𝐢. 𝐓𝐇𝐄 𝐇𝐄𝐈𝐑𝐄𝐒𝐒. ! ༉ original

♛ 003.

Àquela definitivamente não era a minha casa.

Minha casa ficava em um bairro simples, com quatro cômodos e uma varanda velha - com os números 374 colados de forma torta, na porta de madeira. O castelo imenso à minha frente, poderia dar facilmente 200 vezes o tamanho do lugar que eu chamava de "casa".

E, acreditem se quiser: 200 vezes está longe de ser um exagero.

Buscando mais uma vez o ar escasso do ambiente para os meus pulmões, eu encarei a garota cacheada ao meu lado, que continuava sorrindo. Internamente, me perguntei se algo deixava Carmélia triste, já que aparentemente, ela só sabia sorrir.

Mas, por incrível que pareça, eu não disse nada. Já não tinha mais o quê perguntar e sabia que, mesmo se chegasse a fazer alguma outra pergunta, não teria respostas coerentes. Portanto, apenas permaneci calada, voltando minha atenção à frente.

Com a mão que estava depositada em meu ombro, Carmy me balançou de leve, como uma deixa para que eu começasse a andar, assim como os outros seis jovens, que avançaram até o portão - também - gigante.

Cassandra se encontrava do meu outro lado, enquanto os dois mais novos andavam tranquilamente em nossa frente e os outros garotos bem às nossas costas. Conforme meus passos me levavam para mais perto do castelo, eu analisava com cautela toda minha volta.

Reparei então, uma espécie de sala do lado de dentro, próxima à fechadura do portão. Se fosse uma ocasião normal, àquela poderia ser considerada a cabine de um porteiro - tal qual as dos prédios e condomínios que via em Chicago.

Zaniel foi quem tomou a iniciativa, tocando uma campainha na parte superior das grades pretas. E, em menos de um minuto, a janela escura da sala aleatória foi aberta e um senhor de feição estranha e cabelos grisalhos colocou a cabeça para fora.

Seu semblante se tornou ainda mais amargo ao se deparar com o sorriso ladino de Zaniel e dos outros adolescentes próximos à mim.

- Olá, senhor Hendersan! - Juan o cumprimentou, parando ao lado de Zaniel. - Sentiu nossa falta?

Pude ver pelo olhar entediado do tal "senhor Hendersan" que não, ele não sentiu a falta deles.

- Entrem antes que eu decida mudar de idéia e deixe vocês para os da noite usá-los como o jantar - respondeu de forma áspera o senhor, fechando a janela no segundo seguinte.

Um som agudo cortou o ar ao mesmo tempo que os portões se abriram de forma lenta, liberando aos poucos uma passagem de entrada. Novamente, segui os estranhos, cada vez mais preocupada com a situação bizarra em que me encontrava.

- Senhor Hendersan muito gentil, como sempre - Darlan murmurou atrás de mim. E, de repente, me lembrei que com toda certeza, ele deveria estar me odiando naquele minuto.

Suspirei.

Então, soltei:

- O que ele quis dizer com os "da noite?" - questionei, - pela milésima vez - confusa.

- Se preocupe com isso depois, Eve - Cassy respondeu, dando de ombros. - Por hora, vai ter coisas mais importantes para entender - completou de forma vaga, a voz calma sempre lhe acompanhando.

Quando dei por mim, já estávamos de frente à uma porta do tamanho das paredes, de coloração preta e os mesmos detalhes vermelhos estampando toda ela. Zaniel também foi o responsável por girar a maçaneta e consequentemente, o primeiro a adentrar o lugar.

As irmãs cacheadas não saíram do meu lado. Entrei entre as duas, diminuindo os passos à medida que me via dentro do castelo. E, de alguma forma, mais eu me convencia de que tudo não passava de um sonho.

Porque não tinha como tudo àquilo ser real.

- Puta merda - xinguei baixinho, o olhar correndo por todo o ambiente.

Se eu achava a parte de fora grande, por dentro era definitivamente sinistro. O carpete vermelho cobria todo o chão que era avistado, combinando perfeitamente com as paredes amadeiradas e a escada gigante depositada no meio do lugar.

Quadros pairavam nas paredes, os lustres clareando tudo com um toque luxuoso. Forcei meus pés a pararem, espantada com o que via. E, quis muito rir de nervoso, ao perceber que haviam mais adolescentes ali.

Muito mais.

Por todos os cantos.

Vários deles andavam de um lado para o outro, alguns rindo, outros apenas passando de forma sútil enquanto fingiam que não viam nada, nem ninguém.

- Fala sério - disse. - Só podem estar brincando comigo!

Levon surgiu à minha frente. Diante a luz forte do lustre, ele parecia ainda mais pálido e seus cabelos mais azuis. Se aproximando, o garoto parou ao estar próximo o suficiente das irmãs e eu.

- Leve-a até a rainha Roy, eu vou me juntar ao pessoal e avisá-los sobre a presença dela - começou, o olhar dividido entre as morenas. - Zan vai com vocês, pode ser?

- Sim - Cassandra disse. - Mas, eles não vão fazer nada - continuou, parecendo tentar se convencer. - Quer dizer, eles sabem quem ela é.

No meio deles, eu estava me sentindo uma idiota.

- Porque estão falando de mim, como se eu não estivesse aqui? - me intrometi. - E, quem vai fazer o que e como assim "eles sabem quem ela é"?

- Sabem quem ela é, mas continuam sendo sanguinários - o loiro retrucou, ignorando minha pergunta e também se aproximando, os braços cruzados e uma carranca no rosto. - Ainda mais ela sendo sangue fresco por aqui.

Senti um arrepio esquisito me invadir. Onde é que eu estava me metendo?

Mais uma vez, quis correr.

- Estão assustando ela! - Juan pareceu ler minha mente, surgindo ao lado de Darlan e o puxando pelo braço. - Fique quieto e vamos falar com os nossos também, Dar... não arrume confusão com ele agora.

Levon lançou um olhar sério para o loiro, que apenas concordou com o mais novo, saindo irritado atrás do mesmo. O azulado respirou fundo, encarando Zaniel em seguida.

- Vejo vocês depois - disse por fim. - E não me esqueci do seu pulso - ele sorriu para mim, já se distanciando. - Vou arrumar gelo para você!

Assenti, sem saber o que dizer ou fazer. Completamente perdida, apenas observei enquanto os três garotos se afastavam. Não aguentava mais a sensação de náusea que me abatia e após a adrenalina da surpresa passar, minha cabeça voltou a latejar.

- Vamos - Carmélia chamou. - Vamos acabar logo com esse suspense ridículo.

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