Eu não sei em que momento minha sanidade havia ido embora, mas, eu tinha certeza absoluta de que ela nunca mais voltaria. Sentada de frente à grande mesa de mármore, eu analisava cada mínimo movimento que Marie - aparentemente, mais conhecida como rainha Roy -, fazia.A sensação de familiaridade estava impregnada em mim. O jeito como sua voz parecia doce, a forma como mexia uma das mãos quando estava falando. Tudo nela me lembrava algo - ou melhor, alguém.
Eu só não sabia quem.
- Sinto muito por todo esse transtorno - lamentou a mulher. - Eu realmente gostaria que tudo pudesse ter sido... hum, um pouco diferente.
- Olha, senhora... rainha - respondi, incerta de como deveria chamá-la. Qual é? A moça estava literalmente usando uma coroa, que parecia pesar mais do que deveria. Ela exalava autoridade, apesar da gentileza presente. - Eu não sei o que está acontecendo aqui, mas deve haver algum engano.
Mais uma vez, ela riu.
- Oh, eu tenho certeza que não há engano algum, Eve - respondeu, o tom brincalhão. - E não precisa de formalidades, você pode me chamar apenas de Marie.
Assenti devagar, totalmente desconfiada.
Nada fazia sentido. Nada mesmo. Como não poderia ser um engano? Fala sério, desde quando Chicago tinha uma rainha? Havia sim algo errado nessa história e, se não fosse um engano, era coisa muito pior.
- Sei que está confusa, querida - continuou Marie. - Estranho seria se não ficasse... Mas, agora eu vou responder o que você quiser saber. Pode me perguntar qualquer coisa e eu lhe direi.
Fiquei tanto tempo sendo enrolada sobre meus questionamentos, que quando tive o sinal verde para finalmente fazê-los à vontade, eu me senti acanhada. E, um pouco nervosa, na verdade.
Afinal, eu não estava ali porque queria. Literalmente me arrastaram para longe de casa, sem o meu consentimento. Quem deveria ter as rédeas dessa conversa era ela e eu não eu! Entretanto, não sabia qual era a minha situação atual. E, provavelmente, eu não estava com o direito de exigir muita coisa.
- O que ele era? - soltei então. - Aquele garoto que... quis me atacar. O que ele era? - sendo muito sincera, eu já sabia. Fala sério, você não saberia? O problema, era que vampiros não existiam. Nem ferrando que existiam. Eu tinha quase certeza absoluta que era apenas minha mente me pregando uma peça - uma peça muito longa, por sinal.
- Você sabe - respondeu. - Sabe o que todos eles são - deu de ombros, sem desviar o olhar. Quis levantar e deixá-la falando sozinha. Qual era o sentindo dela dizer que iria responder todas as minhas perguntas e quando eu de fato faço uma, ela diz: "você sabe"?
Então, me lembrei da conversa no carro. "Vampiro de cabelos azuis" e "Cachorro". A ficha de que tudo àquilo estava mesmo acontecendo, não queria cair.
Negação, era a palavra.
Eu estava em negação.
- E-eu... - gaguejei, minha mente se nublando com ainda mais perguntas. - E as irmãs? Qual dos dois elas são?
Marie sorriu mais uma vez.
- Nenhuma das opções - explicou. - Bruxas... Carmélia e Cassandra são bruxas, responsáveis pela magia dos elementos naturais e algumas outras coisas bem legais - continuou, parecendo animada. - Aposto que quando estavam perto, você não sentiu medo delas. O jeito angelical que elas tem, pode ser considerado um dom também.
Realmente.
Carmélia e Cassandra foram responsáveis por ajudarem em meu suposto "sequestro" e tudo que reparei nelas, desde o início, foram seus cabelos incrivelmente cacheados, voz doce e sorriso gentil. Eu estava praticamente babando nas minhas próprias sequestradoras!
- Isso é definitivamente demais para digerir - anunciei, me sentindo meio tonta. - E... isso aqui não é Chicago, certo? - me referi à onde estávamos.
