virei-me para Cassandra.

- Que porra foi aquela!? - exclamei, passando as mãos nervosa pelo cabelo bagunçado. - Ele tinha presas afiadas! Os olhos dele eram vermelhos e brilhavam como... meu Deus... o que foi àquilo? Será que dá pra alguém me...

- Eve.

Parei de falar, notando que - obviamente - não estávamos sozinhas ali. Tirei meus olhos de Cassy, me virando devagar em direção a voz que me chamava.

De alguma forma, ela parecia extremamente familiar para mim. Tão familiar, que a simples menção ao meu nome, fez meu coração queimar. Então, analisei de cima à baixo a mulher de cabelos castanhos e encaracolados, que observava cada mínimo movimento que eu fazia.

Ela estava sentada em uma cadeira aveludada, diante uma mesa enorme de mármore branco. Uma coroa prateada decorava o topo de sua cabeça, dando um ênfase aos olhos cor de chocolate dela.

Igualzinho aos meus.

- Se acalme, querida - pediu a mulher. - Sente-se aqui - ela acenou para uma outra cadeira disponível ali, virando-se para Cassandra em seguida. - Poderia trazer um pouco de água para ela, Cassy?

A morena assentiu.

- Claro, vossa majestade - respondeu, a voz suave. - Hum... pode sentar, Eve - se aproximou, me direcionando com uma das mãos até o lugar indicado. - Volto já.

Avoada, me sentei. Não conseguia desviar meus olhos dos do dela. Parecia algo magnético, como se eu desviasse e a qualquer minuto ela pudesse sumir. E, mesmo sem saber o porquê, eu não queria que ela sumisse.

Soltando o ar, eu perguntei:

- Quem é você?

A mulher sorriu.

- Pode me chamar de Marie.

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