O céu avermelhado e o vento quase nulo, não podia ser de Chicago, isso era mais um dos fatos. E, mesmo temendo a resposta, aguardei ansiosamente por ela.
- Você está em Ezitahan agora, Eve - disse a rainha, o tom orgulhoso. - Meu reino, minha casa e... bom, a sua também.
- Cara, eu realmente não 'tô entendendo onde é que eu entro no meio disso tudo, senhora... - tratei em me corrigir. - Marie.
Sem mover o olhar desde que começou a me encarar, minutos atrás, a mulher se aproximou. Apoiou os braços no mármore branco, o ar de autoridade nunca a abandonando. Será que ela também era uma bruxa? Porque a confiança que essa desconhecida me passava, não era nada saudável.
- Posso te fazer uma pergunta pessoal, querida?
Acenei positivamente.
- Você sabe quem é a sua mãe?
Neguei.
- Nunca te contaram nada sobre ela? - deu continuidade aos seus questionamentos. - Nem o porquê dela ter ido embora e te deixado, mesmo sendo apenas uma bebê pequena e sem o menor entendimento?
Arqueei minhas sobrancelhas. Okay, àquilo estava me assustando de uma forma diferente, dessa vez. Me remexi na cadeira, peças se mexendo em minha cabeça, como se ela fosse um tabuleiro. Ela... não podia ser. Podia?
- Como você... - tentei formular, aflita. - Você...?
Foi a vez de Marie assentir.
Entendi de repente o motivo de tanta familiaridade.
Eu senti como se fosse desmaiar. Em um único movimento, me coloquei de pé. A rainha seguiu meu ato, parecendo finalmente nervosa. Ainda de costas para a porta, tentei me afastar, tateando a parede. Não queria desviar minha atenção da dela - mesmo com tudo, não parecia certo.
- Quero ir embora.
- Eve... - ela chamou.
Ignorei, achando a maçaneta e abrindo a porta com tudo. Dando as costas para Marie, eu pude avistar o início da escada gigante que me esperava. Entretanto, naquele momento, ela não parecia ser mais um dos meus maiores problemas.
- Eve, espera!
Quando me dei conta, havia atravessado a escadaria. A mesma que demorei quase meia-hora para subir. Seria engraçado, se eu não estivesse a beira da loucura. Observei de soslaio a movimentação dos adolescentes desconhecidos, me encarando curiosos.
- Eve? - virei-me. Levon avançou em minha direção, estranhando meu comportamento. A cada passo que ele dava para frente, eu também dava um para trás. - Ei, espera.
Uma roda de pessoas se formou ao meu redor. Me senti sufoca, procurando a porta de madeira enorme pela qual eu havia entrado ali. De alguma forma, eu precisava ir embora.
Não demorou muito para Marie estar ao lado do de cabelos azuis. Uma distância considerável entre nós, já que quanto mais se aproximavam, mais eu me afastava.
- Eve, por favor - pediu a mulher. - Vamos voltar lá para cima, me deixe te explicar... eu prometo que ninguém aqui vai te fazer mal.
Neguei.
De repente, senti uma mão pousando em meu ombro direito. Tão envolta em tudo, não percebi quando a morena de sorriso doce se aproximou. Encarei Cassandra, que parecia serena - como sempre.
Não sabia como ela fazia àquilo, mas... senti paz.
- Está tudo bem, Eve - ela assegurou. Com sua mão livre, a bruxa segurava um copo. Estendendo em minha direção, ela ofereceu. - Trouxe a sua água.
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𝐢. 𝐓𝐇𝐄 𝐇𝐄𝐈𝐑𝐄𝐒𝐒. ! ༉ original
Fantastik𓈒 ࣪ ࣭ 🖇 . ˙ ˙ ⋆ ࣪ 𝐀 𝐇𝐄𝐑𝐃𝐄𝐈𝐑𝐀 ˒˒ ↳ uma história original. Eve Duarte se viu tendo que aprender sobre a independência muito cedo. Trabalhando desde os quatorze anos de idade para conseguir sustentar ela e a t...